Lectio divina para o 26º Domingo do Tempo, Ano C

A Igreja celebra neste domingo, último do mês de setembro, o dia mundial do migrante e do refugiado.
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A ousadia de vivermos como irmãos

Lectio Divina para o Domingo XXVI do Tempo Comum (Ano C). 25.9.2022

Breve introdução

A Igreja celebra neste domingo, último do mês de setembro, o dia mundial do migrante e do refugiado. Na sua mensagem para este dia, o Papa Francisco desafia os cristãos a tomar consciência de que vivem neste mundo com os olhos postos na pátria futura, o Céu, e como tal, abraçando a missão de construir um mundo onde todos possam viver em paz e em dignidade, qual antecipação do mundo que há de vir, onde todos viverão como irmãos, sem as desigualdades e descriminações que vemos no mundo presente. Para isso, é preciso reconhecer em todos, sobretudo nos mais frágeis, como os migrantes e refugiados, um irmão com quem somos convidados a construir o futuro. Deixemo-nos tocar pela Palavra de Deus neste dia, de modo que possa despertar em nós o desejo de nos abrirmos à vida do outro, na construção de um mundo mais justo e fraterno.  

1. Invocação

Senhor, derramai sobre nós o vosso olhar
e enviai o Espírito Santo aos nossos corações:
que Ele nos faça dóceis à Palavra que vamos escutar
e corajosos para a pôr em prática.
Ámen

2. Escuta da Palavra de Deus

2.1. Vamos ouvir um excerto do Evangelho segundo S. Lucas

As parábolas eram poderosos instrumentos da pregação de Jesus, muitas vezes usadas para tocar os corações daqueles que tinham dificuldade em acolher a Boa Nova anunciada. 

Na parábola que vamos escutar, Jesus faz um jogo de contrastes entre a vida terrena de um rico avarento e a de um pobre e a inversão dos papéis no Reino dos Céus, mostrando como a participação nos bens do Céu implica a partilha dos bens da terra, onde somos chamados a antecipar a vida celeste. 

2.2. Leitura do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. Lucas (Lc 16, 19-31)

Naquele tempo, disse Jesus aos fariseus: «Havia um homem rico, que se vestia de púrpura e linho fino e se banqueteava esplendidamente todos os dias. Um pobre, chamado Lázaro, jazia junto do seu portão, coberto de chagas. Bem desejava saciar-se do que caía da mesa do rico, mas até os cães vinham lamber-lhe as chagas. Ora sucedeu que o pobre morreu e foi colocado pelos Anjos ao lado de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. Na mansão dos mortos, estando em tormentos, levantou os olhos e viu Abraão com Lázaro a seu lado. Então ergueu a voz e disse: ‘Pai Abraão, tem compaixão de mim. Envia Lázaro, para que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nestas chamas’. Abraão respondeu-lhe: ‘Filho, lembra-te que recebeste os teus bens em vida e Lázaro apenas os males. Por isso, agora ele encontra-se aqui consolado, enquanto tu és atormentado. Além disso, há entre nós e vós um grande abismo, de modo que se alguém quisesse passar daqui para junto de vós, ou daí para junto de nós, não poderia fazê-lo’. O rico insistiu: ‘Então peço-te, ó pai, que mandes Lázaro à minha casa paterna – pois tenho cinco irmãos – para que os previna, a fim de que não venham também para este lugar de tormento’. Disse-lhe Abraão: ‘Eles têm Moisés e os Profetas: que os oiçam’. Mas ele insistiu: ‘Não, pai Abraão. Se algum dos mortos for ter com eles, arrepender-se-ão’. Abraão respondeu-lhe: ‘Se não dão ouvidos a Moisés nem aos Profetas, também não se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dos mortos’».

2.3. Breve comentário

Muitas vezes, esta parábola é lida como uma forma de justiça retributiva na qual os dons recebidos em terra não serão recebidos no Céu, enquanto aqueles dos quais fomos privados em vida, serão dados na eternidade. Ou então como um aviso que nos coloca em sentido: tudo o que não dermos hoje aos nossos irmãos mais necessitados ser-nos-á um dia negado na vida eterna. Mas ambas as leituras não fazem justiça ao grande anúncio que Jesus nos traz: a vida eterna é um dom de Deus, e não uma questão de justiça retributiva. Todavia, a fé nesse grandioso dom que nos espera deve impelir-nos a começar já neste mundo a construir o Céu, antecipando para o hoje da história aquilo que um dia viveremos de forma definitiva. 

