Colaboradores do Espírito Santo para sermos a Igreja que Deus quer hoje

Homilia na abertura da fase diocesana do processo sinodal.
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Colaboradores do Espírito Santo para sermos a Igreja que Deus quer hoje

Homilia na abertura da fase diocesana do processo sinodal

“Vós sois os Corpo de Cristo e seus membros e cada um, pela sua parte, é um membro”: comunhão e participação

A comparação da comunidade cristã com o corpo humano é pedagógica e eloquente para compreender o sentido da Igreja e da nossa pertença comum. Se estamos unidos na Igreja não é por razões sociológicas de uma associação, nem psicológicas ou por eficácia de empresa. Estamos unidos em Igreja porque “todos fomos batizados num só e mesmo Espírito para formarmos um só corpo e nos foi dado beber dum só Espírito”. Pelo batismo todos e cada um estamos inseridos numa comunhão tão íntima de vida com Jesus Cristo Vivo que formamos com Ele e n’Ele o seu Corpo Místico. Devemos, pois, sentirmo-nos membros de Cristo-cabeça e também membros uns dos outros para a edificação da Igreja animada pelo Espírito Santo: todos e cada um membros vivos, participantes, corresponsáveis e indispensáveis, com a mesma dignidade e na diversidade de dons, carismas, serviços e ministérios que o Espírito Santo distribui. É o Espírito Santo que cria a diversidade, mas é também Ele que dá harmonia e unidade à diversidade.

Ser homens e mulheres da Igreja significa ser homens e mulheres de comunhão e participação; é pedir ao Espírito Santo que sintamos a Igreja como nossa família e casa comum, acolhedora a aberta a todos: é procurar que a unidade não abafe a diversidade, nem a diversidade (pertencer mais ao grupo do que à Igreja…) sufoque a unidade.

Eis, pois, o Espírito Santo como o protagonista principal e o batismo como o fundamento do caminho sinodal.

“Não seja assim entre vós… O Filho do Homem veio para servir”: discernimento e missão 

O Evangelho mostra como Jesus caminha com os apóstolos, escuta a petição presunçosa dos dois irmãos, Tiago e João, apoiados pela mãe; a discussão acalorada que se desencadeou entre os outros apóstolos pela ambição de lugares de honra, privilégios, prestígio, fama, poder e grandeza. Uma rivalidade que gera divisão e conflito na comunidade apostólica: de dois contra dez e de dez contra dois! No meio desta confusão, no diálogo, Jesus ajuda-os a fazer o discernimento, a descobrir aquilo a que o seu coração está agarrado e ilumina-o à luz da sua entrega até à cruz. Podemos sintetizar isto em duas expressões. 

“Não deve ser assim entre vós” – estas palavras que ressoam em toda a Igreja de todos os tempos. Também para a Igreja hoje como advertência face à tentação permanente e, direi mesmo, à doença da autorreferencialidade duma Igreja que viva fechada em si mesma (na bolha das suas questões internas), de estilo clerical, contagiada por modelos mundanos e que esquece a missão. 

 A segunda expressão “O Filho do Homem veio para servir e dar a vida pela redenção de todos” evoca as palavras de Jesus no lava-pés da última ceia: “Eu estou no meio de vós como aquele que serve”. São palavras que contêm o sentido da missão de Jesus, caraterizada pela doação total da sua vida ao serviço dos homens, para que tenham vida. A Igreja escuta-as neste dia da abertura do caminho sinodal com particular intensidade e humildade. Escuta-as como convite a reavivar a consciência da sua missão de estar toda em estado permanente de serviço ao evangelho e às pessoas concretas.

O caminho do serviço é o antídoto mais eficaz contra a doença da busca dos primeiros lugares, doença que contagia muitos contextos humanos e não poupa os cristãos, nem sequer a hierarquia eclesiástica. Portanto, como discípulos de Cristo acolhamos este evangelho como apelo à conversão pessoal e pastoral, para testemunhar com humildade, generosidade e audácia uma Igreja que se inclina aos pés dos últimos, frágeis, feridos, sofredores, sós descartados, para os servir com amor e simplicidade com proximidade, compaixão e ternura, uma Igreja samaritana, sacramento do cuidado e da cura, sacramento da fraternidade e da amizade social de que o nosso mundo precisa.

Confiemos na força do Espírito Santo que é capaz de renovar a face da terra e a face da Igreja. Invoquemo-lo.

Vinde ó Espírito Santo, vinde!
Enchei o coração dos vossos fiéis,
enchei o coração de cada um e cada uma de nós.
Acendei nele a luz e a inspiração da vossa sabedoria
e o fogo ardente do vosso amor,
para percorrermos o caminho sinodal com entusiasmo
e discernirmos as melhores opções pastorais, caminhos e linguagens novos
para sermos a Igreja que Deus nos chama a ser,
capaz de responder à complexidade deste tempo
e dos grandes desafios ao anuncio do Evangelho.

Sé de Leiria, 17.10.2011

Cardeal António Marto

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