Com frequência, lamenta-se hoje ver chegar crianças à catequese sem saberem rezar as orações básicas da fé cristã. Isso acontece porque lhes faltou a experiência e a aprendizagem em casa, com os pais ou os avós. Há também exemplos admiráveis. Recebi há dias um vídeo de uma criança de uns 2 anos a rezar. Estava diante de um oratório, daqueles que percorrem as famílias, abriu as portas, viu a imagem de Nossa Senhora e saudou a “Mãezinha do Céu”, perguntando como estava e desejando que estivesse bem. Depois, com a assistência e aprovação talvez da mãe, ali próxima, põe as mãos direitas e reza, cantando um dos cantos marianos mais populares e comoventes do Brasil:
“Ó Mãezinha do Céu, Eu não sei rezar.
Só sei dizer: quero-te amar.
Azul é teu manto, branco é teu véu
Mãezinha, eu quero te ver lá no céu,
Mãezinha, eu quero te ver lá no céu.”
Em seguida, sempre por sua iniciativa, reza ainda ao Anjo da Guarda:
“Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador,
já que a ti me confiou a Piedade Divina,
hoje e sempre me rege, guarda, governa e ilumina. Amém.”
Por fim, bate as palmas de contente, despede-se da Mãezinha do Céu, fecha as portas do oratório e deseja “boa viagem”.
Enviei o vídeo a outras pessoas e uma delas, catequista, respondeu-me: “Relativamente ao vídeo sobre a oração das crianças, é lindo. Pena é que as famílias portuguesas não tenham capacidade de ensinar desta forma. Dou o testemunho de uma criança da minha catequese deste ano. É uma menina brasileira com 7 anos. Quando pedi ao grupo para cada um fazer oração espontânea, ela fez com uma convicção e tão espontaneamente que todos os outros meninos e eu também ficámos admirados, e houve silêncio”. Eu comentei: sem dúvida que é preciso educar as crianças também para a oração espontânea com as próprias palavras, para uma relação pessoal com Deus Pai, com Jesus e com a Mãe do Céu. Não basta ensinar as fórmulas, embora estas também sejam necessárias na prática da oração pessoal, familiar e comunitária.
Ensinai as crianças a rezar
O Papa Francisco tem recomendado repetidamente aos pais e avós que ensinem as crianças a rezar e dá sugestões concretas para o fazer. Na audiência geral de 27 de maio de 2020, numa catequese sobre “a oração dos justos”, contou: “Lembro-me da história de um homem: um importante chefe de governo, não desta época, do passado. Um ateu sem sentido religioso no coração, mas, quando era criança, ouvia a sua avó rezar, e isto permaneceu no seu coração. E num momento difícil da sua vida, aquela recordação voltou ao seu coração e ele disse: «Mas a avó rezava…». Assim, começou a orar com as fórmulas da avó e ali encontrou Jesus. A oração é uma corrente de vida, sempre: muitos homens e mulheres que rezam, semeiam vida. A oração, a pequena oração, semeia vida: por isso é tão importante ensinar as crianças a rezar. Dói encontrar crianças que não sabem fazer o sinal da cruz. É preciso ensiná-las a fazer bem o sinal da cruz, porque esta é a primeira oração. É importante que as crianças aprendam a orar. Depois, talvez possam esquecer, seguir outro caminho; mas as primeiras preces aprendidas quando são crianças permanecem no coração, porque constituem uma semente de vida, a semente do diálogo com Deus.”
É clara a mensagem: é muito importante ensinar as crianças a rezar desde pequeninas. Esta boa semente lançada nos seus corações dará frutos, mais cedo ou mais tarde.
O primeiro modo de as ensinar é através do exemplo. Se os pais ou os avós fazem oração e têm junto de si as crianças desde pequeninas, elas veem, registam e começam a imitar os gestos e em seguida as palavras. O passo seguinte é falar-lhes de Jesus, de sua Mãe e do Pai do Céu e ensiná-las a pensar neles, a fazer gestos e a dizer orações, quer através das fórmulas quer incentivando a expressão por palavas próprias. Não menos importante é a participação com eles na missa comunitária. Essa experiência vai-os marcando e despertando a curiosidade. Também na igreja começam por imitar. Depois, vêm as perguntas que pais ou avós têm que tomar a sério e responder com simplicidade e verdade. Neste clima, vão também sugerindo posições físicas, gestos e palavras que as crianças interiorizam e repetem. São assim iniciadas na oração como relação pessoal com Alguém que se torna presente na nossa vida, nos ama, guia e ampara.
A participação na catequese comunitária tem que vir depois desta iniciação familiar no conhecimento religioso, relação pessoal com Deus e na oração. É nela que as crianças alargam a sua experiência, crescem no conhecimento dos fundamentos da fé cristã e enriquecem de vários modos a oração com que exprimem e alimentam a confiança e a amizade com Jesus, sua Mãe ou o Pai do Céu. Nela aprendem também a viver no dia a dia essa relação de amizade e inspirados por ela. O sucesso da catequese na educação da criança na fé depende muito da boa relação e cooperação que se estabeleça entre os catequistas, os pais e a comunidade cristã. E obviamente da experiência de oração que se faz em casa.
Jesus censurou os discípulos que impediam quem queria apresentar-lhe as crianças “para que lhes impusesse as mãos e orasse por elas”, dizendo-lhes: “Deixai as crianças e não as impeçais de vir ter comigo, pois delas é o reino dos céus” (Mt 19, 13-14). E pôs em relevo o valor da oração das crianças citando a Escritura: “Da boca dos pequeninos e das crianças de peito fizeste sair o louvor perfeito” (Mt 21,16). Assim, não iniciar na oração as crianças para as quais se pediu o batismo é defraudá-las e deixá-las humana e espiritualmente mais pobres. Parafraseando o Livro dos Provérbios (22,6), direi a concluir: ensina à criança o caminho que deve seguir; mesmo quando envelhecer, não se desviará dele.