O padre Étienne Pernet sofria com a desintegração das famílias proletárias de meados do século XIX e fazia tudo para as ajudar. A operária Antoinnete Fage foi a resposta ao seu sonho de fundar uma congregação que a isso se dedicasse inteiramente.
Enviadas a “reconstruir” as famílias
Étienne Pernet nasceu em 1836, numa aldeia do nordeste de França, e foi ordenado sacerdote na Congregação dos Agostinhos da Assunção, em 1858. Nessa época, marcada pelo início da industrialização, o êxodo rural fazia aumentar a população operária nas cidades, com os consequentes problemas sociais de aglomeração de uma classe pobre, desenraizada e discriminada. O padre Étiene era professor num colégio e ocupava-se também de um patronato de crianças vindas desse meio mais miserável. Ao visitar as famílias, apercebe-se da situação dramática em que vivem, sobretudo quando adoecia a mãe. Com o pai ausente na fábrica, muitos lares estavam destruídos, sem condições humanas e sem qualquer apoio social, postos à margem da sociedade e da Igreja, considerada naquela época muito ligada ao poder.
Esta desagregação familiar e o afastamento da Igreja interpela-o fortemente e faz com que a sua principal inquietação passe a ser encontrar uma forma de “reconstruir a família”. Sabe que o mal do mundo trabalhador, não é só o problema da miséria, da dependência, da incerteza, da sujeição à técnica e ao dinheiro, mas um drama espiritual: a perda de sentido da sua grandeza de filhos de Deus. Diria ele: “Para reconstruir a família, era preciso entrar nos seus lares e ser aí um sinal vivo da Igreja, revelar o amor de Deus através de um serviço simples e concreto, elevando esta classe à sua dignidade ajudando-a a tomar o seu lugar na sociedade e na Igreja para «refazer um povo para Deus»”.
A resposta numa congregação
Este era um trabalho que exigia um “exército” de mulheres consagradas, totalmente dedicadas a ir a esses lares cuidar das famílias, sobretudo quando faltava a figura da mãe, e mostrar-lhes que a Igreja estava presente como testemunha do amor de Deus.
Após alguns anos de procura, cruza-se no seu caminho Antoinnete Fage, nascida numa dessas famílias pobres e ela mesma operária desde a juventude. Também ela tinha a mesma preocupação e dedicava-se afincadamente a acompanhar e ajudar os mais pobres da sua classe. Apesar da fraca instrução religiosa da infância, sempre alimentou a fé em Deus e foi-se aproximando da Igreja, ao ponto de vir a dirigir um orfanato feminino da Ordem Terceira Dominicana. Mas a sua missão só encontrou verdadeiro sentido quando conheceu o projecto do padre Étienne.
Tocados pelo sofrimento humano e habitados pela força do Evangelho, juntos intuíram uma resposta: “Procurar a glória de Deus, pela salvação dos pobres e dos pequenos pelo caminho da Encarnação que seguiu Jesus, o Servo enviado do Pai”. E isto através de meios simples de serviço, estando presentes nas famílias nos momentos de dificuldade, da doença e da tristeza. Com um pequeno grupo de jovens enfermeiras, formam a primeira comunidade que, em 1865, se consolida como Congregação das Irmãzinhas da Assunção.
Reconhecida pelo direito pontifício em 1896, a Congregação tem como lema “Que vossos actos falem Jesus Cristo” e como carisma “ser presença e anúncio do Amor de Deus junto das famílias mais desfavorecidas”.
Pelo mundo
O dinamismo missionário da Congregação espalhou-se rapidamente por todos os continentes, como resposta aos apelos da Igreja, tornando vivo o carisma específico de viver e anunciar o Evangelho do amor e ternura de Deus aos mais carenciados da sociedade. Assim chegaram também a Portugal, em 1949, e à nossa diocese, em 1957.
Durante vários anos, as irmãs da comunidade de Fátima exerceram a sua acção pastoral na catequese paroquial, nos serviços do Santuário e em visitas e assistência a doentes ao domicílio e em instituições de idosos e deficientes. Actualmente, limitadas pela idade e pela saúde, assumem-se como “comunidade orante com um coração universal”, revela a superiora, irmã Anna Mertens, nascida na Bélgica há 77 anos e religiosa há 52. “A nossa casa, além de residência de irmãs de mais idade, é também o local onde nos reunimos para assembleias, retiros, tempos de descanso para as irmãs em actividades laborais missionárias e encontros com jovens.”
