Carta Pastoral 2018-2020 – Biénio Pastoral sobre ”Jovens, fé e vocação”
A alegria da fé no caminho dos jovens
Cardeal António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
Leiria, 8 de setembro de 2018
Festa da Natividade da Virgem Santa Maria
Refª: CE2018B-009
Caros Diocesanos,
Irmãos e irmãs no Senhor,
A celebração do centenário da restauração da nossa diocese ao longo do ano pastoral findo foi um verdadeiro e forte momento de graça. De vários modos e em diferentes ocasiões, vivemos com empenho e entusiasmo a experiência da alegria de ser Igreja do Senhor nesta região e em missão, em saída ao encontro das periferias humanas e existenciais para levar a todos a alegria do Evangelho.
Nesta sequência, no próximo biénio, queremos sair ao encontro de uma das realidades que neste momento mais solicita o cuidado pastoral e deve estar no centro da nossa atenção, a saber, os jovens com todas as suas novidades e anseios. O próprio Papa Francisco advertiu-o logo no início do pontificado: “A pastoral juvenil, tal como estávamos habituados a desenvolvê-la, sofreu o impacto das mudanças sociais. Nas estruturas ordinárias, os jovens habitualmente não encontram respostas para as suas preocupações, necessidades, problemas e feridas. A nós, adultos, custa-nos ouvi-los com paciência, compreender as suas preocupações ou as suas reivindicações, e aprender a falar-lhes na linguagem que eles entendem. Pela mesma razão, as propostas educacionais não produzem os frutos esperados… Os jovens chamam-nos a despertar e a aumentar a esperança, porque trazem consigo as novas tendências da humanidade e abrem-nos ao futuro, de modo que não fiquemos encalhados na nostalgia de estruturas e costumes que já não são fonte de vida no mundo atual” (EG 105. 108).
1. Programa em sintonia com o caminho sinodal da Igreja
Por feliz coincidência, o Santo Padre convocou um sínodo dos bispos para outubro deste ano, precisamente sobre “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. No discurso à Cúria romana, ressaltou: “este é o sínodo dos jovens e todos nós queremos escutá-los… Escutando as suas aspirações podemos entrever o mundo de amanhã que vem ao nosso encontro e os caminhos que a Igreja é chamada a percorrer”. A preparação do Sínodo veio trazer um maior interesse pelo tema e uma ajuda para a elaboração do nosso programa.
Oferecer aos jovens a alegria da fé através do encontro e da relação pessoal com Cristo, nos seus próprios caminhos de vida e na Igreja, é quanto nos propomos no próximo biénio pastoral. O programa diocesano foi elaborado por uma equipa de colaboradores da pastoral juvenil, vocacional e catequética com os contributos dos vários conselhos diocesanos. A todos agradeço o seu empenho e a sua dedicação. Escrevo esta Carta Pastoral para contextualizar e iluminar as linhas mestras do nosso percurso pastoral sobre o tema “Jovens, Fé e Vocação”, com os seus três objetivos gerais: 1) ajudar os jovens a encontrar e percorrer caminhos de descoberta de Jesus Cristo e da sua proposta de vida e missão; 2) promover o encontro, o acolhimento e a integração dos jovens na comunidade cristã; 3) acompanhar e discernir, em ordem à descoberta da fé e da vocação.
I. UMA MUDANÇA DE ÉPOCA
2. Geração imersa numa nova cultura
Quem é jovem hoje vive a sua própria condição num mundo diverso da geração dos seus pais e dos educadores. Com as transformações económicas e sociais, mudam não só o sistema de relações e oportunidades, mas também os desejos, as necessidades, a sensibilidade, o modo de se relacionar com os outros.
Quando comparamos o mundo em que nascemos e crescemos com o mundo em que nascem e crescem os jovens de hoje, ficamos com a sensação de que viemos dum planeta para outro completamente novo. De facto, estamos a viver não apenas uma época de mudanças, mas uma verdadeira mudança de época. Basta termos presente o fenómeno da globalização a nível económico-financeiro e também sociocultural, que nos põe a pensar e viver a nível global, e a influência das novas tecnologias aos vários níveis: do trabalho, da saúde e da comunicação.
As tecnologias digitais não se limitam a meras capacidades técnicas. Deram origem a uma cultura com impacto profundo sobre as noções de tempo e espaço, a perceção de si, dos outros e do mundo, o modo de comunicar, de aprender, de se informar. Acelera-se o ritmo da vida, vive-se mais o instante, é-se mais atraído pelas emoções. Somos levados a dar mais valor à imagem do que à escuta e à leitura; à relação virtual do que à proximidade pessoal e dialogal. Estas mudanças vertiginosas geram um aumento progressivo da distância entre gerações, de modo que os adultos têm dificuldade em transmitir aos mais novos os valores sobre os quais construíram a sua vida.
Vivemos num mundo plural e pluralista dos pontos de vista cultural, social, político e religioso. Uma mudança de época é, naturalmente, uma época de crise, no duplo sentido de novas chances e novos riscos. Tudo isto influi também no modo de interpretar a dimensão religiosa da vida.
3. Os jovens e a fé: a primeira geração incrédula?
Numa sociedade em que o tempo é medido por um “byte”, ainda há lugar para Deus, para a fé? – interrogava-se uma jovem. O Papa emérito Bento XVI disse um dia que é um verdadeiro milagre hoje ter fé, face à atitude de indiferença religiosa ou até de adversidade na cultura do ocidente. Nós mesmos verificamos que, neste tempo, ser cristão marca a diferença e é particularmente difícil.
