No dia 28 de agosto de cada ano, a Diocese de Leiria-Fátima celebra a festa litúrgica do seu co-padroeiro, S. Agostinho. Como a igreja a ele dedicada na cidade de Leiria está em obras de manutenção e requalificação, a Eucaristia presidida pelo bispo terá lugar apenas depois de concluídas as mesmas. No entanto, em todas as missas deste dia, deverá ser lembrado e festejado o santo padroeiro.
Não se sabe se, aquando da criação da Diocese, lhe foi atribuído ou não um padroeiro, pois a bula pontifícia apenas menciona que a povoação de Leiria estava sujeita ao mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, “da ordem de Santo Agostinho”. O Bispo D. José Alves Correia da Silva refere, em 1955, que quando a Diocese foi restaurada, em 1918, tomou S. Agostinho como seu padroeiro. “Esta escolha – refere o Cónego Luciano Cristino – radicava, certamente, no facto de Leiria ter sido uma vigararia do Mosteiro de Cónegos Regrantes de Santa Cruz de Coimbra, da Ordem de Santo Agostinho, desde o século XII ao ano de 1545, e à semelhança das dioceses de Coimbra e de Viseu, também ligadas à Ordem de Santa Cruz e que também o têm como padroeiro.”
A pedido do bispo D. João Venâncio, o Papa João XXIII, pelo breve “Miris modis”, de 13 de dezembro de 1962, reconhece Nossa Senhora de Fátima e S. Agostinho como padroeiros da Diocese de Leiria, declarando:
“Por antiga tradição têm outrossim o clero e os fiéis da diocese de Leiria como seu patrono ao glorioso Doutor da Igreja Santo Agostinho, cuja alma transbordava de amor a Deus e ainda hoje é capaz de acender nos homens a mesma chama de amor. […]. O nosso Irmão João Pereira Venâncio, Venerando Bispo de Leiria, pediu-nos que lhe déssemos como Padroeira Principal da sua diocese a Bem-aventurada Virgem, sob aquele glorioso título [de Nossa Senhora do Rosário de Fátima], conservando e confirmando ao mesmo tempo o patrocínio de Santo Agostinho. […] Constituímos e declaramos por meio desta carta e para sempre a Nossa Senhora do Rosário da Fátima por Padroeira principal de toda a diocese de Leiria e a Santo Agostinho, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja, por seu segundo padroeiro com todas as honras e privilégios que de direito competem aos Padroeiros locais, ficando nula qualquer disposição em contrário”.
Segundo o cónego Luciano Cristino no seu artigo “A presença agostiniana na Diocese de Leiria”, de 2004, os rastos da influência do grande bispo são sumariamente os seguintes: as ordens agostinianas, nomeadamente os Cónegos Regrantes de Santa Cruz de Coimbra, o convento e igreja de Santo Agostinho de Leiria, o convento do Bom Jesus em Porto de Mós e, recentemente, a ordem dos Cónegos Regrantes e das irmãs de Santa Cruz, em Fátima. Encontramos sinais de devoção e de culto ao santo doutor da Igreja em várias imagens dele: na capela de Santa Marta (paróquia de S. Eufémia), fresco na capela da Conceição (paróquia do Olival), tela na Sé de Leiria (atualmente no museu do Seminário), capela particular em Vilar dos Prazeres (Ourém), imagens na igreja de S. João (Porto de Mós) e na de Marrazes, medalhão na igreja do Juncal e nome do hospital em Ourém (Nossa Senhora da Piedade). No piso inferior da basílica da Santíssima Trindade, no Santuário de Fátima, foi atribuído a um espaço o nome “convívio de S. Agostinho”, onde se têm realizado exposições e outras atividades. Na capela da casa episcopal, existe também um ícone novo do santo padroeiro (ver foto).
Em 2003-2004, celebrando o 1650º aniversário do nascimento de S. Agostinho, sob a liderança do Centro de Formação e Cultura, realizou-se o Ano Agostiniano na Diocese, para fazer penetrar mais profundamente no espírito e no pensamento do seu padroeiro. As iniciativas foram muitas e variadas: jornadas, congresso e cursos de estudo e reflexão, manifestações artísticas, incluindo música, pintura, teatro e exposições, actividades espirituais de meditação e oração, peregrinações, tradução de obras agostinianas. De várias das actividades resultaram também publicações de livros, discos e outras, que testemunham e perpetuam a actualidade da vida e obra do santo Bispo de Hipona. A participação das pessoas foi muito significativa. Fruto desta iniciativa resultou ainda um conjunto de pinturas originais de Irene Gomes sobre textos das Confissões, que foram expostas na igreja de S. Agostinho, em Leiria, e ali permanecem para usufruto de fiéis e do público interessado.
Observando e analisando com atenção o panorama da Diocese, creio que podemos concluir que está ainda pouco enraizada nesta porção do povo de Deus a devoção ao seu santo padroeiro. É um desafio que urge enfrentar com alguma criatividade e zelo, como aconteceu no já referido Ano Agostiniano. O santo bispo e mestre na fé tem muito a ensinar-nos e a ajudar-nos no caminho espiritual da nossa vida pessoal e eclesial.