Mais uma vez, os diocesanos encheram a Catedral de Leiria no primeiro domingo de outubro, à volta do seu Bispo, para partirem juntos rumo a mais um ano pastoral. É o segundo do biénio dedicado à família, tema que se enquadra na perfeição na atual agenda da Igreja, sendo de assinalar o início, nesse mesmo dia, do Sínodo dos Bispos convocado pelo Papa Francisco para o debater.
Um momento musical, por João Santos, no grande órgão da Sé, dispôs as várias centenas de fiéis para uma tarde “em família” diocesana. O Bispo D. António Marto foi o anfitrião e apresentou as linhas gerais para uma pastoral que espera ver concretizada por todos os que dinamizam comunidades e serviços: depois de um ano dedicado à família como “vocação”, vamos agora ajudá-la a valorizar e cumprir a sua “missão” na Igreja e no Mundo (ver Mensagem Episcopal).
A partilha de Laurinda
A convidada para uma conferência sobre a missão da família hoje foi Laurinda Alves, jornalista e docente universitária. Mas não houve conferência. Houve, sim, uma partilha da Laurinda que é mãe e que é filha com os pais a viver em sua casa. “Desculpem não fazer um tratado abstrato sobre o tema, mas apenas oferecer-vos algumas notas práticas da minha própria experiência familiar”, começou. E foi do agrado de todos esse testemunho, que ajudou a identificar no concreto muitos dos problemas com que se debatem as famílias.
“Cada família é uma nação, um território sagrado, e só os valores podem unir-nos”, referiu a oradora, apontando a importância de transmitir e testemunhar esses valores às novas gerações, como base para as relações familiares que irão construir no futuro. Até porque, sem eles, é muito fácil sucumbir às “muitas imperfeições que podem causar a rutura familiar”. Seja a tentação de educar os filhos por comparação com os irmãos ou outras crianças, seja o uso abusivo das tecnologias (“nunca dar a primazia ao telemóvel no tempo da família”), seja a demasiada atenção a pormenores que causam discussão, como a arrumação do quarto, “devemos evitar tudo o que nos afasta, nos divide, nos impede de rezar juntos”.
Se, por um lado, “nunca conseguimos ganhar braços de ferro com os nossos filhos”, também “não podemos nunca desistir ou cortar relações com eles, nem com pais, irmãos e outros membros da família”. A esse propósito, Laurinda Alves apontou o exemplo de Nossa Senhora, “que guardava tudo no coração e aprendeu a ser mãe com Jesus e, com certeza, não aos berros com Ele!”.
Outro segredo, o exemplo: “as pessoas só mudam perante o exemplo, por verem alguém inspirador ou que as compreende e aceita como são”. Quanto ao resto, há que “sonhar com o impossível” e dar tempo ao tempo, “confiando que os valores que semearmos virão um dia a dar fruto”. Isso é “gastar tempo para estar com os outros, para promover o encontro a relação individualizada”, bem como para a oração em família, pois “rezar é o chão da nossa vida”.
Pastoral a olhar as famílias
É a tudo isto que as comunidades cristãs e a pastoral da Igreja também têm de estar atentas, como referiu o Bispo na homilia da Missa que encerrou esta assembleia diocesana. Como o proprietário da vinha de que falava o Evangelho, “o Senhor convida-nos a cuidar da família: dediquemos o melhor de nós mesmos, dos nossos cuidados e energias a cuidar de cada uma das famílias, através de uma pastoral de anúncio e educação para o amor”. E frisou: “O anúncio da boa nova da família neste novo contexto cultural que põe desafios grandes e inéditos à vivência do amor conjugal e familiar requer uma atenção especial da Igreja e das comunidades cristãs”.
Em jeito de interpelação, D. António Marto elencou algumas questões: “como dizer hoje a uma pessoa ferida e desiludida que o amor do homem e da mulher é uma realidade boa e bela, quando assistimos à desvalorização da família?; como dizer que os filhos são dom precioso e precisamos de famílias amigas da vida e capazes de renovar as gerações?; como dar coragem às famílias e dizer que é o primeiro e significativo ambiente no qual se experimenta a beleza da vida, a alegria do amor, a gratuitidade do dom, a consolidação do perdão, onde se começa a encontrar o outro como irmão?”.
A resposta deverá ser dada por cada cristão, em cada atitude e exemplo de vida, terminou o Bispo: “peço a todos vós empenho na pastoral do anúncio e da missão nobre e bela da família, também como escola de virtudes sociais que ajudam a construir um mundo bom e belo, mais fraterno e solidário”.
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