Nas nossas comunidades, notamos uma atenção cada vez mais inquieta ao mundo juvenil. Há por vezes uma perceção de um crescente afastamento da fé, sinalizado há algum tempo por um livro com este título muito significativo: “A primeira geração incrédula” (A. Matteo). É um título eficaz, sinal de alarme sobre a situação religiosa da geração juvenil, chamamento à atenção dos pais, educadores, sacerdotes e bispos para uma mudança na relação entre os jovens e os valores religiosos.
Basta um olhar para as assembleias dominicais, na maior parte das igrejas, para nos darmos conta desta mudança profunda que é interpretada como afastamento da fé ou indiferença dos jovens à experiência religiosa, um sinal de estranheza a um sistema de valores que não responde à sua busca de vida e à sua sensibilidade.
Todavia, a relação dos jovens com a fé e a sua pertença confessional é um fenómeno complexo, variado e diferenciado. Não podemos cair no pessimismo dos que afirmam que esta seja a primeira geração incrédula, sem antenas para a fé, que busca a felicidade fora da religião, confundindo o afastamento de muitos jovens da prática cristã com a perda pura e simples da fé ou da busca de sentido.
Há resultados de inquéritos que nos mostram outros cenários. No seu processo de crescimento, muitos jovens abandonam a fé e a Igreja, não por serem insensíveis às grandes questões da existência, mas por considerarem que a religião em que foram formados não está em condições de propor uma visão e um discurso significativos sobre o homem, a vida humana e social, para a consciência e a cultura modernas.
Assim, encontramos um leque variado de situações no campo da fé. Uma parte dos jovens distancia-se de uma religiosidade meramente formal, ritual e burocrática; outros deixam a fé em posição de “stand by”, à espera de eventuais desenvolvimentos; outros mantêm ainda uma ligação débil com as raízes religiosas por motivos culturais ou de tradição; alguns procuram respostas de sentido noutras tradições espirituais, porventura esotéricas; e, por fim, um grupo razoável de jovens, ainda que porventura minoritário, continua fiel à vivência e prática da fé. Eles frequentam as comunidades cristãs, porque vivem nelas experiências humanas e espirituais significativas e envolventes que alimentam uma fé viva de relação com Deus e a sua vida no mundo.
4. Os jovens e a Igreja: desconfiança ou aproximação?
Também em relação à Igreja encontramos posições assaz diferenciadas entre os jovens. É frequente ouvirmos os adultos e os responsáveis da comunidade cristã queixarem-se de que os jovens andam afastados da Igreja. Mas estes, por sua vez, também se queixam de que é a Igreja que está longe deles, dos seus problemas e interesses. Em geral, a Igreja sofre da mesma desconfiança que eles manifestam em relação a tudo o que é institucional. As observações críticas que fazem referem-se, sobretudo, ao anonimato das relações, à passividade das pessoas na comunidade, ao excessivo moralismo e conservadorismo, e às suas linguagens, que consideram antiquadas, abstratas e incompreensíveis. Alguns acham que a Igreja não é necessária para viver a fé, pois reduzem esta a uma dimensão privada de acreditar em Deus “ao meu modo”. Há também os que olham com simpatia para a comunidade cristã e manifestam interesse pela Igreja, sobretudo porque encontraram nela acolhimento, relações calorosas, testemunhos contagiantes. Citam pessoas significativas que encontraram no decurso de experiências, em ocasiões de encontro ou de eventos, em circunstâncias particulares da vida. Todos desejam uma Igreja próxima, acolhedora, inclusiva, misericordiosa, transparente, honesta, dialogante com todos, mais relacional e menos burocrática.
5. Os jovens e a vocação: a cultura da indecisão
Por fim, todo este contexto socio-religioso e eclesial tem reflexo num problema central para os jovens cristãos: a escolha de um projeto de vida à luz da fé, a chamada vocação, que é, em primeiro lugar, seguir Jesus em qualquer estado de vida e em várias opções a fazer ao longo da vida.
Também neste aspeto, os jovens esbarram com dificuldades inéditas, próprias da cultura deste tempo. O mundo atual assemelha-se a um grande supermercado mundial onde estão em exposição e oferta os mais diversos modelos e projetos de vida. As mil atrações, as centenas de encontros, a imensa quantidade de informações e propostas com que são bombardeados confundem, desestabilizam, desorientam qualquer jovem.
Além disso, as mudanças culturais e sociais vertiginosas criam um ambiente de insegurança e incerteza face ao futuro. Tudo parece precário, efémero e provisório. Tem-se medo de arriscar no futuro, de assumir compromissos definitivos. Gera-se assim a cultura da indecisão. Vão-se adiando as grandes escolhas da vida. Tende-se a viver o instante presente gratificante, que por vezes se torna moda dominante. Veja-se como hoje até o casamento civil ou religioso diminuiu drasticamente face às uniões de facto. “Casar hoje é parolo”, ouvi dizer a uma jovem com licenciatura! É urgente gerar uma cultura vocacional e oferecer ajuda de qualidade no discernimento.
