Partindo da Aparição de agosto de 1917 como acontecimento de referência e da frase dita então por Nossa Senhora “Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores” como inspiração, o Santuário de Fátima apresenta para este ano de 2014-2015 o tema “Santificados em Cristo”.
O núcleo teológico a explorar será o de “Deus Santo”, o elemento catequético “a Igreja como Comunhão dos Santos” e a atitude crente a oração. Assim se resume o programa pastoral para este 5.º ano de preparação para o centenário das Aparições.
Apresentação
Já integrando o programa deste ano pastoral, a jornada de apresentação do tema e inauguração da exposição que o ilustra, no passado dia 29 de novembro, juntou cerca de quatro centenas de pessoas num “momento espiritual forte”, como considerou D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, que a ela presidiu, no Santuário de Fátima.
Mas foi preparado um vasto conjunto de materiais e de iniciativas ao longo do ano para muitos outros momentos fortes que ajudem os peregrinos a “aprofundar, rezar e viver” o tema do ano, “Santificados em Cristo” como referiu o padre Carlos Cabecinhas, reitor da instituição. Na abertura da sessão, lembrou algumas, como o ciclo de conferências temáticas, a iniciar já a 14 deste mês de dezembro, e o Simpósio Teológico-Pastoral, nos dias 19 a 21 de junho de 2015. Concertos, cursos, celebrações e outras atividades são já apresentadas no livro do itinerário temático, juntamente a diversos textos de reflexão e aprofundamento, cujo conteúdo é disponibilizado em grande parte também no sítio www.fatima2017.org.
Sintetizando a abordagem que se pretende efetuar, o reitor referiu que “este tema recorda-nos que a santidade, enquanto vida de comunhão com Deus e em conformidade com a sua vontade, é vocação de todo o cristão”. Por outro lado, “o cristão, ao descobrir-se membro do Corpo de Cristo que é a Igreja, sente-se vinculado aos outros, sente-se também responsável por eles”, uma responsabilidade de que faz parte a oração por eles.
Santidade como resposta ao dom
O padre Miguel Almeida, jesuíta, foi o convidado para a apresentação do tema e começou por frisar que “tudo começa com uma iniciativa de Deus, tudo o que temos é dom da Graça e de graça”, pelo que devemos viver “agradecidos e alegres pelo que temos e pelo que somos” e, ao mesmo tempo, “capazes de mudar o mundo, centrados no que temos para dar, saindo ao encontro do outro”.
Também assim foi a experiência das Aparições de Fátima, iniciativa do Céu, e assim se deve entender a santidade, como um “abrir-nos progressivamente a esta presença do Espírito, que nos vai transformando o olhar e a vida”. Esse é um caminho que exige “resposta”, porque “todo o dom que é dado precisa de ser recebido”. Pela salvação de Cristo, “já somos santos”, mas “é uma santidade que tem de ser acolhida e trabalhada”. “A graça de Deus não é magia, mas um convite à relação”, afirmou o sacerdote, lembrando que “Jesus nunca nos prometeu uma vida mais fácil, mas sim que, na exigência de pegarmos na cruz, estaria sempre connosco”.
Numa linha mais teológica, o padre Miguel Almeida referiu que a palavra “Santo” significa “separado”, sendo Deus o “separado por excelência, o inatingível ao homem”, mas também Aquele que toma a iniciativa de vir ao encontro do homem, em Jesus Cristo, “o encontro máximo, através do qual encontramos Deus, nos encontramos a nós e encontramos os outros”. Ele é, por isso, “Aquele que mata todas as solidões” e que nos leva a “combater todas as solidões”, a sair ao encontro dos outros.
Depois, numa linha mais pastoral, afirmou que “a Igreja nasce deste encontro que se espalha” e que sua santidade “não vem de si mesma ou dos seus membros, mas de Jesus Cristo”. É a partir d’Ele que somos santos, mas chamados a “misturar-nos com o mal e o pecado, tal como Ele, Deus separado, santo, se misturou connosco e mergulhou na nossa realidade”. Portanto, ser santo, para o cristão, é “sair de si, ir ao encontro, não para isolar ou julgar, mas para transmitir o amor salvador que lhe foi dado”, é “comungar as tristezas e dificuldades dos irmãos e reconhecer em nós a força de Cristo que nos move à construção do Reino”. Trata-se de uma “santidade inquieta”, que “não descansa enquanto alguém sofre e está longe de Cristo” e que é alegre, “porque a verdadeira alegria é fruto da entrega aos outros”, concluiu.
