A encíclica Laudato Si’ em prática

Nos ecos da publicação, a 18 de junho, da encíclica do Papa Francisco Laudato Si’, o PRESENTE dá a conhecer na edição desta semana (02-07-2015) o projeto “aTerra”, de Ourém, que liga a espiritualidade à ecologia. Sobre a mesma temática, falámos também com a junta regional do Corpo Nacional de Escutas e com a Fundação Fé e Cooperação.

 

 

“Um manual de vida”para o Escutismo

Para Pedro Ascenso, chefe regional do Corpo Nacional de Escutas (CNE), a encíclica Laudato Si’ (LS) não podia ser mais oportuna para toda a humanidade e, em especial, para todo o movimento escutista. “Somos 37 milhões de escuteiros – crianças, jovens e adultos – em todo o mundo, cerca de 70 mil em Portugal. Esta encíclica apresenta-se-nos como um farol, que, para além de iluminar o caminho que percorremos em prol do respeito pelo homem e da criação, nos abre horizontes para novos caminhos de desenvolvimento e pistas que queremos trilhar e aprofundar”.

Para o dirigente regional, esta encíclica tem “uma estrutura clara, objetiva e compreensível, não como uma formulação apenas empírica, mas quase como um manual de vida”, uma vez que “lembra ao homem o seu lugar na criação e o seu lugar central no projeto de Deus, para além de identificar as agressões à natureza como resultado da fraqueza do homem corrupto, aponta caminhos objetivos de mudança para uma «ecologia integral»”.

Enquanto tece elogios à LS, Pedro Ascenso recorda a forma como o Sumo Pontífice se tem dirigido aos escuteiros, como “verdadeiros atores deste mundo e não apenas espetadores”, e o apelo que tem lançado à sua missão de “viver em contacto mais estreito com a natureza, como vós fazeis, requer não apenas o respeito por ela, mas também o compromisso de contribuir concretamente para eliminar os esbanjamentos de uma sociedade que tende a descartar cada vez mais”.

Com a consciência da missão como movimento educativo e evangelizador que é o escutismo, e o CNE em particular, o chefe escutista sublinha uma pista deixada pelo Papa Francisco aos agentes educativos: “prestar atenção à beleza e amá-la ajuda-nos a sair do pragmatismo utilitarista. Quando não se aprende a parar a fim de admirar e apreciar o que é belo, não surpreende que tudo se transforme em objeto de uso e abuso sem escrúpulos”.

 

“Um documento que nos faz repensar os estilos de vida”

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“Oportuna, clara e útil” são os três adjetivos que Margarida Alvim, do Departamento de Educação para o Desenvolvimento e Advocacia Social da Fundação Fé e Cooperação (FEC), utiliza para caracterizar de imediato a LS, que considera ter o “mérito de proporcionar um espaço aberto de diálogo entre crentes e não crentes, de todas as geografias (Norte, Sul), de todas as áreas”.

Para a responsável da FEC, a mais recente encíclica do Papa Francisco é “um diálogo que nos impele e mobiliza, para além da discussão da crise ambiental (fantasia para muitos, uma fatalidade para outros), para a conversão ecológica de fundo, integral, que se centra na solidariedade e no respeito pela criação, casa comum de toda a humanidade, onde infelizmente tantos estão excluídos, pelo mau uso dos recursos, pelo consumismo exacerbado, pela sede de poder que não serve o bem comum, mas interesses individuais”.

Margarida Alvim fala de um documento “impressionante”, que vai “para lá da responsabilidade com as futuras gerações e nos leva a repensar os estilos de vida, a organização da sociedade, o exercício de cidadania e os modelos e paradigmas de desenvolvimento, dominados pelo mercado”.

Por abrir um “amplo diálogo de esperança a todos os níveis: académicos, política internacional, na própria Igreja, também ela por vezes tão frágil nas reações a esta cultura do descarte e do consumismo, geradoras de um injustiça estrutural, esta encíclica representa uma grande tomada de consciência para todos e uma oportunidade profunda de crescimento nas virtudes ecológicas, pilares de uma verdadeira conversão mobilizadora de processos de transformação por um mundo mais justo e sustentável”, sustenta Margarida Alvim.