6. Que e como fazer?
Na última visita dos bispos portugueses ad limina, em setembro de 2015, o aspeto que o Papa realçou foi “o grande número de adolescentes e jovens que abandonam a prática cristã, depois do sacramento do Crisma”. E lançou perguntas que devemos fazer a nós próprios, enquanto responsáveis da Igreja: “Não pode deixar de nos preocupar a todos esta debandada da juventude, que tem lugar precisamente na idade em que lhe é dado tomar as rédeas da vida nas suas mãos. Perguntemo-nos: Porque se afastam os jovens? É uma decisão que tomam? Ou deixam-se arrastar pela onda (moda) e pelo comodismo? A fé não dá resposta às questões e interrogações que hoje inquietam os jovens? Não será porque há muito deixou de lhes servir o vestido da Primeira Comunhão que teimamos em vestir-lhes?”.
De facto, os jovens não aceitam ser tratados como “infantis”, desejam autonomia e querem ultrapassar o passado, procuram caminhos novos e novas respostas.
Chegados a este ponto surgem as perguntas decisivas: Que fazer? Ceder a um sentimento de impotência, de resignação e desencorajamento face a mudanças tão profundas? Como desenvolver nos jovens uma fé mais pessoal e comunitária, alegre, entusiasta e corajosa? Como oferecer a novidade do Deus de Jesus Cristo a um mundo juvenil que, à partida, não está fechado a uma proposta de salvação e aos valores do espírito, ainda que os interprete mais em chave humana do que religiosa? Como propor-lhes a beleza da mensagem evangélica que é, ao mesmo tempo, humanamente rica e espiritualmente fecunda?
7. Saber descobrir as brasas debaixo da cinza
Para muitos jovens, a questão da fé permanece como as brasas debaixo da cinza: acesa, mas coberta, sem que possa aquecer nem iluminar. Mas está lá. É preciso alguém que consiga soprar a cinza, para que as brasas possam voltar a arder, a aquecer e a iluminar a vida. É necessário ir à procura das brasas que nem sempre são visíveis. Às vezes até pode acontecer que se queimem os dedos, mas só uma Igreja que tenha a coragem de soprar a cinza e de acreditar na presença das brasas debaixo dela pode ter futuro. Elas são sinais de alguma vitalidade religiosa e espiritual.
Onde estão as brasas na vida dos jovens?
– no seu desejo de uma fé pessoal, pois não se crê mais por tradição nem bastam as noções da catequese;
– no sentido de Deus ainda vivo e presente em muitos deles;
– na sua busca de vivências de espiritualidade ou interioridade;
– na sua exigência de uma comunidade cristã viva, onde se cultivem relações fraternas, as pessoas se sintam envolvidas e eles mesmos sejam protagonistas;
– no desejo de linguagens que lancem raízes na vida e não na abstração da doutrina;
– na convicção de que crer é belo, é bênção para uma vida boa e bela com Deus;
– no seu afeto a expressões de piedade popular, que mantêm acesa a débil chama da fé.
II. UM ÍCONE BÍBLICO: OS DOIS DICÍPULOS A CAMINHO DE EMAÚS
8. Narração iluminadora e inspiradora da pastoral juvenil
O Documento de Trabalho do próximo sínodo sobre os jovens usa o ícone evangélico de Emaús como motivo inspirador da reflexão em cada um dos temas principais. Assim, por exemplo, logo na abertura: “Como o Senhor Jesus caminhou com os discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35), também a Igreja é enviada a acompanhar todos os jovens, sem excluir nenhum, em direção à alegria do amor” (n. 1). Posteriormente, especifica: “A exemplo de Jesus, «o primeiro e maior evangelizador» (EG 12), também a comunidade dos crentes é chamada a sair e a encontrar os jovens onde eles estão, reacendendo os seus corações e caminhando com eles (cf. Lc 24, 13-35)” (n. 175).
Por isso, o episódio de Emaús pode ser assumido como símbolo e guia excelente do nosso caminho pastoral. É belíssimo e pode ser meditado sob vários ângulos, todos eles de grande riqueza em relação ao percurso de amadurecimento da vida cristã.
A narração apresenta-nos uma série de ações e palavras que nos introduzem num caminho espiritual e pastoral, feito de experiências existenciais. Sublinham o dinamismo da fé, com os seus momentos progressivos e sucessivos ao mesmo tempo. Vamos então fazer uma leitura meditada deste trecho e descobrir o que nos pode ensinar sobre a pastoral juvenil.
9. O caminho, o acompanhamento e a escuta
Aproximou-Se deles e pôs-Se com eles a caminho.
A primeira experiência é a do caminho de dois discípulos que abandonam Jerusalém e regressam à sua pacata aldeia de origem, Emaús, desiludidos, tristes, confusos, incapazes de compreender a realidade da morte de Jesus e de lidar com ela. Tinham esperado que Ele fosse o Messias e agora… é a desilusão e a amargura! Neste estado de escuridão e abandono, aproxima-se deles um peregrino desconhecido. Acompanha-os, escuta, entra na conversa e une-se à sua inquietação: “De que falais…?”.
Que tem a ver este episódio com os jovens? Que luz lança sobre a questão que nos ocupa?
