No dia 1 de julho de 1972, o Papa Paulo VI nomeava bispo de Leiria D. Alberto Cosme do Amaral, que nasceu em Touro, concelho de Vila Nova de Paiva, Diocese de Lamego. Tendo sido ordenado presbítero a 13 de julho de 1939, foi nomeado bispo titular de Tagária e auxiliar do administrador apostólico da Diocese do Porto, D. Florentino de Andrade e Silva, a 8 de julho de 1964.
Foi ordenado bispo no dia 23 de agosto desse ano, na Sé do Porto. Nessa qualidade, participou no II Concílio Vaticano (1964-1965). A 21 de agosto de 1969, foi nomeado bispo auxiliar de D. Frei Francisco Rendeiro, bispo de Coimbra. Depois da morte deste, foi nomeado vigário capitular da diocese, a 19 de maio de 1971, e a 1 de julho do ano seguinte, bispo de Leiria, tomando posse a 10 de setembro de 1972.
Do que foi a sua atuação pastoral na Diocese de Leiria (desde 1984, chamada Leiria-Fátima), durante 20 anos, ficou um valioso testemunho no primeiro número do Órgão Oficial da Diocese, que citamos: “Se quisermos caracterizar globalmente a sua ação, poderemos fazê-lo com dois termos: palavra e silêncio. O primeiro exprime a sua grande preocupação de ensinar a doutrina cristã a todos os membros da Igreja e de a propor aos outros homens. O segundo traduz a dimensão contemplativa, orante, mística, da sua vida: entregue e voltado totalmente para Deus, para Ele procurou orientar e conduzir os homens”.
Mas não deixou de lançar mãos ao múnus pastoral, procurando atualizar a Diocese segundo as orientações do Concílio, consciente das limitações de uma Igreja de pequenas dimensões e com relativa falta de quadros, tanto ao nível sacerdotal como laical. O seu esforço é evidente no estudo elaborado pela vigararia episcopal para a coordenação pastoral sobre as estruturas, serviços e movimentos diocesanos, dividido em três partes: “a primeira diz respeito às estruturas de governo, administração e consulta, bem como as duas instituições particularmente importantes na Diocese (o Seminário e o Santuário de Fátima); a segunda trata dos serviços pastorais que podem ser considerados executivos da pastoral diocesana nos seus diversos sectores vitais; a terceira apresenta os movimentos de espiritualidade e de apostolado existente na Diocese”.
Na mesma linha, no princípio do ano de 1976, alterou profundamente a divisão vicarial, que permanecente basicamente até aos nossos dias: Batalha, Caxarias [só esta já não existe, fundida com Ourém], Colmeias, Fátima, Leiria, Marinha Grande, Milagres, Monte Real, Ourém e Porto de Mós. Durante o seu governo episcopal, foram criadas cinco paróquias: Meirinhas (24.04.1986), Cercal (03.01.1993), Matas (03.01.1993), Bidoeira (03.01.1993) e Memória (03.01.1993).
Entre 1976 e 1981, fez uma visita pastoral por todas as comunidades da Diocese, promovendo encontros com crianças, jovens e adultos, visitando doentes, rezando e celebrando com as comunidades, informando-se sobre a realidade eclesial e social de todas as paróquias e deixando indicações para caminharem na ortodoxia da fé e na coerência de vida cristã. No comunicado que leu no final desta experiência, em abril de 1981, no Santuário de Fátima, afirmava: “Há muitos espaços pastorais que os nossos sacerdotes não podem cobrir porque são poucos, e débeis as suas capacidades de resposta, perante as necessidades cada vez mais prementes”. Identificava a pastoral vocacional como “absoluta prioridade” e pedia aos padres “que se dediquem ao ministério sacerdotal 24 horas por dia e deixem aos leigos tarefas que eles podem realizar, para que os sacerdotes tenham tempo, saúde e disponibilidade para fazerem o que só eles podem fazer: ministério da Palavra e ministério dos Sacramentos”.
D. Alberto teve a alegria de receber no Santuário de Fátima a peregrinação particular do Cardeal Albino Luciani, futuro João Paulo I, a 10 de julho de 1977, e duas peregrinações do Papa João Paulo II, a 13 de maio de 1982 e de 1991, respetivamente primeiro e décimo aniversário do atentado da Praça de S. Pedro contra a vida do Papa. Acompanhou a Roma a Imagem de Nossa Senhora de Fátima, diante da qual o Papa João Paulo II fez mais uma consagração do Mundo ao Imaculado Coração de Maria, no dia 25 de março de 1984, menos de dois meses antes de este Papa ter concedido à Diocese o título de Leiria-Fátima (bula de 13 de maio de 1984).
E foi o mesmo Papa que aceitou, a 3 de fevereiro de 1993, o pedido de renúncia de D. Alberto, feito em devido tempo, segundo as normas canónicas. Fixou residência no Santuário de Fátima, onde viria a ser tumulado, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, três dias após o falecimento, aos 88 anos, a 7 de outubro de 2005.
Luís Miguel Ferraz
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