 

Mãos à obra

A FEC, que Margarida Alvim integra, tem trabalhado a dimensão ecológica a vários níveis: na área da educação para o desenvolvimento e cidadania global, em diferentes projetos com escolas, através da tomada de consciência dos estilos de vida, para o verdadeiro significado do conceito de sustentabilidade e para a tomada de consciência sobre o nosso papel no mundo, ao serviço do bem comum.

Uma dessas iniciativas é o projeto “aTerra – Políticas globais e estratégias locais para o desenvolvimento sustentável”, que desde fevereiro de 2014 se tem desenvolvido na diocese de Leiria-Fátima, em Ourém, e do qual Margarida Alvim é coordenadora.

“Através de várias oficinas pedagógicas, trabalha-se com diferentes escolas do concelho de Ourém todo o processo, da produção sustentável ao consumo responsável e participação cívica, tomando consciência do papel determinante que como consumidores podemos ter no desenvolvimento local”, esclarece a coordenadora.

O projeto foi criado em parceria com a Ouremviva, a ATUAR e a Associação Casa Velha, que acolhe as iniciativas, combinando uma intervenção local de capacitação e integração de pequenos agricultores de Ourém com uma intervenção na área da educação para o desenvolvimento junto das escolas concelhias, conforme se lê na página www.projetoaterra.org.

 

O CNE e a ecologia

A “casa do escutismo”

2015-06-30 laudato5O movimento escutista surgiu no início do século passado, pelas mãos de Baden Powell, um brilhante militar e apaixonado pela natureza. Uma paixão que deixou no movimento escutista, elegendo a natureza como a “casa do escutismo” por excelência. A vida na natureza é uma das maravilhas do método educativo do escutismo. Direi sem rodeios: não há escutismo sem relação com a natureza.

Baden Powell, na mensagem que deixou a todos os escuteiros antes da sua partida, identifica precisamente esse deslumbre pela criação: “O estudo da natureza mostrar-vos-á as coisas belas e maravilhosas com que Deus encheu o mundo para vosso deleite”.

O primeiro e indispensável passo para uma cultura de respeito e proteção da natureza é o amor pela criação. A nossa sociedade inconscientemente tende a afastar-nos do contacto do mundo natural, com o intuito da proteção do mesmo, mas o efeito é contrário e perverso. O escuteiro, estando na natureza, conhece-a plenamente, sente-a e torna-se parte dessa família de amor que é a criação.

Um escuteiro, desde tenra idade, é instruído para conseguir com poucos meios “habitar” na natureza. Com ou sem tenda, com mais ou menos apoio de construções em madeira, todo o escuteiro ambiciona tornar-se nativo no seio do meio ambiente que o rodeia. O desejo no íntimo de todo o escuteiro é poder estar permanentemente na natureza, em harmonia, conhecendo-a, respeitando-a e fazendo parte dela.

Na Diocese, somos 34 agrupamentos e posso dizer que foram realizadas, em todos eles, várias atividades de educação ambiental direta, mas também inúmeras atividades de contacto com o meio ambiente. Para além destas atividades, participamos em iniciativas em parceria com municípios, como é o caso do projeto “Planta-me”, que contribui com a plantação de uma centena de árvores anualmente no concelho de Leiria, e com outras iniciativas de limpeza de praias e floresta noutros concelhos da região.

Pedro Ascenso, chefe da região do CNE

 

A Associação Casa Velha

Ecologia e espiritualidade entrelaçadas

2015-06-30 laudato2A Associação Casa Velha é o espaço que acolhe a maioria das iniciativas dinamizadas no âmbito do projeto “aTerra”. Sedeada no Vale Travesso, em Ourém, esta organização sem fins lucrativos de identidade católica dedica-se à ecologia e espiritualidade, conforme descreve Margarida Alvim.

“A partir de uma casa velha de família, numa quinta em declínio, numa zona rural marcada pelo abandono, nasceu um lugar que atrai desde 2009 mais de 1000 pessoas por ano, em mais de 30 atividades. Pessoas à descoberta de si, dos outros, de Deus, que se encontram na experiência de uma vida simples e partilhada, no contacto com a natureza, na oração, no trabalho rural”.