Os dois discípulos representam todo o homem, em geral, e os jovens, em particular, com as suas histórias carregadas de problemas, feridas, dúvidas, desilusões, medos, fracassos, crises, pouca ou nenhuma fé… Andam à busca de sentido e significado para a sua existência. Enquanto não o encontram, estão tristes, desorientados, inquietos e nervosos consigo mesmos e com os outros. Jesus acompanha estes homens e os jovens nas suas buscas da felicidade. Não começa por lhes fazer uma pregação nem uma pergunta religiosa. Escuta, partilha da sua dor, compreende-os e fala com eles.
Aqui temos uma boa inspiração para a relação da comunidade cristã, dos pastores, dos educadores e animadores com os jovens. “A escuta é a primeira forma de linguagem verdadeira e audaz que os jovens pedem, em voz alta, à Igreja” (IL 65).
Aproximar-se dos jovens, fazer-lhes companhia, abrir diálogo, caminhar com eles, ouvir com paciência as suas questões: sem este primeiro passo, em vão nos afadigamos, perdemos tempo. A nossa tendência é mandá-los sentar e ensiná-los. É desta forma que alguns catequistas se exprimem e agem: “vou dar a lição aos meus alunos”. Eles dirão de outra maneira: “cá temos mais uma seca”. “A nossa missão, dirão os catequistas, é instrui-los, ensiná-los”. Sim, mas a exemplo de Jesus, caminhando com eles, ouvindo-os, compreendendo a sua escuridão e partilhando as suas questões. Eles não têm paciência para sermões, para lamentações sobre a juventude de agora. Não aceitam as comparações recorrentes dos adultos sobre os bons tempos de antigamente. Para os jovens importa mais o presente e o futuro, é essa ajuda que esperam dos adultos e idosos.
O símbolo do caminho, além de incluir o acompanhamento e a escuta, exprime também o dinamismo da fé e da vida cristã. É um caminho que progride, avança no desenvolvimento da perfeição, como dizia Santo Agostinho. É uma imagem mobilizadora, que convida a dar passos para a frente à busca de novos horizontes, experiências, descobertas, encontros e etapas. A nossa tendência é apresentar a vida cristã como uma situação alcançada e instalada, como cumprimento de ritos e preceitos. Ora, no caminho, estes devem entender-se como etapas orientadas para outras novas que se seguem.
10. A Palavra e o discernimento
E … explicou-lhes, em todas as Escrituras, tudo o que Lhe dizia respeito.
A segunda experiência do caminho é a apresentação de Jesus como o Evangelizador por excelência. Estranhamente, parece não dizer nada de novo. Aliás, Jesus repete as palavras que eles já sabiam de memória, mas “explicou” e “abriu as Escrituras” com a sua Palavra e o seu modo de ser, deu sentido e vida às perguntas e respostas que traziam dentro deles.
Fala-lhes à mente e ao coração de modo a descobrirem o amor de Deus que salva, revelado na vida, morte e ressurreição de Jesus. Revela que Ele mesmo é a Palavra. Palavra que ilumina a mente, aquece o coração e assim ajuda a discernir o sentido dos acontecimentos e da vida do discípulo.
A Palavra de Deus é outra base sólida da pastoral juvenil e vocacional. Tem eficácia própria, mas é preciso mastigá-la, ruminá-la, interiorizá-la e pô-la em prática, como fez Nossa Senhora. Podemos ler e folhear, conhecer e explicar sem escutar Deus que nos fala através da Palavra das Escrituras, sem, portanto, entender a Escritura com a sua verdadeira chave de interpretação: “Jesus Cristo” que Se aproxima ainda hoje de nós e nos fala, como fez com os discípulos de Emaús. O Espírito faz ressoar a sua voz nas Escrituras. Nos textos sagrados, Deus vem ao nosso encontro para conversar connosco. Uma coisa é explicar a Escritura como um texto belo e de grande sabedoria e outra é escutar Deus que nos fala nela. A Escritura foi a fonte da pedagogia de Jesus no caminho de Emaús. Ponhamos em prática a recomendação de São Paulo: “A Palavra de Deus está junto de ti, na tua boca e no teu coração” (Rm 10,8). Procuremos torná-la próxima de nós, escutá-la, ruminá-la, interiorizá-la. A experiência pessoal e comunitária da leitura orante da Bíblia permite-nos propô-la aos jovens como oportunidade para um encontro espiritual pessoal com Jesus. E tornar-nos capazes de fazer caminho de crescimento na vida espiritual com eles e de discernimento das importantes escolhas para a sua vida e o seu futuro.
11. O encontro vivo com Cristo Ressuscitado
Fica connosco… e reconheceram-n’O ao partir o pão.
A terceira experiência é o momento em que os discípulos e Jesus se encontram juntos em Emaús, em casa, à mesa. Vivem de facto uma experiência profunda de comunhão, que termina na comunhão do alimento, “na fração do pão”, gesto evocativo da Última Ceia. Então “abriram-se os seus olhos e reconheceram-n’O”: é o momento culminante e prático do reconhecimento de Jesus, do irromper da sua presença: é Ele, é o Senhor!
Aqui está o núcleo central da nossa fé, que deve conduzir toda a pastoral à descoberta da alegria do encontro. Não basta saber a história de Jesus. É preciso senti-l´O vivo, ressuscitado para uma relação viva com Ele. De contrário será reduzido à figura de um grande homem, de um herói ou mártir da história passada.
