Uma pessoa minha amiga, amargurada com a doença grave de um familiar ainda jovem, perguntou-me “que conforto se pode dar nestas situações tão difíceis”. Respondi-lhe que o principal é a presença confiante, escutar o doente compassivamente, partilhando a sua dor e angústia e cuidar com amor. Com delicadeza e respeito, anime-se o doente a manter a confiança, mesmo nos momentos e situações mais sombrias, e a lutar por viver. Depois, rezar por ele e com ele, se tem fé e aceita, ou ficar em silêncio junto dele, conforme as situações. A quem O invoca e O escuta, Deus dá a graça e inspira as atitudes e palavras certas para se viver na esperança o drama da doença e ajudar quem a padece.
Há salmos (6; 38/37; 88…) e textos bíblicos (Is 38, 1-21…) em tom de lamento que nos oferecem as palavras para dizer as nossas dores e procurar conforto. Lembro apenas dois relatos bíblicos.
O primeiro é o caso do rei Ezequias (Is 38, 1-21). “Adoeceu de uma enfermidade mortal” e o profeta Isaías foi visitá-lo, dizendo-lhe para fazer o testamento, pois iria “morrer muito brevemente”. O rei não se conformou e rezou: “Senhor, lembra-te que tenho andado fielmente diante de ti, com um coração sincero e íntegro, pois fiz sempre a tua vontade”. E “começou a chorar, derramando lágrimas abundantes”. Deus enviou-lhe então o profeta Isaías com a mensagem: “Ouvi a tua oração e vi as tuas lágrimas; vou acrescentar à tua vida mais quinze anos”. Depois, Isaías mandou tratar do doente, pois ficaria curado. Grato pela sua cura, o rei faz uma oração em que evoca a sua dramática experiência e diz: “Aqueles que o Senhor protege vivem, e entre eles viverei também eu. Tu me curaste, ó Deus, e me conservaste a vida. A minha amargura converteu-se em paz, quando preservaste a minha vida do túmulo vazio; lançaste para trás de ti todos os meus pecados.”
Diferente é o caso do rei David (2 Sm 12, 15-24). O seu filho adoeceu gravemente. “David orou a Deus pelo menino; jejuou e passou a noite prostrado por terra. Os anciãos da sua casa, de pé junto dele, pediam-lhe que se levantasse do chão, mas ele não o quis fazer. Ao sétimo dia, morreu o menino, e os servos do rei temiam dar-lhe a notícia”. Pelo cochicho, David percebeu que o menino morrera. “Então, levantou-se do chão, lavou-se, perfumou-se, mudou de roupa e entrou na casa do Senhor para o adorar. De volta à sua casa, mandou que lhe servissem a refeição e comeu. Os seus servos disseram-lhe: «Que fazes? Quando o menino ainda vivia, jejuavas e choravas; agora que morreu, levantas-te e comes!» David respondeu: «Quando o menino ainda vivia, eu jejuava e orava, pensando: ‘Quem sabe se o Senhor terá pena de mim e me curará o menino?’ Mas agora que morreu, para que hei-de jejuar mais? Posso, porventura, fazê-lo voltar à vida? Eu irei para junto dele; ele, porém, não voltará mais para junto de mim». Depois, David teve outro filho, Salomão, denominado “o amado do Senhor”.
A oração de David não impediu o filho de morrer, mas deu ao rei a capacidade de aceitar a perda e ficar em paz, enfrentando e assumindo a sua vida e família com confiança e generosidade.
Outra ajuda da fé cristã na doença é a Santa Unção. Através deste Sacramento, pela oração da Igreja e a unção com o óleo santo, pede-se a Deus “para remediar os males” dos seus fiéis doentes, consolá-los nas suas dores e serem “livres de toda a enfermidade”. Este apoio espiritual é importante e não pode ser ignorado nem temido, mas oferecido. Pode celebrar-se mais do que uma vez na vida e até na mesma doença. Uma das vezes em que a administrei à minha mãe, ela melhorou notavelmente e viveu mais uns anos.
A fé e a espiritualidade são ajudas imprescindíveis em toda e qualquer doença. Com elas a família pode enfrentar o drama da doença e encontrar conforto e paz. A quem O invoca e O escuta, Deus dá a graça e inspira as atitudes e as palavras certas para se viver na fé e na esperança o drama da doença e ajudar quem a padece.