O Centro de Apoio ao Ensino Superior (CAES) da diocese de Leiria-Fátima está no terreno para mais um ano letivo, continuando um trabalho que vem de 1993 e com algumas ideias novas na manga.
A cidade respira a calma de um final de tarde típico de domingo outonal. Aos poucos, começa a juntar-se ao borbulhar das águas na fonte luminosa o som de pequenos grupo que se somem adentro do pórtico da igreja do Espírito Santo. Algumas dezenas identificam-se claramente como estudantes, mas há também outros jovens, como há famílias com filhos pequenos ou gente de idades diversas.
Ao bater das 19h30, cerca de uma centena e meia de pessoas preenchem por completo os lugares no interior do templo. Duas violas dão os primeiros acordes e um grupo de uma dúzia de vozes juvenis começa o canto, que rapidamente se alastra pela maioria dos presentes, muitos com uma “Vitamina C” nas mãos. No altar, surge o padre Manuel Henrique de Jesus, diretor do Centro de Apoio ao Ensino Superior (CAES) da diocese de Leiria-Fátima. Começa a Eucaristia.
A proposta é semanal, em tempo de aulas, promovida por este serviço diocesano. “É uma das iniciativas regulares que queremos manter como resposta ao estudantes que ficam por Leiria ao fim de semana ou que procuram uma celebração mais conforme à sua sensibilidade juvenil”, adianta o padre Manuel, que foi nomeado este ano para a função. “Não são muitos, umas três ou quatro dezenas, dada a proximidade de casa da maioria dos alunos do ensino superior leiriense, mas vale a pena e a igreja enche-se sempre”, refere. Aparecem outros jovens, alguns professores, habitantes da cidade ou arredores, grupos convidados das paróquias e movimentos da Diocese para a animação litúrgica.
Outras ações
Mas a oferta do CAES alarga-se a outro âmbitos. Na linha do apoio espiritual, organiza iniciativas de integração dos caloiros, como será o “Caes’tamos – geocaching da fé”, no próximo dia 19 de novembro, em que o ponto de partida será dado em coordenadas e o percurso feito de GPS na mão, tendo como objetivo a passagem por vários locais relacionados com a história e a atividade do CAES, terminando com uma celebração.
E haverá ao longo do ano outras propostas de oração e reflexão, como a habitual bênção de finalistas em maio. “Estamos a ponderar outras ações, mediante a disponibilidade da equipa de sete voluntários agora constituída, com a novidade de dois deles serem professores”, afirma o diretor do serviço. Ajuda também o facto de ser o responsável diocesano pela pastoral juvenil, pelo que as propostas poderão ser comuns, como a oração mensal “shemá”, a participação na peregrinação diocesana a Fátima, os colóquios e tertúlias como o “Ca’Fé da Avó”, que irão realizar-se numa sala de estar do Seminário de Leiria.
Outra das ideias é colocar em funcionamento um gabinete de atendimento na avenida Marquês de Pombal, no espaço do antigo estúdio da Rádio Renascença, onde está atualmente a sede do CAES e do Movimento Católico de Estudantes, com uma pequena capela, uma biblioteca e salas de reuniões ou estudo. “Já houve tentativas anteriores de criar esse gabinete, mas não houve procura por parte dos estudantes, até porque há boas condições nas escolas e muitos deslocam-se diariamente para suas casas”, considera o padre Manuel Henrique.
Apoio social
Para avançar com o gabinete, “há que perceber quais as necessidades dos estudantes”, sobretudo no plano da assistência espiritual, mas que poderão passar também pelo apoio social. “Constatamos que as escolas de Leiria têm uma das melhores assistências sociais do País e têm dado resposta aos principais problemas sociais identificados, mas acreditamos que haja algumas situações pontuais de carência que possamos ajudar a resolver”, afirma o padre Manuel. Nessa linha, o próximo passo será analisar mais profundamente essa realidade, na linha do que está a ser proposto a nível nacional (ver texto abaixo).
Mesmo nessa dinâmica, garante o diretor do CAES, o objetivo será sempre “cumprir a missão prioritária deste serviço, que é ser uma ajuda para a fé a vida cristã dos estudantes, em diálogo com o seu desenvolvimento cultural e humano”.
Conselho Nacional da Pastoral do Ensino Superior
Apoio social aos alunos no centro das preocupações
O apoio espiritual aos estudantes é a finalidade principal da pastoral do ensino superior, desenvolvida por cada uma das dioceses em escolas públicas e privadas, sejam universidades, politécnicos ou outras instituições reconhecidas pelo Estado. Inserido numa dinâmica de “encarnação e presença no mundo” por parte da Igreja Católica, visa sobretudo “promover e dinamizar, na variedade das suas expressões, tudo o que serve à realização do diálogo e da síntese entre a fé e a cultura”, como aponta o documento “Perspetivas e Orientações” do Serviço Nacional de Pastoral do Ensino Superior (SNPES), publicado em 2003 pela Comissão para o Apostolado dos Leigos da Conferência Episcopal Portuguesa.
Mas a verdade é que “nestes últimos anos houve uma mudança acentuada do ensino superior em Portugal, que criou novos contextos e desafios à pastoral”, adianta um documento do SNPES de 2011, que aponta algumas linhas para a adaptação a essa nova realidade. A isso obrigam fatores como “a diversidade de instituições de ensino e sua disseminação por todo o território nacional”, a “alteração do financiamento do ensino” e o “aumento das propinas”, “as carências económicas que se sentem cada vez mais junto dos alunos”, a “maior mobilidade de estudantes” e a “diversificação da população estudantil, quer nas faixas etárias quer nas expectativas”, bem como “as novas exigências na carreira docente e a precariedade de vínculo à instituição”.
O principal ponto da agenda do conselho nacional do SNPES, reunido em Fátima no passado sábado, 19 de outubro, foi precisamente a “análise das situações mais problemática com que nos debatemos hoje nas escolas superiores e a partilha do trabalho que cada diocese está a desenvolver como resposta”, refere o padre Manuel Henrique de Jesus, diretor do Centro de Apoio ao Ensino Superior (CAES) de Leiria-Fátima.
Nessa linha, a principal decisão foi a de trabalhar num documento para o estudo do impacto da crise económica nos alunos. “Queremos conhecer os problemas concretos dos alunos, fazer uma análise estatística apurada de quem procura ajuda, que tipo de ajuda, quem está a ser apoiado e, por exemplo, quantas desistências houve no ensino superior e se aconteceram por motivos económicos”, adianta o padre Manuel Henrique.
Há quem tenha já tenha um trabalho concreto neste apoio social, como é o caso de Coimbra, onde se desenvolveram, inclusivamente, formas de financiamento através de uma percentagem sobre a queima das fitas e outras festas estudantis, para ajudar alunos que não conseguem pagar propinas. Outras dioceses, como Leiria-Fátima, não sentiram ainda uma procura que o justificasse, como se refere no texto acima. Assim, os responsáveis diocesanos por este setor da pastoral assumiram o compromisso para uma efetiva partilha de experiências e de ideias, “para que haja maior harmonia de procedimentos a nível nacional e para que os projetos e planos de ação resultem mais eficazes, beneficiando do conhecimento comum das boas práticas de todos”, aponta o diretor do CAES de Leiria-Fátima.
Este conselho nacional não esqueceu, no entanto, os objetivos fundamentais da sua ação pastoral. Entre outros pontos de agenda, foi debatida e decidida a realização de um retiro espiritual para estudantes, a 21 e 22 de março de 2014, em Viseu, e ainda de um Encontro Nacional de Docentes e Investigadores, para 25 de outubro do próximo ano.