AMIGrante festeja 10 anos: Fazer da integração uma marca

A comemorar o 10.º aniversário da associação, a AMIGrante promoveu uma jornada de reflexão e debate, no dia 5 de setembro, em Leiria.

A iniciativa juntou oradores de renome que, durante um dia, promoveram um sério debate em torno do tema “A face humana das migrações em Portugal”.

“Quando há 10 anos iniciamos o nosso trabalho fomos pioneiros na região”, diz o padre Sílvio Litvinczuk, presidente da AMIGrante, ao recordar que a associação nasceu da constatação de “que não havia apoio aos imigrantes que vinham para Portugal”. Nessa época “iniciamos o ensino da língua portuguesa”, mais tarde “surgiu a necessidade de dar apoio sócio-político”. Hoje a AMIGrante já apoiou  mais de 17 000 cidadãos migrantes, respondendo sempre de uma forma concreta às múltiplas solicitações.

Foi assim, sempre numa tentativa de dar resposta efetiva às reais necessidades de quem procura a associação, que o seu presidente descreve a atividade e evolução da AMIGrante ao longo da sua primeira década de vida. Volvidos 10 anos, num contexto de crise nacional, a migração está de novo na ordem do dia. “Assistimos a um fluxo de emigração, em larga escala de jovens, e ao regresso prematuro de muitos imigrantes”, diz em jeito de conclusão e deixando claro que ainda muito trabalho há a fazer nesta área. É por isso “importante e inestimável” a disponibilidade dos voluntários da associação a quem deixa uma palavra de grande apreço e agradecimento.

 

“Devemos aumentar o nosso espaço humano”

O debate “não podia ser mais atual”, referiu o Secretário de Estado Adjunto do Ministro Adjunto do Desenvolvimento Regional, Pedro Lomba, na sessão de abertura.

Citando D. Manuel Clemente, Pedro Lomba diz que “os portugueses não deixam de ser o que são onde quer que estejam” e é esta integração que defende “para todos os que procuram o nosso país”. “Em Portugal nunca houve uma lógica que negasse a interculturalidade”, reconhece ao lembrar que sempre “fizemos da integração a nossa marca, a nossa bandeira”.

Numa reflexão ao atual contexto sócio económico do país e fazendo uma pequena alusão à história do país, Pedro Lomba diz estar convencido “que na situação em que o país vive precisamos de aumentar o nosso espaço humano e, os nossos migrantes são esse espaço humano”. “Este país sempre ganhou quando aumentou o seu espaço humano”, concluiu.

“Hoje temos um novo equilíbrio no país, mais portugueses a sair e menos estrangeiros a entrar”, constata. Por isso é “necessário uma nova política de migração em Portugal”, com uma “estratégia proativa e ambiciosa no sentido de incentivar as migrações e apoiar os imigrantes em Portugal”. Os migrantes têm agora um novo perfil, “são expatriados, profissionais altamente qualificados, estudantes, académicos, trabalhadores, reformados (residentes de longa duração)” que ditam novas prioridade sócio-políticas. “Temos de captar as pessoas de forma criativa e depois garantir uma governação integrada nos campos da justiça, cultura, finanças, emprego, segurança social, educação e saúde”. Só assim se conseguirá “garantir que a integração dos nossos imigrantes seja efetiva evitando as suas saídas prematuras”, diz.

Também Raul Castro, presidente da Câmara Municipal de Leiria, destacou “o papel inestimável” da associação no “diálogo intercultural” característico da “diáspora portuguesa”.

Lembrando que na década de 90 nasceu em Portugal um importante fluxo de imigração, Raul Castro recordou que em 2012 os imigrantes “eram, em Leiria, mais de 5 000”. “Dão um grande contributo económico na região e na riqueza de multiculturalismo” assim como “mitigam a nossa fraca taxa de natalidade”.