Fraternidades de Nossa Senhora da Assunção
Com o objectivo de dar continuidade à acção evangelizadora iniciada pela presença das irmãs nas famílias, criaram-se as Fraternidades de Nossa Senhora da Assunção, agrupando as famílias, dando-lhes formação humana e cristã.
Testemunho vocacional
Dentro de mim brota uma profunda alegria
A irmã Maria de Lurdes Mendes Pereira, natural de Valongo e com 46 anos de idade, residiu este ano na comunidade de Fátima, aproveitando um tempo sabático de formação. Pedimos-lhe um testemunho dos seus 18 anos de vida religiosa.
Sou a segunda de cinco filhos de uma família onde os valores cristãos estavam bem enraizados e se rezava diariamente em conjunto a oração da manhã e o Terço à noite. Dou graças a Deus pelos pais e família que me deu, pois essa oração familiar, a Missa dominical e a catequese foram o alimento para o crescimento da minha fé.
Na infância, conheci várias congregações que passaram pela minha paróquia e ouvi várias vezes a pergunta “que queres ser quando fores grande?”. Apesar de nenhuma delas me ter atraído, essa pergunta ressoava muito forte dentro de mim e terão sido esses encontros a despertarem o “germe” da vocação.
Aos 17 anos, conheci as Irmãzinhas da Assunção num encontro de jovens e senti acender-se uma luz muito forte no coração. Mas continuei a estudar, fiz o curso de cozinha e de costura e, aos 19 anos, empreguei-me numa fábrica de componentes para automóveis. Durante 5 anos, conciliei o trabalho, o curso e alguns encontros de jovens com as irmãs, onde consolidava a minha vocação…
Aos 23 anos, decidi dar o passo decisivo: deixei o trabalho, a família e os amigos e entrei na comunidade do Porto, onde fiz os primeiros anos de formação académica e conhecimento da espiritualidade e carisma da Congregação. Em 1997, fiz a minha 1.ª Profissão Religiosa, passando a trabalhar junto das famílias mais desfavorecidas, infantários e catequese da paróquia.
Depois dos votos perpétuos, em 2004, fui enviada em missão: 5 anos em Espanha e 7 no Congo. Foi a realização de um sonho de infância e sinto uma alegria imensa por ter dado uma parte da minha vida ao serviço deste povo africano, uma vida de entrega sem reservas que fez com que outros sentissem a felicidade de serem reconhecidos na sua dignidade como pessoas. Dentro de mim brota uma profunda alegria, que me impulsa a seguir em frente esta aventura, que se renova cada dia na Eucaristia e na oração pessoal e comunitária. Foi um tempo de serviço e de doação que exigiu de mim uma aprendizagem de partilha, de escuta, de amar e ser amada, como caminho de anúncio do amor de Deus presente em cada ser humano.
Esta experiência ajudou-me a abrir novos horizontes, a descobrir uma realidade junto de um povo concreto, a descobrir rostos de pessoas que lutam, que sofrem, mas que nunca perdem a fé nem a alegria de viver. Sinto que me fez crescer mais na adesão a Jesus Cristo, percebendo em cada pequeno gesto de acolhimento, partilha e fidelidade que ainda é possível cultivar esses valores que parecem estar esquecidos por muitas pessoas.
Este ano, tive a oportunidade de passar algum tempo de convívio, partilha e ajuda fraterna às minhas Irmãs da Comunidade de Fátima, reforçando com alegria a nossa comunhão e união fraterna. Agora, preparo-me para uma nova missão, desta vez rumo a Burkina Faso.
O anúncio do Evangelho é a expressão mais sublime do amor ao próximo. Foi através deste amor que me senti chamada a abrir o coração e dizer como Maria: “Eis-me aqui, Senhor, para fazer a tua vontade”. Sinto-me feliz!
Ir. Maria de Lurdes Pereira
Números
No mundo
Casas: 110
Membros: 732
Em Portugal
Casas: 2
Membros: 14
Na Diocese
Casas: 1
Membros: 9 (3.ª idade)
Mais nova: 69 anos
Mais velha: 92 anos
Média etária: 84 anos