Primeiro nasceu a Obra dos Santos Anjos, em 1949, em Innsbruck, no Tirol (Áustria). O desejo de consagração de alguns dos seus membros leva à restauração da Ordem dos Cónegos Regrantes da Santa Cruz, em 1979. Mas a fundadora da Obra, Gabriele Bitterlich, já em 1967 havia escrito uma Regra para aquele que seria o ramo feminino, erigido canonicamente apenas em 2002: a Comunidade das Irmãs da Santa Cruz.
“Com os Santos Anjos”,
adoração e ação pelos sacerdotes
Tudo começou com as experiências interiores de Gabriele, simples dona de casa, que desde a infância desenvolveu especial intimidade com o seu Anjo da Guarda e cuja espiritualidade a conduziu a uma união cada vez maior com o mistério de Cristo crucificado. Em 1949, o seu confessor achou que este não era um mero caminho individual, mas uma oferta de graça dirigida à Igreja, pelo que lhe pediu que passasse essa experiência a escrito.
Rapidamente começou a surgir em seu redor um grupo de fiéis devotos dos Anjos, entre eles sacerdotes e seminaristas, e começam a circular textos relacionados com este movimento, que viria a ser a grande Obra dos Santos Anjos.
Em diferentes países formam-se pequenas comunidades de irmãs para levar uma vida ligada por votos ao espírito da Obra. A sua regra foi escrita pela própria “Mãe Gabriele”, aprovada em 1967 pelo arcebispo de Salzburgo para sua diocese e em 1970 pelo bispo de Friburgo para todas as comunidades. Mas só em 2002 a Comunidade das Irmãs da Santa Cruz foi erigida canonicamente como instituto de vida consagrada na diocese de Innsbruck, na mesma família espiritual da Ordem dos Cónegos Regrantes da Santa Cruz.
Carisma
A Comunidade assume uma forma de semi-clausura, com algumas casas mais vocacionadas para a contemplação e outras para a vida apostólica ativa. Mas o lema “Com os Santos Anjos” é comum, tal como a centralidade da missão de “adoração a Deus e ajuda para os sacerdotes”, professando o mistério da Cruz como caminho de redenção.
A superiora da comunidade de Fátima, irmã Maria da Glória, explica que “procuramos realizar isto por meio da vivência de quatro direções fundamentais: a adoração; a contemplação e a transformação da Palavra de Deus em ação; o seguimento da Cruz em espírito de expiação; e a Missão de servir”. E dedicam-se em especial ao Santo Padre, aos bispos e aos sacerdotes, “principalmente no apoio espiritual, através da oração, do sacrifício e da vivência da união com Deus, tal como no âmbito doméstico e administrativo, no trabalho dos retiros espirituais; na pastoral da família, das crianças e da juventude”.
Na Diocese
Numa passagem pela casa-mãe do instituto, na Áustria, o antigo bispo de Leiria D. João Venâncio mostra grande apreço e desejo de trazer essa espiritualidade para a sua diocese. Mas será já o seu sucessor, D. Alberto Amaral, a ver surgir a comunidade em Fátima, em 1976. Atualmente, esta casa tem como finalidade principal a formação das noviças, acolhendo também retiros e grupos de peregrinos.
O centro de cada dia é a celebração da Eucaristia, ligada à adoração eucarística, ao ofício e ao rosário. “Os Santos Anjos são modelo para nós no seu indiviso culto divino e no seu empenho para a salvação dos homens”, refere a superiora.
Nessa linha, iniciaram em 2003 a Adoração Perpétua na sua igreja, dedicada ao Anjo de Portugal, onde se juntam às irmãs cerca de 160 adoradores leigos e sacerdotes de várias paróquias, distribuídos por grupos pelas noites de cada mês. Alguns “adoradores” de mais longe pernoitam na casa de hóspedes da Comunidade e todos têm acompanhamento espiritual de um sacerdote da Ordem da Santa Cruz e de uma irmãs. Duas vezes ao ano, encontram-se para um dia de aprofundamento espiritual.
Testemunho vocacional
Deus é quem opera em nós o querer e o poder
Chamo-me Maria da Glória da Silva e nasci no Brasil, em 1958. Fui criada num ambiente familiar simples e aconchegante.
As primeiras lembranças que conservo do despertar vocacional ocorreram pelos 10 anos, ao ver uma das minhas primas ingressar no convento das Irmãs Dominicanas. O tempo passou e, aos 20 anos, novamente senti despertar em mim este desejo de consagrar-me a Deus. Mantinha contacto com as Irmãs Canossianas para um discernimento vocacional, acompanhando-as em alguns trabalhos na paróquia e com jovens. Pensei em ingressar nesse instituto religioso, mas entretanto conheci a comunidade das Irmãs da Santa Cruz, na qual senti que era ali para onde Deus me chamava. E com muita alegria respondi ao seu chamamento: ingressei numa comunidade em São Paulo, aos 25 anos de idade.
Ao longo da formação, a minha vocação foi-se aprofundando. Em 1989 fiz os meus primeiros votos religiosos. O nosso carisma tem como centro a Eucaristia e a meditação da Paixão de Jesus, bem como a divulgação da devoção aos Santos Anjos e também somos chamadas a rezar e oferecer o nosso serviço e sacrifícios, especialmente pelos sacerdotes.
Procurei sempre servir e amar a Deus com alegria, a exemplo de Nossa Senhora, nosso modelo na vida consagrada. Em 1998 fiz os meus votos perpétuos e celebrei há pouco os 25 anos de consagração religiosa. Tenho vivido estes 25 anos na certeza de que Deus é quem opera em nós o querer e o poder. Há dois anos, foi-me confiada a missão para Portugal na nossa casa de Fátima. Procuro viver cada dia neste espírito de gratidão e alegria pela grande graça da vocação.
E agora, aos pés de Nossa Senhora de Fátima, posso unir-me a ela no seu “magnificat” e cantar com todo o coração: “O Senhor fez em mim maravilhas, Santo é o seu Nome!”
Ir. Maria da Glória | Superiora da comunidade de Fátima
Obra dos Santos Anjos
O movimento eclesial da Obra dos Santos Anjos (OA) surgiu a meados do século passado, com a intenção de aprofundar o conhecimento e a devoção aos Anjos e ao seu papel na vida e missão da Igreja. O seu objetivo é “guiar os seus membros para a perfeição da vida cristã no caminho do seguimento de Cristo na companhia dos santos Anjos, com os quais adoram o Deus três vezes Santo, e de dedicação à santificação das almas, especialmente dos sacerdotes”. Nessa linha, a devoção do mistério pascal de Cristo logo se tornou uma característica central, e a Virgem Maria, o modelo para a vida interior dos seus membros.
Números…
…no mundo
Casas: 13
Membros: 197
…em Portugal
Casas: 2
Membros: 28
na Diocese
Casas: 1
Membros: 16 irmãs com votos perpétuos, 3 Noviças e 2 aspirantes
Mais nova: 21 anos
Mais velha: 95 anos
Média de idades: 40 anos