Num Reino onde todos viveremos como irmãos, Filhos do mesmo Pai que está nos Céus, e onde todos partilharemos os mesmos dons – os de Deus – não há desigualdades, injustiças, carências. Tudo será pleno e todos viveremos plenamente. Mas não é isto que verificamos nos dias de hoje. Ao nosso lado vivem irmãos que sofrem, carentes dos bens essenciais, e tantas vezes desprezados, homens e mulheres sem rosto a quem ninguém acode, com quem ninguém partilha a vida e o tempo. Se queremos antecipar a vida do Céu para este mundo, o nosso coração deve voltar-se para o próximo, sobretudo para os mais pequeninos, socorrendo as suas necessidades e partilhando os bens terrenos, na certeza que a partilha e a comunhão são realidades que antecipam os bens do Céu. 

3. Silêncio meditativo e diálogo

Havia um homem rico, que se vestia de púrpura e linho fino e se banqueteava esplendidamente todos os dias. Um pobre, chamado Lázaro, jazia junto do seu portão, coberto de chagas.

Esta parábola de Jesus começa com um escandaloso contraste: um rico que vivia de forma exuberante, e um pobre, deitado ao portão de casa do rico, passando necessidade. Se formos dóceis à Palavra de Deus, o choque inicial não pode ser maior. 

Como é que o início desta parábola me provoca? Faz-me tomar consciência dos contrastes do mundo em que vivo? E na minha vida, que contrastes encontro? Em que momentos me comportei como o homem rico? Já houve algum momento em que me senti pobre e necessitado, sem que ninguém viesse em meu auxílio?

Pai Abraão, tem compaixão de mim. Envia Lázaro, para que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nestas chamas.

Atormentado na vida futura, o rico suplica por ajuda, e vê em Lázaro, não um irmão, mas um servo, que pode ser colocado à sua disposição, socorrendo as suas aflições, o mesmo Lázaro que em vida o rico sempre ignorou. 

Como olho para aqueles que habitam o meu dia-a-dia? Reconheço no próximo um irmão com quem sou convidado a partilhar a vida, ou tantas vezes vivo a partir de relações de interesse, olhando para o outro não como um irmão, mas como um recurso capaz de satisfazer as minhas ambições? Nos tempos de prosperidade, sou capaz de estar atento aos que vivem ao meu redor, ou fecho-me na ilusão de ser autossuficiente? Na Eucaristia, reconheço todos como irmãos, saciados à volta da mesma mesa? Como é que isso me impele à partilha?

Abraão respondeu-lhe: ‘Se não dão ouvidos a Moisés nem aos Profetas, também não se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dos mortos’».

Consciente das más opções da sua vida, o homem rico pede a Abraão que envie Lázaro a avisar os seus irmãos de modo que não caiam na mesma desgraça. Mas a resposta de Abraão é desconcertante: o problema não era a falta de aviso, mas a dureza de coração.

Quando medito na Palavra de Deus, sou capaz de acolher as suas provocações, ou sinto-me incapaz de a aplicar na minha vida? De onde me vem essa dificuldade? O que farei com a Palavra que hoje rezei? Como olharei daqui em diante para aqueles que vivem diante de mim, sobretudo os mais frágeis e necessitados?

4. Oração final e gesto

Rezamos juntos a Oração do Papa Francisco para 108º dia mundial do migrante e do refugiado, como compromisso de uma conversão que nos torne mais atento ao próximo:

Senhor, tornai-nos portadores de esperança,
para que, onde houver escuridão, reine a vossa luz
e, onde houver resignação, renasça a confiança no futuro.
Senhor, tornai-nos instrumentos da vossa justiça,
para que, onde houver exclusão, floresça a fraternidade
e, onde houver ganância, prospere a partilha.
Senhor, tornai-nos construtores do vosso Reino
juntamente com os migrantes e os refugiados
e com todos os habitantes das periferias.
Senhor, fazei que aprendamos como é belo vivermos,
todos, como irmãos e irmãs. Ámen.

Repositório LECTIO DIVINA
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