A terapia do perdão

Na nossa relação com Deus, por vezes, por insensibilidade ao mal, orgulho ou vergonha, temos dificuldade em reconhecer as nossas faltas e, consequentemente, em sentir arrependimento e pedir perdão. Ficamos assim privados da experiência da misericórdia de Deus e dos seus frutos.

Na vida, todos cometemos falhas, erramos, ofendemos e somos ofendidos, pecamos e desentendemo-nos com Deus e entre nós, na família ou na comunidade. Estas experiências enchem o coração de sentimentos de tristeza, vergonha, humilhação, ressentimento, rancor, vingança… E tornam-no duro, amargurado e mais propenso a fazer o mal… Por isso, todos precisamos de perdão, que é a terapia adequada para curar o nosso coração e nos permitir viver e conviver em paz, confiança e alegria. 

Um caminho para o perdão

A liturgia da Palavra do XXIV domingo comum (Sir 27-33-28,9; Sl 102/103; Mt 18, 21-35), oferece-nos um caminho para o perdão em três pontos:

1. Reconhecer humildemente as próprias fragilidades e pecados e buscar confiante o perdão de Deus. Deus tem um coração misericordioso, compadece-se do pecador que a Ele recorre e pede perdão. Nunca o recusa a quem se apresenta com humildade e sinceridade.

2. Com a graça recebida, aplicar no próprio coração o remédio da misericórdia e afastar dele o ressentimento, o rancor, o desejo de vingança suscitado pelas discórdias e feridas geradas na relação com os familiares ou os membros da própria comunidade.

3. Como Deus faz connosco, conceder o perdão completo àquele que sinceramente no-lo pede e solicitá-lo também a quem ofendemos, em ordem a fazer as pazes.

Na nossa relação com Deus, por vezes, por insensibilidade ao mal, orgulho ou vergonha, temos dificuldade em reconhecer as nossas faltas e, consequentemente, em sentir arrependimento e pedir perdão. Ficamos assim privados da experiência da misericórdia de Deus e dos seus frutos. É por isso muito útil a prática da leitura orante da Palavra de Deus e do exame de consciência. Ela ilumina o coração e o nosso olhar, permitindo-nos tomar consciência dos pecados e ouvir intimamente a meiga voz de Deus que nos garante o seu amor e oferece gratuitamente o perdão. Está aberto o caminho para a reconciliação e eventualmente para a confissão sacramental, onde ouvimos o ministro de Cristo a declarar: “Eu te perdoo os teus pecados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Ficamos espiritualmente curados e com novo ânimo para vivermos o nosso dia a dia.

Na relação com o próximo, o perdão só dá frutos plenos quando é pedido por quem ofende, ou melhor, por ambas as partes. Mas a disponibilidade para perdoar já me dá alguma paz e permite olhar o outro, sem ressentimento nem rancor, embora se mantenha a mágoa. Ajuda sempre o rezar por nós e pela outra parte. A oração e a disponibilidade em perdoar geram em nós esperança. São como a “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”.

O papel decisivo dos mediadores de paz

No caminho para a reconciliação, é muito útil e decisiva a intervenção mediadora de alguém que faz de ponte e aproxima as pessoas desavindas. É o que faz o sacerdote através da Palavra de Deus, do acompanhamento espiritual e do Sacramento da Penitência. Também nas relações com os outros, são muito importantes os mediadores, os que têm o talento e atuam a graça de fazer a paz.

Assim aconteceu com S. Francisco de Assis. Numa altura em que estava muito doente e, com inspiração, compôs o seu Cântico das Criaturas. Soube, entretanto, que tinha havido uma grave desavença entre o bispo e o governador da cidade. O bispo excomungou o governador e ele proibiu os cidadãos de terem qualquer negócio com aquele. Francisco sentiu-se muito triste e amargurado com esta situação e, mais ainda, por não haver quem procurasse restabelecer a paz entre eles. Disse isto aos seus companheiros e logo acrescentou uma nova estrofe ao seu cântico, dizendo:

“Louvado sejas, meu Senhor,
por aqueles que perdoam por teu amor,
sofrem enfermidades e tribulações!
Felizes aqueles que perseveram na paz,
porque por Ti, Altíssimo, serão coroados.”

Mandou, entretanto, um dos seus companheiros convidar o governador para um encontro na praça do bispado com os notáveis da cidade e outras pessoas. O mesmo pedido fez ao bispo. E enviou dois frades a essa reunião. Em nome e por mandado de Francisco, eles cantaram o cântico. Quando o terminaram, comovido, o governador disse ao bispo que lhe perdoava e, ajoelhando-se diante dele, manifestou estar pronto a dar-lhe satisfação em tudo o que fosse do seu agrado. O bispo, por sua vez, estendeu-lhe as mãos, ajudou-o a levantar-se e disse-lhe necessitar também do seu perdão. “E com muita benevolência e afeição se abraçaram e beijaram”. Todos os presentes ficaram radiantes de alegria, considerando como “grande milagre o facto de o Senhor os ter transformado tão subitamente e de converter tão grande discórdia e escândalo em perfeita harmonia, sem guardarem a lembrança de alguma palavra injuriosa” (Espelho de perfeição, capítulo 101).

O perdão é uma terapia que cura o coração humano e as relações entre as pessoas. É fundamental para sarar feridas, ultrapassar desavenças, reparar injustiças, aproximar pessoas ou grupos e reestabelecer as boas relações em família e na sociedade. Qualquer de nós, em alguma circunstância, pode tornar-se mediador de reconciliação e de paz. Jesus louva quem assim faz, dizendo: “Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.” (Mt 5, 9).

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