 

Importa dar primazia às pessoas

Na sessão de enceramento, o padre Jorge Guarda, vigário geral da diocese de Leiria-Fátima, resumiu a iniciativa como uma oportunidade de “procurar conhecer melhor a realidade das pessoas imigrantes e das suas situações” e, simultaneamente, “de compreender com maior profundidade como as pessoas que vêm do estrangeiro para trabalhar e viver entre nós são fator de desenvolvimento económico, social, cultural e também religioso”. Foi pois, um contributo “para promover a formação e o empenho na defesa vigorosa da ‘face humana da imigração”. Isso significa dar atenção às pessoas, dar-lhes a primazia relativamente aos aspetos sociais, económicos, culturais, religiosos”.

Estas pessoas “são portadoras de desafios para a sua própria identidade e para a daqueles que encontram no nosso país: a convivência e a partilha de dons enriquece mutuamente quem dá e quem recebe, num processo de interculturalidade”, referiu.

Citando o Papa Francisco a propósito da recente tragédia que envolveu o afundamento das embarcações em que viajavam emigrantes de África até à ilha de Lampedusa, no mar Mediterrâneo, Jorge Guarda diz que estas pessoas apenas “procuravam um lugar melhor para si e suas famílias, mas encontraram a morte. Quantas vezes outros que procuram o mesmo não encontram compreensão, não encontram acolhimento, não encontram solidariedade!”

“Embora a situação dos imigrantes em Portugal não passe por casos tão dramáticos, sabemos que há também sofrimento em muitos imigrantes e indiferença, exploração e tratamento inadequado em concidadãos nossos”, refere reforçando a pertinência e atualidade do debate promovido pela AMIGrante.

Continuando a citar o Papa Francisco, “quem é o responsável pelo sangue destes irmãos e irmãs? Ninguém! Todos nós respondemos assim (…) Esta cultura do bem-estar leva à indiferença a respeito dos outros; antes, leva à globalização da indiferença. Neste mundo da globalização, caímos na globalização da indiferença. Habituamo-nos ao sofrimento do outro”, conclui, enaltecendo o trabalho da Amigrante que “vai contra a corrente: ajuda, aconselha e defende os homens e mulheres vindos do estrangeiro para que tenham entre nós uma vida digna e possam integrar-se na nossa sociedade”.

Jorge Guarda terminou a sua reflexão dirigindo-se aos voluntários da associação: “não posso deixar de vos felicitar por todo esse esforço e dedicação. Continuai, sem regatear sacrifícios, a defender e promover a face humana das migrações. Vale a pena tudo o que fazeis para ajudar os imigrantes a realizarem os seus melhores anseios humanos e a viverem com satisfação na nossa sociedade”.

O debate aconteceu no Teatro Miguel Franco, no passado dia 5 de setembro e abordou os temas “A imigração em Portugal em tempos de crise”, “A emigração portuguesa no contexto atual”, “Migrações e desenvolvimento” e “Identidade e interculturalidade”.

 

Amigos dos migrantes

A AMIGrante nasce da constatação do Movimento de Educadores Católicos, das necessidades de apoio para o conhecimento suficiente da Língua Portuguesa por parte de cidadãos estrangeiros. Disponibilizou-se, assim, através dos seus voluntários para o ensino da Língua Portuguesa.

A experiência evidenciou outras necessidades no domínio da cultura, organização social e política, direitos e deveres dos cidadãos. É assim que surge o envolvimento do Município de Leiria, Diocese de Leiria-Fátima, Ação Católica Independente e Cáritas Diocesana.

Hoje, a AMIGrante é uma associação não lucrativa, apartidária e, sendo embora de cunho católico, é uma associação de completo respeito pela liberdade religiosa.

 

Áreas de atuação

– Manter serviços de informação, encaminhamento e atendimento social e jurídico;

– Manter cursos de Língua Portuguesa – 2.ª Língua;

– Apoiar as comunidades imigrantes nas iniciativas culturais que pretendam desenvolver;

– Denunciar práticas abusivas, fraudulentas e ilegais às autoridades competentes;

– Manter serviços de apoio moral e religioso, indepentemente do credo professado.

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