O início deste encontro à mesa com Jesus é expresso com palavras maravilhosas, com uma prece em tom poético que nos impressiona e comove: “Fica connosco”. Quer dizer: já nos tornámos amigos, acolhemos-Te em nossa casa, queremos estar juntos, não te vás. “Entrou para permanecer com eles” e sentou-Se com eles à mesa. Estamos perante um dos grandes e belos símbolos da amizade.
A pastoral juvenil tem como finalidade aquecer o coração dos jovens com a luz da fé e o calor da esperança e do amor; procura despertar neles o desejo de encontrar Jesus e caminhar com Ele, de integrar a comunidade dos seus discípulos (de permanecer ou regressar a Jerusalém). Seremos capazes de os fazer passar da ideia do cristianismo como um conjunto de obrigações religiosas à descoberta do cristianismo como caminho para a luz, para a perfeição, para a vida em plenitude? Estamos preparados para iluminar a noite que envolve os jovens (e os adultos), de os fazer sair do desânimo para a esperança? De os cativar com a beleza do Evangelho de modo que em vez de se mostrarem fartos, eles peçam também como os discípulos de Emaús: “fica connosco, não Te afastes, temos tantas noites que nos metem medo, tantas desilusões que nos fecham em nós mesmos. Entra peregrino em nossa casa, senta-Te à nossa mesa, abre-nos os olhos da fé e da esperança para vermos o caminho na luz da tua ressurreição, para termos consciência de que caminhas connosco e não nos deixas perder”.
A “fração do pão” designa também a celebração da Eucaristia da comunidade cristã. Devemos interrogar-nos: este episódio não nos convida a viver a Eucaristia à maneira de encontro festivo como em Emaús e não como rotina ou obrigação? Procuremos dar dignidade e qualidade às celebrações da Eucaristia e incentivar a participação de todos, incluindo os jovens, evitando que alguns se tornem donos da celebração da comunidade.
12. Comunidade e missão
Levantando-se, voltaram imediatamente para Jerusalém…
A última experiência é o regresso apressado em missão a Jerusalém, à comunidade que tinham abandonado. Aqueles que descobrem Cristo Ressuscitado não O guardam para si, sentem-se impelidos a comunicar a notícia e a experiência aos outros. São discípulos missionários. Descobrem-se de novo como membros da comunidade, agora toda reunida por Cristo, aberta à missão de levar a alegria do Evangelho ao mundo.
É bela e necessária esta descoberta da Igreja como mãe e casa espiritual, onde somos recebidos como filhos e nos reunimos como família, onde recebemos e alimentamos a vida espiritual, escutamos a mensagem da salvação, onde temos as nossas raízes, a nossa identidade de Povo de Deus.
Assim, para que os jovens se sintam membros vivos da comunidade, esta é chamada a olhá-los com o olhar misericordioso e os critérios de Deus; a oferecer percursos de aproximação à fé menos estandardizados e mais atentos às caraterísticas de cada um; a reconhecer os pequenos passos de progresso de cada um, os diversos níveis de pertença (uns mais comprometidos, outros menos), oferecendo a todos respeito, amizade, acompanhamento. É imprescindível valorizar o seu protagonismo na vida da comunidade através da participação nos vários âmbitos da liturgia, da catequese, da caridade, dos conselhos paroquiais e outros.
Devemos, porém, evitar o risco de os limitar à vida interna da comunidade, querer fazer deles apenas acólitos, leitores ou cantores. Precisamos de dar missão aos jovens,educá-los num estilo de Igreja em saída às periferias do mundo: propor-lhes experiências de caridade que lhes permitam lidar e confrontar-se com as fragilidades humanas; atividades duradoiras de voluntariado com os necessitados, que podem levá-los a sair de si mesmos e do seu mundo virtual para relações diretas e mais humanas; experiências missionárias noutros países ou dentro do nosso país. Há várias propostas concretas neste sentido. Alguns chegam à fé pela via do amor gratuito.
Mais ainda, devem ser educados para o sentido da vida social, da cultura, do trabalho, da escola, da profissão, da política, onde são chamados a dar testemunho de honestidade, fraternidade, serviço, justiça e paz. Precisamos de lhes dar o sentido de missão, para que não sejam jovens de sofá, comodamente sentados, a ver o mundo que passa diante deles na TV.
Confiar responsabilidades aos jovens é o melhor remédio para a “crise de compromisso”!
13. A vocação e o discernimento
Não nos ardia o coração quando Ele nos falava pelo caminho e nos abria as Escrituras?
Após o encontro com Jesus Ressuscitado e o seu reconhecimento, os dois discípulos fazem a leitura da experiência pessoal. Dão-se conta dos efeitos das palavras de Jesus no seu coração e detetam os sinais de transformação que começaram a sentir. Também hoje para os jovens, a escuta do Evangelho, a experiência de oração ou de empenho solidário em favor dos outros e muitas outras vivências e encontros são fundamentais para encontrarem a alegria da fé e da vocação pessoal. É importante prestar atenção e ajudá-los a ler o que sentem e vivem no coração. É um meio para o discernimento espiritual e vocacional.
Se procurarmos penetrar mais no episódio de Emaús verificamos que está lá presente (embora não explicitamente mencionada) mais uma experiência dos dois discípulos. Em todos os momentos do caminho, eles buscam perceber o sentido da história e dos acontecimentos vividos, o sentido e o rumo a dar à vida. Ao longo do caminho, a escuta da Palavra de Jesus, o encontro com Ele à mesa, o reencontro com a comunidade ajudou-os a discernir e fazer a opção de vida. É a questão da vocação e do seu discernimento. O encontro com Cristo abre um novo horizonte e imprime um novo rumo à vida.
