Entrou na igreja com a curiosidade do costume.
Desde jovem que nada tinha a ver com a fé, nem sequer era assunto que minimamente lhe interessasse, mas gostava de visitar monumentos, sobretudo igrejas antigas, e ver as suas maravilhas.
Parou no corredor central e reparou que por cima do altar estava um “objecto” que parecia de ouro e prata e no seu interior tinha uma “rodela” branca.
Isso trazia-lhe alguma reminiscência de memória sem, contudo, conseguir identificar especificamente o que era.
Viu diversas pessoas na igreja sentadas, ajoelhadas ou de pé, mas o que lhe fez mais impressão foi o silêncio que se “sentia”, e que não era constrangedor nem incómodo, era um silêncio de … amor!
Sorriu interiormente quando pensou nesta coisa de um “silêncio de amor”.
Para não incomodar ninguém, sentou-se num banco disposto a ver dali os quadros, imagens, e outras peças de arte, que estavam na igreja, pois esse era o motivo principal da sua visita.
Passado pouco tempo percebeu que havia uma pergunta que não lhe saía da cabeça: O que é isto?
Obviamente a pergunta tinha a ver com o tal “objecto” que estava em cima do altar.
A pergunta era insistente e não lhe saía do pensamento.
Baixou a cabeça para ver se se conseguia concentrar na finalidade da sua visita, mas a única coisa que aconteceu foi que a pergunta que o “atormentava” mudou para: Quem é isto?
Caramba, pensou ele, “quem” já envolve pessoas ou pessoa, o que quererá isto dizer?
Sem perceber muito bem porquê, deu consigo de joelhos a olhar fixamente o tal “objecto” sobre o altar e para grande surpresa sua a pergunta agora era bem mais especifica: Quem és tu?
Não teve dúvidas que a pergunta era dirigida ao tal “objecto” e que era ele próprio que a fazia.
Fechou então os olhos e deixou de se incomodar com a pergunta que continuava, no entanto, bem presente na sua cabeça e curiosamente parecia-lhe, também, no coração.
Perdeu a noção do tempo e quando reabriu os olhos reparou que um sacerdote estava a retirar o tal “objecto” e a guardá-lo, (nesse momento lembrou-se do nome), no sacrário.
Estranhamente apeteceu-lhe pedir para que o deixasse um pouco mais de tempo sobre o altar.
As pessoas começaram a sair da igreja, mas ele sentado, com a cabeça entre as mãos, de olhos fechados, ia deixando passar o tempo.
Sentiu um toque no seu ombro, abriu os olhos, e viu o sacerdote que, sorrindo, lhe perguntou se estava bem e se precisava de alguma coisa.
Ouvi-o perguntar se ele se queria confessar, ao que ele admirado perguntou – confessar? – e seguidamente o sacerdote disse que talvez quisesse apenas conversar.
Disse que sim e o sacerdote sentou-se a seu lado perguntando sobre o que quereria conversar.
Naquele momento ele pensou que não tinha nada para dizer, mas a verdade é que começou a contar a sua vida, como em criança tinha sido obrigado a frequentar a catequese e tinha ido a algumas Missas, e como se tinha afastado totalmente de Deus e da Igreja, mas o que mais o espantava é que à medida que falava, a memória trazia-lhe nitidamente tudo o que tinha aprendido nessa altura e teve repentinamente a resposta à sua pergunta “quem és tu?” que surgiu muito claramente num nome, Jesus!
O sacerdote ouvia-o atentamente com uma cara que parecia estar reflectir profundamente em tudo o que ele dizia, mas ele olhando para o relógio percebeu que tinha um compromisso importante e deveria sair dali quanto antes.
Disse então ao sacerdote que tinha de ir embora mas perguntou se poderia voltar noutro dia para continuarem a conversa.
O sacerdote, com um sorriso, respondeu-lhe que sim, que ele estava sempre por ali, por isso que ele estivesse à vontade e o procurasse quando regressasse à igreja.
Uma paz muito grande envolveu-o.
Levantou-se, agradeceu, e à saída reparou que o sacerdote se tinha ido ajoelhar frente ao sacrário.
O sacerdote ajoelhado frente ao sacrário com lágrimas nos olhos rezava:
Oh, Jesus, como Tu fazes tudo tão bem.
Sabes bem que me ando a debater com estes sentimentos de dúvida, de angústia, de querer abandonar a Igreja, envergonhado com o que se passa, de já quase não acreditar nos sacramentos, e então chamaste este homem, este irmão perdido da fé, para me fazeres perceber que estás realmente aqui presente e que tocas as vidas daqueles que de Ti se aproximam.
Obrigado, Jesus, pela paz que me estás a dar, pela certeza que renasce em mim de Te querer servir servindo em Igreja, obrigado pelo amor que derramas em mim.
E perdoa-me, Senhor, por ter duvidado.
Como Tomé, só Te posso dizer: Meu Senhor e meu Deus.