Assembleia Sinodal Diocesana: apresentadas as primeiras conclusões em ordem à síntese

O coordenador da equipa diocesana para o Sínodo dos Bispo, padre José Augusto Rodrigues, partilhou as primeiras conclusões do processo sinodal iniciado a nível diocesano a 17 de outubro de 2021.

A Assembleia Sinodal Diocesana em Leiria-Fátima terminou como começou, sob o signo da luz e da esperança, de novo na Sé de Leiria, a 22 de maio, com os delegados paroquiais e dos movimentos e serviços da diocese a acenderem na eucaristia de encerramento da fase diocesana as velas sinodais que tinham recebido na sessão inaugural, agora já gastas. Isto depois de todo o dia anterior, sábado, 21 de maio, no Seminário Diocesano de Leiria, ter sido dedicado a reuniões sinodais, preparadas para que os contributos dali resultantes pudessem ser mais um contributo para a Síntese Diocesana final. 

Assim, ao final da tarde de domingo, a anteceder a eucaristia, teve lugar, na Sé de Leiria, a sessão solene, presidida pelo bispo diocesano, D. José Ornelas, no dia em que a diocese celebrava o aniversário da sua criação, coincidente com o dia da cidade de Leiria. 

O coordenador da equipa diocesana para o Sínodo dos Bispo, padre José Augusto Rodrigues, partilhou as primeiras conclusões do processo sinodal iniciado a nível diocesano a 17 de outubro de 2021.

VÍDEO
https://youtu.be/vI1F9Kc9NEk

“Não é um texto bonito com algumas ideias que eu acalento sobre a nossa diocese. O conteúdo desta intervenção não me pertence”, começou por referir o padre José Augusto para explicar que as primeiras conclusões que ali iam ser apresentadas resultavam dos contributos dos participantes nos encontros sinodais.

Explicou também que com o encerramento da fase diocesana, com a entrega da Síntese Diocesana à Conferência Episcopal Portuguesa, encerrará efetivamente a fase a nível local, mas o processo sinodal terá continuidade. Isto porque, disse, “esta caminhada sinodal não é um acontecimento circunstancial da Igreja universal, mas é uma oportunidade para avivar em nós aquilo que ela tem de mais rico, belo e essencial”. 

Depois de um rápido percurso de memória sobre as principais atividades desenvolvidas a nível diocesano e pelos delegados sinodais em ordem à persecução do processo sinodal a nível local, o padre José Augusto Rodrigues, apresentou as primeiras conclusões e propostas resultantes dos contributos da consulta.

Os contributos recebidos apontavam “dificuldades em caminhar juntos, uma vez que quem participa são sempre os mesmos, em alguns casos revelando-se um caminho individual, com dificuldades de vivência cristã, especialmente nas famílias” e reconhecem que “um dos grupos mais afastado da Igreja é o dos jovens”, que “não sentem motivação e consideram que a religião não é uma dimensão importante para as suas vidas”. Aos jovens juntam-se os que “se desencantaram com a Igreja de hoje e não se reveem nela, ou mesmo que não se sentem acolhidos e aceites”. A proposta passa, de acordo com os contributos recebidos, por um “contacto mais pessoal”, pela “criação de espaços de diálogo, retiros, encontros formativos”, com o fomento do “acolhimento e a cultura do convite”. “Não podemos ter uma pastoral de massas, anónima, com soluções idênticas para todos. Só com proximidade quotidiana se pode ajudar cada um dos membros da comunidade a construir uma relação gratificante, verdadeiramente salvífica, com Deus e com os irmãos. Se os sacerdotes não podem, humanamente, chegar a todos, os leigos têm de se sentir responsabilizados para essa missão. A criação de equipas de acolhimento nas comunidades, interagindo com o mundo da cultura e deitando mão de novas linguagens para chegar a todos, foram outras tantas das propostas recebidas”.

“A coerência, fruto de uma vida cristã comprometida, é, em geral, apontada como uma das formas mais fortes e mais necessárias para falar e agir com coragem, franqueza e responsabilidade”, este foi um repto deixado especialmente às hierarquias da Igreja, sublinhou o padre José Augusto.

Nas reflexões recebidas “é reconhecida a necessidade de se ouvirem mais os leigos, pela necessidade – dada a redução de vocações eclesiais – e pela misericórdia e fraternidade em Cristo que une padres e leigos”. De forma especial, sublinhou-se a necessidade de “escutar as mulheres e os jovens, como premência que emana da realidade do mundo em que vivemos”. 