O jovem vive na sua história o momento mais importante: decidir o que deve ser o projeto da sua vida. Um jovem cristão é chamado a fazer esta opção à luz da fé em Cristo, quer quanto ao estilo de vida (valores e critérios) quer quanto ao estado ou forma de vida (matrimónio, sacerdócio, vida consagrada, missionária, vida laical no mundo). O conceito de vocação não se restringe ao ser padre ou frade e freira. Toda a vida é uma vocação. Há que promover uma cultura vocacional para não deixar cair a vida na superficialidade e na banalidade. Há que propor e valorizar oportunamente todas as vocações entre o Povo de Deus. Naturalmente, neste mundo fragmentado e confuso exige-se como nunca um discernimento acompanhado e progressivo.
O Papa Francisco oferece-nos uma indicação preciosa: “A pastoral vocacional deve ter o seu «húmus» mais adequado na pastoral juvenil. Pastoral juvenil e pastoral vocacional devem andar de mãos dadas. A pastoral vocacional apoia-se, surge e desenvolve-se na pastoral juvenil. Por outro lado, a pastoral juvenil, para ser dinâmica, completa, eficaz e verdadeiramente formativa, deve estar aberta à dimensão vocacional. O que significa que a dimensão vocacional da pastoral juvenil não é algo que se deve propor só no final de todo o processo ou a um grupo particularmente sensível a uma vocação específica, mas que se deve propor constantemente no decurso de todo o processo de evangelização e de educação na fé dos adolescentes e dos jovens” (Mensagem ao Congresso Internacional sobre a Pastoral Vocacional, 25.11.2017).
Acontece que, nas experiências de serviço, de voluntariado, de missão junto dos mais frágeis ou necessitados, se abrem perspetivas interessantes e fecundas de pastoral juvenil vocacional. Há uma relação profunda entre serviço generoso e discernimento vocacional.
III.ORIENTAÇÕES PASTORAIS
14. As coordenadas para a pastoral juvenil vocacional
Nas melhores práticas em curso na Diocese (nos serviços diocesanos, paróquias, movimentos eclesiais e escolas), no programa para o biénio e nesta carta, temos as coordenadas para a pastoral juvenil – as bases, as fontes, os temas, as metas -, bem como a pedagogia de Jesus: a aproximação, o caminho e o acompanhamento; o entrar no mundo deles, da escuridão que os envolve e na perceção dos seus dons, talentos, inquietações e busca interior; o abrir diálogo, a escuta da Palavra e o discernimento; o encontro e a descoberta de que Ele está vivo; o dinamismo do caminho com etapas; a comunidade e a missão, a vocação e o discernimento.
Além destas bases, há a necessidade de prestar atenção à sensibilidade e caraterísticas dos jovens: a importância do grupo (sentido gregário); a necessidade de relação pessoal com cada um; a importância do silêncio e concentração e, igualmente, da sensibilidade à espiritualidade.
Temos dados suficientes. Trata-se agora de, a partir destes elementos, ponderar juntos, com o método e o processo do discernimento espiritual e pastoral, e identificar as iniciativas a tomar para fazer propostas concretas acessíveis aos jovens. Não como um engenheiro ou gestor. O segredo da eficácia vem do Espírito Santo. Por isso estas fontes têm eficácia, possuem energia própria, que lhes vem do Espírito Santo. É o principal agente da missão da Igreja e, portanto, da pastoral juvenil e vocacional. A comunidade cristã e o animador devem então entender-se como colaboradores do Espírito Santo e tornarem-se atentos e obedientes às suas inspirações e impulsos.
Antes de mais, são decisivas a centralidade e a qualidade espiritual da comunidade cristãcomo horizonte da ação pastoral. Num mundo que leva à dispersão e ao isolamento, o testemunho da fraternidade, da comunhão, do sentir-se acolhido e participante ativo da vida da comunidade e da sua missão permanece o horizonte necessário para inserir a pastoral juvenil e vocacional dentro do seu seio comunitário natural. Toda a comunidade se deve sentir responsável e envolvida nesta causa pastoral, numa colaboração articulada com os movimentos e grupos de jovens.
Não temos receitas pastorais prontas para os tempos de hoje. Mas podemos e devemos valorizar e revitalizar o que já temos e funciona e encontrar novos métodos e meios que possam responder aos desafios e às necessidades dos jovens de hoje.
15. Começar pela conversão de atitudes
Vejamos, pois, algumas propostas: umas que se referem mais a novas atitudes, outras a iniciativas e atividades a implementar e desenvolver.
Em primeiro lugar, devemos atender a uma conversão de atitudes:
– tomar a iniciativa de se aproximar dos jovens, escutá-los nas suas críticas, aspirações, inquietações e exigências e dialogar com eles, sem os julgar e condenar à partida;
– apresentar um cristianismo alegre e atento aos problemas contemporâneos, mencionando ações e testemunhas interpelantes e interrogarmo-nos sobre que rosto de Deus, de Igreja e de vida cristã no mundo transmitimos;
– oferecer a experiência de comunidades cristãs com relações humanas, acolhedoras, calorosas, autênticas;
– falar linguagens claras, compreensíveis, ligadas à vida;
– cuidar da identidade e qualidade das figuras educativas de referência que sejam modelos atrativos, mas coerentes e autênticos, escolhendo e convidando os animadores mais capazes e não qualquer um que se oferece.
