Como criança no colo da mãe

Leio atentamente o exemplo da abertura de Job à vontade de Deus, que, de modo tão absurdo para o orgulho humano, parece tê-lo abandonado às fúrias da inveja de Satanás.

Manhã cedo, ainda escuro, pressentindo mais um dia climatericamente indeciso, andava à procura de um poema que me ajudasse a pensar no Outono em termos mais optimistas do que os que habitualmente falam desta quadra do ano, quando chegou a pessoa que vinha ajudar-me a terminar o arranjo matinal: 

– Bom dia, procurei responder com um cordial e sincero agradecimento interior, a preparar o meu espírito para que o “muito obrigado” da despedida, alguns minutos depois, fosse ainda mais sincero.

Entre uma coisa e outra, o esforço por não me sentir humilhado, quando estava a fazer, mais uma vez, a experiência do cuidado, direi mesmo do carinho, para além da competência profissional, com que me tratam: quase sem iniciativa, inerme, como uma criança… Coomo foi longo caminho que tive de  percorrer para alcançar o enorme conteúdo das recomendações de Jesus: “Em verdade vos digo: Se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, não entrareis no reino dos Céus”!

Rezar os textos e as circunstâncias, para descobrir o que para cada uma delas eles contêm. Para perceber que entre nós e Deus só existem as divisórias que nós próprios criamos.

Depois lembrei-me de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, mais conhecida por Santa Teresinha: que figura, meu Deus! Vinte e quatro anos, quase metade vividos no convento, sem brilho, dedicando-se totalmente às tarefas que lhe encomendavam, com a única preocupação de ser o coração vivo da Igreja, latejando de amor pela salvação das almas!  

Ser o coração da Igreja, porque, pensou ela a certo momento, não encontrava no Corpo Místico de Cristo outro ministério que lhe fosse adequado. E foi-o com tanta fidelidade, que, levando Papa a prescindir da lei canónica então vigente, mereceu ser canonizada poucas décadas após a sua morte, e, ela, que nunca saíra do convento, ser proclamada Padroeira universal das Missões. Cem anos depois, Doutora da Igreja; na altura a terceira mulher a receber tal designação.

Puxo por mim, refreando a memória e a imaginação, porque chegou o momento de celebrar a Eucaristia, com as limitações que também tenho de integrar no meu propósito de seguir o tal conselho do Mestre: “Se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, não entrareis no reino dos Céus”.

Leio atentamente o exemplo da abertura de Job à vontade de Deus, que, de modo tão absurdo para o orgulho humano, parece tê-lo abandonado às fúrias da inveja de Satanás. É ainda acolher o Reino de Deus como uma criança. Por isso me estremece o coração quando leio, releio e medito o Salmo Responsorial

“Senhor, não se eleva soberbo o meu coração,
nem se levantam altivos os meus olhos.
Não ambiciono riquezas,
nem coisas superiores a mim.
Antes fico sossegado e tranquilo,
como criança ao colo da mãe.
Espera, Israel, no Senhor,
agora e para sempre.
Como criança ao colo da mãe!

Da mãe, ou de qualquer outra pessoas que pega em  mim, para que a minha velhice seja mais de acordo com a dignidade que o Criador quis para mim, quando me confiou aos meus pais: pais e não progenitores, como o Estado quer agora que sejam designados aqueles que são os primeiros cúmplices do amor infinitamente gratuito de Deus para com cada um de nós.

Como criança ao colo da mãe!

Repete o meu coração agradecido.

Sobre este salmo escreve, entre outras coisas, Santo Agostinho: “Nenhum cristão há de esperar ou confiar, se o seu nome não estiver escrito no céu. Estão escritos no céu os nomes dos fiéis que amam a Cristo e andam com humildade pelo caminho que Ele ensinou, que crêem em Cristo e amam a sua paz.

Até chegarmos â eternidade, esperamos no Senhor. Quando chegarmos, acabará a esperança e teremos a realidade.” (Trad. do SNL) 

Leio na biografia de Santa Teresinha, que ela, um dia, apontado para céu estrelado, terá gritado para o pai: olha o meu nome escrito no céu! Não é evidentemente disto que fala o santo bispo de Hipona; mas podemos ver aqui uma certa premonição.

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