Dos contributos recebidos perpassou também um apelo “à necessidade de os párocos se abrirem a um esquema de porta aberta para direção espiritual, em tempos de cartório ou para além dele”.

Os grupos sinodais, referiu o coordenador, deram “particular relevo às intervenções que as comunidades cristãs têm no contexto da pobreza, desde as Conferências de S. Vicente Paulo, a Cáritas e as mais diversas iniciativas de solidariedade”, mas mostraram também que há ainda “contextos e realidades em que o povo de Deus não se mistura com o mundo”. 

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https://youtu.be/OEyU1q_mFS4

A proposta dos diocesanos passa pela criação de ocasiões e estruturas para “abrir a Igreja ao mundo atual, atualizando-a, com novos conteúdos programáticos”, de espaços de “encontro, partilha e convívio” e pela “criação de dinâmicas vicariais como um Conselho Pastoral Vicarial e um Conselho Diocesano de Leigos, para a Igreja ser pensada a partir da base”.

É sugerida ainda a “descentralização da formação para o nível da vigararia e/ou paróquia” e a “aposta na formação permanente de todo o povo de Deus”. No que toca à catequese, os diocesanos referiram que ela “deve acontecer num processo assumido pelas famílias e pelas próprias crianças, num percurso contínuo de espiritualidade, e não num tempo de formação com princípio e fim”.

No que respeita à celebração da fé, continuou o padre José Augusto Rodrigues, os grupos referem “o pouco envolvimento e intervenção da assembleia, a postura de pouca proximidade do celebrante”, entre outras críticas relacionadas com “a natureza e adequação das homilias, a qualidade da animação da celebração nos seus diferentes momentos, etc.”. 

Os grupos reconhecem ainda a carência da dimensão comunitária na celebração, apesar de a considerarem “o motor da comunidade”, isto porque “muitas vezes [a eucaristia] é vivida de forma muito individual e pouco participada”. Também nesta área é apontada a necessidade de formação: “é necessário um maior investimento na formação dos elementos da comunidade (incluindo os jovens) para a compreensão da eucaristia”. 

“Relativamente às homilias os grupos referiram que é importante assegurar a sua qualidade. Estas devem ter uma dimensão prática e conectada com a realidade concreta da vida das pessoas. Precisamos de homilias cativantes, com interação com a assembleia, de modo a captar as crianças e os adultos”.  

Também foi referido que “é necessário investir no acolhimento e integração daqueles que participam nas celebrações eucarísticas através de equipas especializadas para o efeito”. 

E no que respeita à evangelização? O sacerdote coordenador da equipa diocesana também aqui sublinhou as advertências e as propostas que o discernimento sinodal mais colocou em relevo. “Até as famílias esperam que sejam os catequistas e as organizações juvenis, como o escutismo, a fazer a evangelização dos mais novos”, referiram os contributos, reconhecendo, de novo, uma formação insuficiente nesta área.  

“Precisamos de mais formação, mais descentralizada e acessível a todos, através da aposta nos meios digitais. Grupos de Lectio Divina, catequese de adultos e escola de leigos são alguns meios para o alcançar.  Precisamos de promover as vocações sacerdotais com mais intensidade nas comunidades cristãs, nos grupos da catequese, nas aulas de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), através do contacto com missionários e com a realidade dos seminários”, sublinhou o sacerdote fazendo-se eco dos contributos que a comissão coordenadora recebeu. 

Com os grupos sinodais a terem leigos como em maior número, foi reconhecido que “os leigos precisam de estar disponíveis para se envolverem, em tarefas específicas da comunidade, em qualquer uma das suas dimensões: celebrativa, evangelizadora e caritativa”, isto porque “nem tudo tem de ser feito pelo padre e é importante que este delegue responsabilidades, proporcionando apoio, enquadramento e formação”.  

Neste sentido foi apontada a necessidade de promoção “do reconhecimento comunitário do mistério dos catequistas, dos leitores, dos acólitos, animadores de comunidade, entre outros”. Foi dada particular necessidade em “apostar nos diáconos permanentes – inclusive o diaconado feminino -, pois esta vocação enriquece a Igreja”. 

Dada a “sobrecarga de trabalho dos sacerdotes” foi dito que na diocese “precisamos igualmente de dar passos para celebrações dominicais na ausência do presbítero”.

A participação das mulheres foi também trazida para a análise. A reflexão aponta que “as mulheres têm sido o pilar do quotidiano da vida comunitária, mesmo sem o devido reconhecimento” e que “é necessário dar-lhes maior protagonismo em organismos como as comissões e conselhos pastorais, de modo que a comunidade colha os benefícios da complementaridade de todos os seus membros”.