16. As propostas do programa diocesano
Temos uma série de propostas concretas de iniciativas e atividades pastorais que já vêm elencadas e calendarizadas no programa elaborado para o biénio. Dispenso-me, pois, de as especificar aqui. Mas gostaria de fazer algumas breves observações de ordem prática.
Estas iniciativas e atividades procuram oferecer e proporcionar experiências de descoberta e aprofundamento da beleza da fé no encontro vivo com Jesus Cristo e de diálogo da fé; experiências de maior integração e protagonismo em vários âmbitos da vida da comunidade; experiências de ação, compromisso e testemunho no campo socio-caritativo; itinerários de descoberta e discernimento da vocação como sentido e projeto a dar à vida à luz da fé. A todas procuremos dar uma caraterística experiencial (não teórica, abstrata) que toque o coração e a vida dos jovens, em linguagens atuais e acessíveis,incluindo as digitais.
Convido todos os colaboradores na ação pastoral (pastores, religiosos e religiosas, dirigentes de movimentos e associações, responsáveis de comunidades religiosas, diretores, professores e educadores nas escolas, particularmente nas católicas…) a pegarem no programa do biénio pastoral, a concretizá-lo com diligência e criatividade e a acrescentar outras atividades fruto da iniciativa própria e da equipa de corresponsáveis.
Para a realização deste programa, há uma forte necessidade de uma“pastoral integrada”,ou seja, a exigência de trabalhar juntamente com a pastoral familiar, educativa, cultural e social, o esforço de maior coordenação, sinergia e integração entre os diversos âmbitos pastorais, bem como entre os diversos agentes, a saber, os jovens, a comunidade, os animadores. O mesmo se diz a propósito da colaboração entre as paróquias em vigararia. Verificamos que há uma dimensão transversal a ter em conta.
Nesta linha devemos procurar conjugar na pastoral juvenil os movimentos eclesiais e outras associações de fiéis existentesna Diocese, que apresentam por vezes iniciativas e dinâmicas novas, têm bastante influência e integram bastantes jovens. É preciso saber aproveitar o seu contributo, apoiando e respeitando o seu carisma, mas também ajudá-los a agir em comunhão eclesial participando na missão comum de serviço aos jovens.
17. Cuidar bem da preparação para o Crisma
Uma atenção particular merece a preparação para o Crisma. Esta é feita, em primeiro lugar, dentro do percurso catequético da iniciação cristã. Neste aspeto, vários pastores e animadores defenderam – e a própria Conferência Episcopal o reconheceu – a urgência de distinguir bem a fase da catequese da infância da dos adolescentes. Esta última requer metodologia e meios próprios e adequados à nova etapa da vida. É um assunto que já está a ser tratado a nível nacional.
Mas existe também a preparação próxima. Aqui, é de grande importância proporcionar experiências que marquem e não apenas encontros doutrinais (por exemplo, retiros, animação de atos de piedade, peregrinações, atividades sociais e caritativas), fortalecer o sentido de grupo e dar atenção a cada um com colóquios pessoais (atendimento personalizado!). Pessoalmente, tenho recomendado que no último ano de preparação, sejam propostos aos crismandos três retiros de um dia ou dois, um em cada trimestre.
Os retiros com jovens, as vigílias de oração e a experiência da viagem e da peregrinação a determinados lugares e eventos espiritualmente significativos (jornadas mundiais e encontros internacionais, Taizé, Fátima, Santiago de Compostela…) têm mostrado uma certa força de atração e com frequência deixam marcas profundas pela vivência que proporcionam. A peregrinação pode ser uma experiência bela de Deus. O peregrino deixa o seu lugar e o seu ritmo quotidiano. O seu coração abre-se, à medida que caminha. Tudo adquire nova dimensão: o tempo conta de modo diferente, os encontros são preciosos, o silêncio fala da própria vida e de Deus, o coração desperta e a Palavra de Deus ressoa por dentro.
Cuidemos, pois, de oferecer aos jovens momentos de oração e reflexão com menos palavras e mais silêncio, com canto e oração participada e partilhada.
18. Os jovens marcados por fragilidades e sofrimento
No esforço pastoral de proporcionar aos jovens a alegria da fé e os ajudar na descoberta da sua vocação não se pode esquecer os que se encontram em situações de fragilidade e sofrimento. É o caso dos reclusos nos estabelecimentos prisionais, os que enveredam por qualquer forma de dependência, os que perdem a casa e a família e ficam a viver na rua sem abrigo. Há ainda os migrantes e refugiados, os doentes e portadores de deficiência e quaisquer outros para quem a vida se tornou penosa ou que vivem sem esperança.
Importa que, neste biénio pastoral, se desenvolvem iniciativas oportunas ou se apoiem as já em ato por parte de serviços pastorais, associações ou movimentos, no sentido de levar o amor de Cristo e o seu Evangelho a estes jovens que passam por situações de especial dificuldade. Também neste campo, a pastoral juvenil vocacional há-se ser inclusiva e agir em colaboração com quantos se ocupam no serviço pastoral e solidário aos jovens mais carenciados de acolhimento, apoio e orientação.
