Nesta hora em que, pela voz do Papa Francisco, a Igreja me chama a deixar a Diocese de Setúbal, que sirvo, como bispo, há pouco mais de seis anos, para prestar idêntico serviço episcopal à Igreja de Deus em Leiria-Fátima, quero exprimir uma saudação amiga aos membros destas duas Igrejas, esperando ter ocasião de fazer chegar a cada uma delas, de forma mais pessoal, a expressão da minha gratidão, estima e esperança.
A minha entrada na Diocese de Leiria-Fátima ocorrerá a 13 de março. Até lá, continuarei em Setúbal, presidindo à vida da Diocese, como Administrador Diocesano. Depois da minha tomada de posse, o Colégio de Consultores da Diocese de Setúbal elegerá um novo Administrador Diocesano, o qual assumirá, com o apoio do próprio Colégio, o governo da Diocese, até que chegue o novo Bispo.
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Nesta ocasião, sinto um misto de sentimentos contrastantes, que não é fácil de exprimir, mas que posso resumir em duas atitudes, de Jesus e de Maria, pelas quais tenho procurado orientar a minha vida ao serviço do Evangelho. A carta aos Hebreus exprime a atitude e a missão de Jesus com as seguintes palavras: “Eis-me aqui para fazer a tua vontade” (Hb 10,7) e Maria, Mãe e modelo da Igreja, responde ao mensageiro de Deus declarando: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Foi procurando assumir essa disponibilidade que cheguei a Setúbal, há seis anos; e é com a mesma atitude que agora parto para Leiria-Fátima.
Por isso, caros irmãos e irmãs de Setúbal, parto, acima de tudo, com o coração cheio de gratidão a Deus e a vós, sacerdotes, diáconos, seminaristas, religiosos/as… tantas e tantos outros que dão vida a esta bela Igreja de Deus, na catequese, no meio dos jovens, no cuidado dos mais desprotegidos e fragilizados, bem como aqueles e aquelas que, nos cargos públicos e de tantas instituições civis, foram interlocutores e parceiros essenciais na tarefa comum de criar um futuro melhor para todos, sob a poderosa e carinhosa mão de Deus.
Foi um dom precioso ter-vos conhecido, ter trabalhado convosco, ter partilhado os tempos conturbados da pandemia e os sonhos da nossa Igreja, bem como dos homens e mulheres da nossa linda península de Setúbal. Levarei sempre comigo a memória agradecida do vosso acolhimento, participação e apoio. Aqui, convosco, aprendi a ser Bispo, embora com muitas deficiências, erros e falhas, de que vos peço perdão e que procurarei melhorar. Não nego que a partida me causa tristeza, não por mim, mas pelos projetos que estavam a surgir ou esperando melhores condições para serem lançados. Ficam nas mãos de Deus e confiados ao vosso discernimento e do próximo Bispo.
Uma coisa é certa: levo-vos bem no coração, com rostos, histórias, dramas e sonhos, pessoais, de Igreja e de missão. Será sempre um gosto acolher-vos em Leiria e em Fátima, onde pedirei que Maria, a Mãe de Jesus e da Igreja, seja sempre vossa intercessora e vosso modelo na escuta de Deus e na realização do seu projeto na Igreja de Setúbal e na transformação do mundo. E peço-vos que oreis também por mim ao Senhor de toda a Igreja.
Por essa razão, se é verdade que a partida comporta tristeza e saudade, não vou triste. Não me considero indispensável ou insubstituível, e muito menos com direito ao que quer que seja. Aprendi que a Igreja – pessoas e vidas – é para amar, cuidar e servir o melhor que se puder e souber, à imagem do Bom Pastor; não para possuir, dominar ou pôr ao seu serviço.
É com estes sentimentos e com verdadeira emoção, alegria e esperança que saúdo toda a Igreja de Leiria-Fátima, a começar pelo Cardeal D. António Marto, ao qual me liga uma grata amizade fraterna, nascida à sombra do Evangelho e no serviço da Igreja. Assumo com gratidão e como desafio a herança de pastor que ele me deixa, no seguimento de outros dedicados bispos, de quem D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva é testemunha, felizmente presente na Diocese.
A todos os irmãos e irmãs, com os seus presbíteros, diáconos, seminaristas, religiosos/as e com todas as pessoas que vivem, se comprometem e testemunham fé, em tantos modos, estendo um fraterno abraço, em nome do Senhor que me envia para o meio de vós como Bispo. Juntos procuraremos escutar o chamamento de Deus a toda a Igreja, convocada para um caminho sinodal de escuta, comunhão participada e missão. Terei também ocasião de vos saudar mais demoradamente e de aprender convosco a conhecer esta Diocese que, desde já, está bem gravada na minha mente e no meu coração.
Ao Pe. Carlos Cabecinhas, Reitor do Santuário de Fátima e a quantos com ele servem este local especial de referência para a Igreja e o mundo, dirijo uma saudação amiga, com muita alegria e esperança. Quando comecei o meu ministério episcopal em Setúbal, percorri a Diocese com a imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima que aqui estava de visita. Ela foi a minha primeira guia na missão que Deus me confiava. Agora, peço-lhe que me acompanhe nesta nova missão em Leiria-Fátima. Que ela nos ensine a todos a sermos uma Igreja modelada na sua atitude de Mãe carinhosa, atenta à Palavra de Deus. Aprendamos a ser uma Igreja cuidadora de todos, especialmente dos mais pequenos e frágeis como ela fez com os pastorinhos, aos quais se revelou, consolou, fortaleceu e deu esperança, para vencerem inúmeras dificuldades, como a pandemia, a doença, a guerra e a própria morte.
Que Maria, que acompanhou os discípulos de Jesus na oração, no acolhimento do Espírito Santo e na missão, acompanhe também hoje a nossa Diocese de Leiria-Fátima, na sua vida e na sua missão para renovar, pelo mesmo Espírito do Senhor, a Igreja e o mundo.
Saúdo-vos a todos fraternamente, no Coração do Senhor Jesus.
+ José Ornelas Carvalho
Bispo nomeado de Leiria-Fátima e Administrador Diocesano de Setúbal
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