Para dar mais e melhores respostas a este desafio, a Casa Velha – Ecologia e Espiritualidade constituiu-se em 2012 como associação, assumindo coletivamente o compromisso com a ecologia e o desenvolvimento local. “A transformação da Casa Velha tem envolvido, inspirado e transformado muitos dos que cá passam, mostrando como é de facto possível transformar o mundo numa casa com lugar para todos. Este crescimento lento, com poucos recursos e participação de muitos, é uma imagem inspiradora do que deve ser o desenvolvimento sustentável (que é inclusivo e criativo)”, conta Margarida Alvim.

“Ecologia e Espiritualidade é o eixo transversal que vemos como marca de tudo o que vai acontecendo: o cuidar da casa passa em primeiro lugar por esta reciclagem interior, pelo cuidar das relações connosco próprios, com os outros, com Deus”, explica.

A encíclica Laudato Si representa uma grande alegria para esta associação, de tal maneira que em setembro próximo, no dia 11, por ocasião do seu terceiro aniversário, a Casa Velha irá promover a conferência “Cuidar da Casa Comum: que ecologia? Os desafios da nova Encíclica Papa Francisco”. Será das 16h00 às 19h00, na Fundação Calouste Gulbenkian, com entrada livre mediante inscrição prévia. Para mais informações visitar www.casavelha.org.

 

Escola de verão aTerra 2015

De 20 a 24 de julho, realizar-se-á na quinta da Casa Velha, em Ourém, a 2.ª edição da Escola de Verão aTerra, este ano sob o tema “aTerrar a Sustentabilidade em Valores”.

Destinada preferencialmente a estudantes universitários, a iniciativa tem como objetivo analisar estratégias integradas de sustentabilidade rural, em articulação com os desafios globais de desenvolvimento sustentável. A participação é gratuita, incluindo o alojamento, e os interessados deverão inscrever-se até ao dia 10 de julho através de margarida.alvim@fecongd.org.

Mais informações em www.projetoaterra.org.

 

O que é o projeto “aTerra”?

• O projeto “aTerra” divide-se em três componentes: Capacitação e Integração de Pequenos Agricultores e Produtores; Sensibilização e Mobilização de Jovens; Dinamização de Redes Locais para o Desenvolvimento Sustentável.

• Setor de intervenção: Sensibilização e combate às desigualdades sociais, pobreza e exclusão, especialmente em zonas rurais.

• Objetivo: Capacitar e mobilizar pequenos produtores e comunidades escolares do Centro de Portugal para estratégias integradas de sustentabilidade rural em articulação com os desafios globais de desenvolvimento sustentável.

• Problemas identificados: falta de sustentabilidade das zonas de minifúndio do Centro de Portugal (abandono rural e incêndios florestais recorrentes); frágil cooperação entre atores locais e consequente falta de participação nas tomadas de decisão/aderência das políticas; falta de integração de movimentos de transição na realidade do território; necessidade de estilos de vida mais sustentáveis.

• Impactos esperados: jovens, produtores locais e suas famílias mais integrados no território; aumento da área com gestão rural ativa; redes locais reforçadas e ampliadas e maior articulação entre os organismos públicos – cidadãos; maior articulação entre os municípios da região centro, potenciando estratégia de desenvolvimento regional; atores locais refletem sobre sustentabilidade do território, conscientes das interdependências local-global.

(Fonte: www.projetoaterra.org)

 

Outras ações da FEC:

– Projeto M&M – Move-te pela Mudança, que trabalha a cidadania global na disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica;

– Projeto “Semear Portugal, Semear Angola”, que tem vindo a analisar e sensibilizar o desafio do direito humano a uma alimentação adequada a partir de Portugal e Angola, analisando o paradoxo do desperdício alimentar e o aumento das taxas de obesidade por um lado e o flagelo da fome extrema por outro, tema amplamente apresentado pelo Papa Francisco nesta Encíclica;

– Acompanhamento de políticas internacionais em temas como o Direito Humano à alimentação e a Justiça Climática, através da rede internacional de organizações católicas a trabalhar no desenvolvimento e cooperação (CIDSE), onde tem feito um trabalho de reflexão e mobilização por estilos de vida mais sóbrios e paradigmas de desenvolvimento mais justos.

 

 

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