Caminho Neocatecumenal

Tudo começou com uma “crise existencial”. O pintor espanhol Francisco (Kiko) Argüello via na injustiça do sofrimento dos mais degradados da sociedade um dilema: ou Deus era impotente para os ajudar, ou então era mau por não querer ajudá-los.

Rapidamente descobriu que a resposta não estava nessa formulação, mas sim no mistério de Cristo crucificado que eles encarnavam. Por isso, decidiu seguir o exemplo de Charles de Foucauld: deixou tudo e foi viver para as barracas de Palomeras Altas, nos arredores de Madrid, com os mais pobres, analfabetos, vagabundos, ladrões, prostitutas, jovens delinquentes… O resto foi trabalho da providência divina.

Estávamos no início dos anos sessenta. Kiko vivia com os pobres, em contemplação e silêncio, não para os ensinar a ler ou dar-lhes de comer, mas para testemunhar com a sua presença que Cristo não os abandonava. Numa barraca, aquecido pelo calor dos cães que ali dormiam, munido de uma Bíblia e uma viola, foram essas as armas que suscitaram a curiosidade e a aproximação dos vizinhos de favela.

É nesse ambiente “radical” que se cruza com Carmen Hernandez, formada em química, que tinha “bebido” a proposta de renovação do Concílio Vaticano II e fora convidada pelo arcebispo de Madrid, D. Casimiro Morsillo, a trabalhar na “nova evangelização”. Ao início, ela desconfia daquele “estranho”, mas aos poucos descobre que ambos seguiam o mesmo objectivo. Juntos irão, então, elaborar uma síntese kerigmática (de anúncio/proclamação), uma catequese que será a espinha dorsal deste processo de evangelização de adultos: o Caminho Neocatecumenal (CN).

Foi uma “semente de mostarda” que os pobres acolhiam com imensa gratidão e que a Igreja, por meio de D. Morsillo, rapidamente defendeu, abençoou e reconheceu como uma verdadeira ação do Concílio, mandando que levassem a outras paróquias de Madrid esta proposta de iniciação cristã baseada na escuta da Palavra, na celebração da liturgia e na vida em comunidade de irmãos.

A semente rapidamente cresceu e são hoje mais de 20 mil comunidades em cerca de 6.300 paróquias, 1.500 dioceses e 124 países dos cinco continentes.

Redescobrir o Batismo

O nome significa a sua essência: um caminho de catequese que parte da renovação das promessas batismais, rumo a uma fé adulta e comprometida com a realidade das comunidades em que vive cada cristão. Um caminho de iniciação cristã e de educação permanente da Fé para adultos que descobre e recupera a riqueza do Batismo, válido tanto para quem quer aprofundar a fé, como para quem dela se afastou e quer voltar a encontrá-la.

Desde o seu início, o CN recebeu apreciação favorável dos diferentes Papas, especialmente João Paulo II, que o reconheceu oficialmente, em 1990, como “um itinerário de formação católica, válida para a sociedade e para os tempos de hoje”. Sobre ele, diria também: “Desejo vivamente que os irmãos no episcopado valorizem e ajudem – com os presbíteros – esta obra a favor da nova evangelização, para que ela se realize segundo as linhas propostas pelos iniciadores, em espírito de serviço ao Ordinário do lugar e em comunhão com ele, e no contexto da unidade da Igreja particular com a Igreja Universal”.

Diversos carismas

Mas já antes este Papa tinha confiado ao CN a missão de reenvangelizar o norte de Europa, ao enviar as três primeiras “famílias em missão”, um dos carismas dele saídos, no ano de 1986. São famílias missionárias acompanhadas por um presbítero, hoje mais de 850 por todo o mundo, que se oferecem para ir onde um bispo sinta a necessidade do testemunho de vida cristã.

No mesmo ano, o Papa acolhia a proposta de se instituir em Roma um seminário missionário diocesano para a formação de presbíteros para a “nova evangelização”, com formação através do CN. Numerosos bispos foram seguindo esse exemplo, sendo hoje cerca de uma centena de seminários em todo o mundo, incluindo três em Portugal. Desde 1990, já foram ordenados nos “Seminários Redemptoris Mater” mais de 1.700 presbíteros e neles se preparam mais de 2.100 seminaristas.

Já com Bento XVI, em 2006, nascia outra forma de evangelização do CN, ao enviar os primeiros sete grupos “missio ad gentes”, cada um constituído por um presbítero e três ou quatro famílias com numerosos filhos que, a pedido do bispo, vão para zonas descristianizadas ou pagãs tornar presente o testemunho de uma pequena comunidade cristã. Este Papa iria enviar mais 30 até 2012.

Mas o tamanho dos grupos enviados iria crescer ainda mais. A 10 de janeiro de 2009, por ocasião dos 40 anos do nascimento da primeira comunidade em Roma, Kiko apresentou ao Santo Padre as primeiras 14 comunidades da cidade, que já tinham terminado o itinerário neocatecumenal e estavam dispostas a ir em missão para os bairros difíceis da periferia. Nasciam as “communitates in missionem”, comunidades inteiras que se mudavam para ir viver nas áreas mais degradadas e descristianizadas.

À conversa com António Casal

O Caminho na diocese de Leiria-Fátima

2014-11-05 OSE Caminho Neocatecomunal Antonio CasalO Caminho Neocatecumenal (CN) está em Portugal há cerca de 50 anos, tendo começado com a equipa fundadora na Penha de França, em Lisboa. À diocese de Leiria-Fátima chegou em 1991, mais propriamente à paróquia dos Marrazes, pela mão do cónego António Gameiro. Um dos convidados para o grupo inicial foi António Casal, na altura com 35 anos, casado e pai de dois filhos pequenos. É atualmente um dos responsáveis diocesanos, função que encara como “serviço à comunidade, à paróquia e à diocese”.

“A Sé de Leiria foi a primeira a quem foi proposto o Caminho, mas Deus sabe porque não foi aí que começou”, recorda. Mas sublinha que, seja onde for que esteja, “está ao serviço do Bispo como uma das modalidades de realização diocesana da iniciação cristã e da educação permanente da fé”. E é nesse espírito que “vai até onde o Bispo permitir que chegue”.

Para além da formação intensa e do testemunho de celebração da fé e crescimento humano e espiritual em comunidade, o CN dá esse contributo de forma mais visível ao “evangelizar pelas praças a seguir à Páscoa e ajudar os padres das paróquias que pedem a catequese de adultos”.

Quem e como poderá aderir? Este responsável responde: “É preciso participar nos encontros (catequeses); a partir dos 13/14 anos, qualquer pessoa, seja qual for a situação civil em que se encontre, pode participar. Depois, podem continuar caminhando numa comunidade; se não, acabam aí a caminhada”.

Pedimos-lhe um testemunho pessoal de vivência no CN e o enriquecimento familiar que aí experimenta. “O que o CN trouxe à minha vida foi uma nova visão sobre o amor de Deus que liberta o homem do pecado e do medo da morte, salvando-o a cada momento. Esta forma de educar tem produzido imensos frutos no seio das famílias: umas regeneradas, outras constituídas por meio desta pedagogia da Igreja. Esta ação passa pela celebração da Eucaristia na 1.ª tarde de domingo, onde as crianças que já tenham feito a primeira comunhão participam ativamente; na manhã de domingo, a família reúne-se à volta da mesa, reza as Laudes e aí transmite-se a fé aos filhos, com base na palavra escutada. Escusado será dizer que, com esta pedagogia, a criança aprende a ser um bom ouvinte e um bom participante, porque desde tenra idade é treinada para saber escutar e saber participar com assertividade”. 

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