A moldura da santidade
Na conclusão do encontro, após a atuação dos corais adulto e infantil do Santuário, o Bispo de Leiria-Fátima voltou ao tema da exposição inaugurada ao início dessa tarde para dizer que essa poderia ser a “moldura para o quadro da santidade” no âmbito da Mensagem de Fátima. “Neste vale de lágrimas, e ao Cristo das Trincheiras, o homem das dores que desceu aos infernos humanos para elevar o seu amor redentor, libertador e santificador, convida-nos através de Nossa Senhora, em Fátima, a viver esta santidade no mundo, para levar a paz de Deus aos homens e aos povos”, sintetizou.
Remetendo ao texto bíblico em que Jesus “desatou num choro enorme” sobre a perspetiva da ruína da cidade de Jerusalém, “pelos homens e com os homens”, por não conhecerem “Aquele que te pode dar a paz”, D. António apontou o “contraste dilacerante entre o bem supremo de Deus, o dom da sua amizade, e as intoleráveis situações de ruína, de miséria, de morte, de crueldade que nascem da recusa do amor de Deus oferecido em Jesus”. A esse cenário segue-se a paixão, revelando que “Jesus não abandona a cidade”, mas entra nela “por amor” e para “na santidade da sua entrega dar a todos o perdão dos pecados, a purificação do coração, a capacidade de viver segundo Deus e de amar os irmãos”.
“É neste horizonte histórico que se situa o apelo à santidade na Mensagem de Fátima”, referiu o Bispo, indicando o exemplo dos Pastorinhos como os primeiros a compreender e viver assim a santidade, a partir, em primeiro lugar, da “experiência mística do conhecimento íntimo do amor trinitário de Deus, maravilhados pela beleza e maravilha do amor de Deus”. Em segundo lugar, a partir do “apelo à conversão, à penitência e à oração”. Um apelo à “transformação do coração” que é para cada um e “para as próprias estruturas dentro da Igreja”, onde o pecado também existe e é motivo de constante necessidade de “penitência, reforma e purificação”, considerou D. António Marto. E, embora comecemos todas as Eucaristias pelo pedido de perdão, “o que é impensável em qualquer outra reunião ou assembleia”, o cristão “não se pode ficar por aí” e precisa da conversão de vida que exige “dolorosos processos de penitência”.
Santidade “popular”
Neste processo de santificação manifesta-se também a comunhão dos Santos no único corpo místico de Cristo: por um lado, une-nos a toda a humanidade de pecadores em conversão permanente; por outro, torna-nos beneficiários da “eficácia salvífica” do sangue dos mártires “da fé, da caridade e da justiça”, cujo testemunho e sacrifício nos torna “solidários na graça” da redenção do sangue de Cristo.
Por fim, “podemos ver na atração da Mensagem de Fátima, que congrega multidões em todo o mundo, um apelo à santidade de todo o povo, de todas as comunidades e em todos os estados de vida”, afirmou o Bispo de Leiria-Fátima. Deu como testemunho o que verificou nas suas visitas pastorais às paróquias, onde pôde “contemplar com admiração esta santidade popular, nas famílias, nos sofrimentos escondidos da vida, nas opções perseverantes de fidelidade ao amor, ao serviço, no trabalho profissional, nos pais, mães e avós, nos jovens e idosos que rezam, trabalham e se sacrificam”. Em resumo, “a santidade de vida não é um refúgio para fora deste mundo, mas geradora de humanização, de cultura quotidiana e de história, como serviço de caridade, de justiça e de paz, elevando o nível espiritual, moral e cultural da nossa sociedade”.
“Não tenhamos medo de ser santos”, terminou D. António, lembrando que “não há nenhuma forma para fazer santos, mas cada um será santo na sua originalidade”, progredindo no bem segundo o lema indicado por Santo Agostinho: «canta e caminha».
Agenda próxima
• 14 de dezembro, 16h00: Conferência “«A Mãe de Jesus estava com eles» – A presença de Maria na Igreja”, por Isabel Varanda, da Universidade Católica Portuguesa, na Casa de Retiros de Nossa Senhora das Dores
• 21 de dezembro, 15h00: Concerto de Natal, no Centro Pastoral de Paulo VI