A autoridade da Igreja e dos seus membros foi outro dos temas. “Apesar de a autoridade na Igreja ser vista como uma missão confiada por Cristo e exercida muitas vezes com responsabilidade e em atitude de serviço, a larga maioria das respostas sobre esta questão assenta no pressuposto claro de que ela é da responsabilidade exclusiva daqueles que receberam o sacramento da Ordem (Papa, bispos, sacerdotes) e é frequentemente exercida como autoritarismo individualista e assente numa visão piramidal da Igreja”. 

Estruturas como o Conselho Pastoral, “metade das respostas afirma que nunca ouviu falar, não conhece, não sabe se existe, não sabe como funciona, não sabe para que serve”. 

“A larga maioria das respostas coincide no pensamento de não existe uma cultura nem uma prática de avaliação na Igreja, tal como não existe uma efetiva prestação de contas das responsabilidades assumidas”.

“O conteúdo desta intervenção não me pertence” 
Pe. José Augusto Rodrigues, coordenador da equipa diocesana para o Sínodo

A proposta dos diocesanos passa “pela formação do clero”, porque “o sermos Igreja sinodal vai obrigar-nos a refletir seriamente sobre o lugar e a missão do ministério ordenado, dos padres, no seio das comunidades”.  

“Para ultrapassar as fragilidades identificadas na implementação dos conselhos pastorais, é necessário começar por deixar o Espírito Santo falar”, referiram os grupos. Também neste caso, “a própria diocese tem que sensibilizar os párocos, motivá-los e dar-lhes formação”. 

“Propõe-se a criação de uma comissão diocesana para se deslocar às paróquias e apresentar as vantagens da existência do Conselho Pastoral Paroquial e ajudar a criar um espírito favorável para a sua existência”. 

Os grupos afirmaram que a diocese precisa de um vigário para a pastoral. No que diz respeito à avaliação das atividades, para que ela possa acontecer, “é necessário um plano pastoral que não se limite a ser um calendário de atividades mas compreenda metas, recursos, etc”, sugerem os contributos recebidos.

Participação

Quanto à participação diocesana na Consulta ao Povo de Deus, os dados apresentados pelo padre José Augusto Rodrigues na sessão solene [também no quadro abaixo] não são definitivos, pois ainda estão a chegar contributos de alguns grupos sinodais, que serão lidos e tido em consideração pela coordenação diocesana. 

Na interpretação do padre José Augusto Rodrigues, “sem grande rigor numérico, podemos afirmar que terão participado nesta consulta ao povo de Deus mais de 3500 pessoas”, isto porque nem todos participaram nos mesmos inquéritos. De modo particular, o questionário promovido pelo secretariado diocesano da Catequese envolveu crianças e adolescentes que não participaram nos restantes.

O coordenador da equipa diocesana explicou também a forma como tinha sido preparada a primeira síntese que ali apresentava.

ÁLBUM FOTOGRÁFICO
https://lefa.pt/?p=48456

“Cada um dos cinco inquéritos deu origem a um novo, mais focado no presente e no futuro, pedindo constantemente, mais do que análises genéricas, propostas concretas de renovação eclesial. E foi daí que partimos para a elaboração dos textos e questões que ocuparam os cerca de 110 participantes nos trabalhos da assembleia diocesana de ontem, 21 de maio, no Seminário. Foi um dia bonito, rico, alegre e, acreditamos, cheio do Espírito Santo”, referiu o padre José Augusto Rodrigues.

“Temos ainda muito que pensar, que dialogar, que rezar”

Após a apresentação pelo coordenador diocesano das primeiras conclusões e de serem ouvidos os testemunhos de dois delegados sinodais – Ana Bem, delegada paroquial de Monte Redondo, e frei Rui Carlos Lopes, delegado para as famílias religiosas – o bispo de Leiria-Fátima pediu à assembleia que entoasse um cântico de louvor pelo “trabalho feito por vocês”, que descreveu como “bonito”, “uma colheita bonita”,  e que terá continuidade.  

“Temos ainda muito que pensar, que dialogar, que rezar”, disse D. José Ornelas. Tendo chegado ainda há pouco, pediu  “um tempo” para se poder inserir e conhecer a diocese e disse que, entre as críticas que tinha ouvido, sobressaiu sobretudo a sede de uma Igreja mais unida e mais solidária. 

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