A VIAGEM

Apetece-me recordar, como ponto de partida, que a metáfora da viagem para representar uma extraordinária filosofia – há mesmo quem lhe chame teologia – da história humana, é a espinha dorsal de uma das nossas maiores glórias literárias, que talvez continue a sofrer de algumas décadas de maus tratos nas aulas de Português, no Ensino Secundário.

De manhã cedo, enquanto o céu ameaça com as traquinices da Lola – que nome tão esquisito! Podiam ao menos tê-lo substituído pelo correspondente português: estamos cada vez mais esmagados pelo colonialismo cultural, que é o mais desumano de todos os colonialismos – enquanto isso, quase cultivando a ironia das situações, assalta-me o pensamento inspirado naquilo que maior presença tem na história e na literatura deste país, que já foi chamado de “jardim à beira mar plantado”. ou seja, a viagem.

Que Portugal continua plantado à beira mar, será ainda fácil de comprová-lo; mas um jardim… será um pouco mais difícil.

Agora que foi e é um país de viajantes, em todas as direcções, por terra e atravessando os mares, ninguém pode nega-lo: mais partidas do que regressos; a não ser nas últimas décadas, quando muitos portugueses foram obrigados a regressar mais pobres do que partiram. E o pior é que, muitas vezes deixam por lá, infelizmente afundados nos complexos anticolonialistas dos povos, alguns dos seus melhores bens.

Mas voltemos ao tema da viagem.

Apetece-me recordar, como ponto de partida, que a metáfora da viagem para representar uma extraordinária filosofia – há mesmo quem lhe chame teologia – da história humana, é a espinha dorsal de uma das nossas maiores glórias literárias, que talvez continue a sofrer de algumas décadas de maus tratos nas aulas de Português, no Ensino Secundário. Vamos cultivar a esperança de que a acusação de colonialismo, que se pressente nos ares empestados, neste mundo obcecado pela morte do pai, não venha completar os males que lhe fez a cegueira da ideologia antifascista.

Falo de “Os Lusíadas”, em que o português serve de veículo a uma construção genial de arte e de pensamento.

“Os Lusíadas” e a metáfora da viagem para designar a vida humana, sempre me vêm à mente, quando medito certos passos da Sagrada Escritura, que muitas vezes se lêem sem se ter em conta que o destino humano é aí descrito como uma viagem, mais ou menos acidentada, sempre com múltiplas manifestações do carinho de Deus pelo Seu povo; manifestações nas quais reparam apenas os que têm o coração para isso disponível.

A mais emblemática de todas essas viagens será a dos quarenta anos que levou Israel a atravessar o deserto, entre a escravatura do Egipto e a liberdade da Terra da Promessa.

Mas há muitas outras; e hoje aparece-nos a do “alto funcionário de Candace, rainha da Etiópia, e administrador geral do seu tesouro. Tinha ido a Jerusalém para adorar a Deus e regressava ao seu país, sentado no seu carro, a ler o livro do profeta Isaías.”

Da Etiópia a Jerusalém, ida e volta, não seria uma viagem tão longa, nem sobretudo tão demorada, como a da travessia do deserto, mas, além de demorada, implicava riscos de todo o tipo, ainda que possamos imaginar que um alto funcionário real, tivesse ajudas especiais.

Mas o que o texto sagrado nos indica não tem nada a ver com isso, e, como metáfora, a viagem deste “alto funcionário real”, que regressa da Cidade Santa, só nos interessa nos pormenores que por vezes nos passam despercebidos:

– Tinha ido a Jerusalém para adorar a Deus.

– Regressava ao seu país, sentado no seu carro, a ler o livro do profeta Isaías.

Uma viagem empreendida para adorar a Deus tinha de conter um regresso que não fosse apenas uma inversão de marcha: o viajante regressa mergulhado na palavra divina, deixando que ela lhe toque o coração, muito antes de lhe tocar a mente.

E Deus intervém, para lhe matar uma fome que era ainda maior do que ele sentia e será saciada de forma superabundante: do texto sagrado ao encontro com a Salvação, bastou um coração aberto à Verdade.

Toda a nossa vida é uma viagem através do tempo, como, segundo a visão genial de Camões a história dos povos.

Mas a metáfora do texto sagrado quer que saibamos também dar um sentido de eternidade às viagens reais, pequenas ou grandes, que fazemos, por isto ou por aquilo: que nos perguntemos pela valor dos seus objectivos, que as programemos, organizemos e executemos, de modo a regressar mais ricos, da riqueza que fez com que o alto funcionário da rainha da Etiópia continuasse “o seu caminho cheio de alegria”.

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