19. “A bênção da juventude”
Termino com uma palavra especial dirigida a cada jovem, em particular: a ti jovem que és uma bênção, como te considera o instrumento de trabalho para o Sínodo.A tua juventude, “uma idade da vida original e entusiasmante” (IL 75), é uma bênção de Deus para ti próprio, para o mundo e para a Igreja. Não deixes que te roubem este dom precioso!
Tens um lugar especial no meu coração de bispo. Como Jesus foi ao encontro dos discípulos de Emaús, também eu e muitos outros na Igreja diocesana queremos ir ao teu encontro, para te escutar, dialogarmos, partilharmos a alegria do Evangelho e da fé e fazermos festa. Eu mesmo irei escrever-te uma carta e espero a tua resposta.
Espero que as comunidades cristãs, as paróquias, as escolas católicas, os movimentos e associações eclesiais e as comunidades de vida consagrada se tornem para ti casas onde te sintas acolhido, escutado e ajudado como nas melhores famílias. Os sacerdotes, os catequistas, os educadores e professores, os religiosos e as religiosas, hão de tornar-se para ti rostos e coração de Jesus que te ama, te compreende e guia. Saberão igualmente reconhecer, apreciar e ajudar a desenvolver os teus talentos, pondo-os ao serviço dos outros, na sociedade e na Igreja através da descoberta da tua vocação pessoal.
20. Precisamos de santos modernos, santos do Século XXI
Não tenhas medo de escutar a voz de Jesus e de ocupar o teu lugar na Igreja e no mundo. E menos ainda de corresponder à meta alta da vocação cristã: a santidade, que é a expressão da beleza espiritual e moral da vida com Cristo. Partilho contigo e com todos um belo texto que encontrei numa revista atribuído a São João Paulo II e que também faço meu. Em certo sentido, coroa esta carta pastoral:
“Precisamos de santos sem véu nem batina. Precisamos de santos de calças de ganga e sapatilhas. Precisamos de santos que vão ao cinema, ouvem música e passeiam com os amigos. (…) Precisamos de santos que tenham tempo cada dia para rezar e que saibam namorar na pureza e na castidade ou que consagrem a sua castidade. Precisamos de santos modernos, santos do Século XXI, com uma espiritualidade inserida no nosso tempo. Precisamos de santos comprometidos com os pobres e as necessárias mudanças sociais.
Precisamos de santos que vivam no mundo, se santifiquem no mundo, que não tenham medo de viver no mundo. Precisamos de santos que sejam internautas (…). Precisamos de santos que amem a Eucaristia e que não tenham vergonha de tomar um refrigerante ou comer pizza ao fim de semana com os amigos.
Precisamos de santos que gostem de cinema, de teatro, de música, de dança, de desporto. Precisamos de santos sociáveis, abertos, normais, alegres, companheiros. Precisamos de santos que estejam no mundo e saibam saborear as coisas puras e boas do mundo, mas que não sejam mundanos”.
Desde as primeiras comunidades cristãs até aos nossos dias encontramos figuras exemplares de jovens santos (Teresinha do Menino Jesus, Pier Giorgio Frassati, Chiara Luce Badano, Guido Schaeffer e Carlo Acutis) e de outros santos que viveram o tempo da sua juventude às vezes por caminhos errantes até chegar à fé, mas que nos mostram como Deus está misteriosamente presente e ativo, como Santo Agostinho, Francisco de Assis e Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein). Espero que possas conhecer e apreciar as suas biografias e o seu testemunho ao longo do biénio pastoral.
21. Oração para o biénio
Convido a todos, adultos e jovens, a fazerem sua e praticarem esta oração do Papa Francisco em ordem ao Sínodo sobre os jovens que adotei e adaptei para o nosso biénio da pastoral juvenil. Façamo-la a título pessoal, mas também na família, nos grupos e nas reuniões.
Senhor Jesus,
a tua Igreja peregrina sobre a terra
dirige o olhar a todos os jovens do mundo.
Pedimos-Te que, com coragem,
assumam a própria vida,
olhem para as realidades mais bonitas e mais profundas
e conservem sempre um coração livre.
Acompanhados por guias sábios e generosos,
ajuda-os a responder ao chamamento
que Tu diriges a cada um deles,
para realizar o próprio projeto de vida
e alcançar a felicidade.
Mantém aberto o seu coração aos grandes sonhos
e torna-os atentos ao bem dos irmãos.
Como o Discípulo amado,
permaneçam também eles ao pé da Cruz
para acolher a tua Mãe, recebendo-a de Ti como dom.
Sejam testemunhas da tua ressurreição
e saibam reconhecer-Te vivo ao lado deles,
anunciando com alegria que Tu és o Senhor.
Amém.
Confiemos o bom êxito do nosso percurso pastoral à intercessão dos nossos Padroeiros, Santo Agostinho e Nossa Senhora de Fátima.
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SIGLAS USADAS
EG: Evangelii Gaudium. Exortação apostólica do Papa Francisco sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual, de 24.11.2013.
IL: Instrumentum Laboris. Os jovens, a fé e o discernimento vocacional. XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, 3-28.10.2018.
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Programa do biénio, objectivos e desenvolvimento pastoral: ver no final do documento abaixo