No passado domingo, celebrámos o Domingo da Palavra de Deus. No dia seguinte, festa da conversão de S. Paulo, terminou a semana anual de oração pela unidade dos cristãos. A partir do seu encontro pessoal com Jesus Cristo, S. Paulo tornou-se apóstolo do seu Evangelho e da unidade entre os fiéis cristãos. Pela sua atividade, muitos conheceram Cristo, receberam o batismo e se uniram à Igreja. Esta tornou-se uma comunidade composta de judeus e de gentios unidos pela fé cristã. Ele é exemplo de quem acolhe o Evangelho, lhe entrega a vida com radicalidade e se torna através dele testemunha e mensageiro para outros.
Conhecer e viver o Evangelho é uma condição fundamental para ser cristão. Escreve Chiara Lubich: “Já observaste que, se te falta saber o alfabeto e as poucas regras gramaticais que se ensinam no primeiro ano, ficas toda a vida analfabeto, sem saber ler e escrever, apesar de teres inteligência e vontade? Assim, se não sabemos assimilar uma a uma as Palavras de vida que Jesus esculpiu no Evangelho, nós, apesar de sermos «bons cristãos», permanecemos «analfabetos do Evangelho», incapazes de escrever Cristo com a nossa vida” (Ser tua palavra, 45). Estou bem alfabetizado ou sou ainda um analfabeto do Evangelho, porque realmente não o conheço, ou tenho na memória apenas uma ou outra frase?
Objetivo do Domingo da Palavra de Deus é promover nos fiéis cristãos o interesse e o amor à Sagrada Escritura, como fonte e alimento espiritual para a vida. Assim o lembrou o Papa Francisco, no passado domingo, na oração do ângelus, com indicações muito concretas: “Um dos grandes dons do nosso tempo é a redescoberta da Sagrada Escritura na vida da Igreja a todos os níveis. Nunca como hoje a Bíblia foi tão acessível a todos: em todas as línguas e agora também em formatos audiovisuais e digitais. São Jerónimo diz que quem ignora a Escritura, ignora Cristo. E vice-versa, é Jesus Cristo, Verbo que se fez carne, que morreu e ressuscitou, que nos abre a mente para a compreensão das Escrituras (cf. Lc 24, 45). Isto acontece especialmente na Liturgia, mas também quando rezamos sozinhos ou em grupo, especialmente com o Evangelho e os Salmos.
Agradeço e encorajo as paróquias pelos seus constantes esforços para educar para a escuta da Palavra de Deus. Que nunca nos falte a alegria de semear o Evangelho! E repito mais uma vez: tenhamos o hábito, tende o hábito de trazer sempre um pequeno Evangelho no bolso, na bolsa, para o poder ler durante o dia, pelo menos três, quatro versículos. O Evangelho sempre connosco!”
Precisamos de nos alfabetizar do Evangelho, lendo-o todos os dias, como recomenda o Papa. Melhor será ainda, se fizermos dele uma leitura orante, a chamada «lectio divina». Na Diocese de Leiria-Fátima, através do seu site, estamos a oferecer semanalmente uma proposta em ordem à preparação da missa dominical. Além do guião para a leitura orante de um dos textos bíblicos da liturgia, disponibilizamos também uma gravação em podcast. Em breve, vamos também publicar o guião para o chamado «retiro popular» durante a Quaresma: uma série de seis textos bíblicos apresentados pedagogicamente para se fazer deles, se possível em grupo ou em família, uma leitura orante: escuta, compreensão, meditação e oração. O objetivo é procurar ouvir a voz de Deus no próprio íntimo, a partir da sua Palavra. Então, ela pode tornar-se luz, força, conforto e ajuda para a vida quotidiana. A Palavra de Deus dá-nos vida, faz-nos viver segundo Deus no nosso dia a dia, tanto nos pequenos como nos grandes momentos!
Alfabetizar-se do Evangelho é seguramente também caminho de aproximação entre os cristãos de diversas confissões e Igrejas, em ordem àquela unidade que Jesus pediu na sua própria oração ao Pai e quer para os seus discípulos de todos os tempos. Muitos cristãos protestantes e evangélicos conhecem muito mais da Bíblia do que os católicos. Um maior conhecimento da Palavra de Deus e a partilha sobre ela pode aproximar uns e outros através de um tesouro que lhes é comum.
