42 – Cónego Carlos de Azevedo, o zeloso administrador e investigador

O Cónego Carlos Duarte Gonçalves de Azevedo nasceu a 28-09-1910 em Parada de Tibães (Braga), e ali faleceu a 4 de Maio de 1986. Era filho de José António Gonçalves de Azevedo e de D. Ana Duarte Gonçalves de Azevedo e membro duma numerosa e cristianíssima família. Os jornais de Leiria, de Fátima e, pelo menos, um de Lisboa, o “Diário Popular”, de 6-5-1986, deram a notícia do passamento.

Tínhamos 16 anos quando o conhecemos, lá pelos idos de 1972. Foi num Curso de Formação Juvenil, no âmbito da Mocidade Portuguesa, realizado no seminário do Verbo Divino, em Fátima, sob a sua orientação. Pela sua mão iniciámos a nossa actividade nos jornais de Leiria, “bichinho” que nunca mais nos abandonou. Depois desse curso, encontrávamo-nos regularmente no Paço Episcopal, onde tinha o seu gabinete. Fumava tabaco através de cachimbo. Um dia, aconselhando a que nunca fumássemos, desmontou o cachimbo depois de ter estado a fumar e, limpando as suas peças a um guardanapo branco, mostrou-nos as manchas pretas e espessas, de alcatrão, que ficaram no guardanapo. «Se fumares, é assim pretos que ficarão os teus pulmões!»

Falava pausadamente, com uma voz grave, mas muito doce. O que dizia expressava com sabedoria. Era gostoso falar com ele. E deve ter achado que nos afeiçoáramos aos seus desafios, porque nos recebia sempre com cordialidade. Mais tarde, lá por meados dos anos 80, ainda pernoitámos em casa dele, na sua terra natal, em Parada de Tibães, arredores de Braga. Morreria pouco depois. Carlos de Azevedo, o Cónego Carlos Duarte Gonçalves de Azevedo.

O Padre José Fernandes de Almeida, muito seu amigo, traçou, em Abril de 1985, um perfil dele no jornal “O Mensageiro”. Chamava-lhe «bom colega, amigo e companheiro, de tempos que não voltam à Rua Marcos de Portugal» (onde foi o Seminário de Leiria). Eis a fotografia escrita:

«Vindo lá das terras dos Arcebispos, freguesia de Parada, por feliz transplantação, operada pelas mãos delicadas e operosas do grande bispo D. José Alves Correia da Silva, matriculou-se no seminário de Leiria no ano escolar de 1922-1923. Entraram com ele, nesse ano (salvo erro), mais cinco [seis] companheiros, a saber: – Manuel Leal Curado, José Francisco Pereira Rino, António de Oliveira Santos, António da Silva (Bonifácio), Augusto de Sousa e Higino Lopes Pereira Duarte. (…) O Carlos era igualmente bom rapaz, de boa cepa, maneiras delicadas e atiladas, como fruto natural do lar cristão donde fora retranchado. Tinha apenas um pequenino senão, a que nós, aliás, achávamos a sua graça: – raspava um bocadinho no r.

Passaram-se os anos (e já lá vão tantos!), e, com umas tinturas de Santo Inácio, que o ajudaram a plasmar-lhe a alma sacerdotal, ei-lo ordenado de presbítero, no dia 4-IV-1935, e a subir os degraus da Basílica de Fátima, no dia seguinte, sob os auspícios e o olhar carinhoso Daquela, a Quem ele iria dedicar o seu futuro livro: – “Porque apareceu Nossa Senhora na Fátima?” e uma parte notável das suas actividades sacerdotais. (…) Professor do seminário, onde estudara, fâmulo-confidente do Exm.º Prelado, administrador e colaborador da “Voz da Fátima”, colaborador distinto e apreciado de “A Voz do Domingo”, capelão do Mosteiro da Visitação, na Faniqueira (Batalha), e capelão igualmente dedicado e zeloso do Santuário da Fátima, até Julho de 1957, etc., – a sua folha de serviços à diocese de Leiria e à Igreja em geral, está, na verdade, abarrotada de indiscutíveis merecimentos. Apreciador dos seus méritos e virtudes, o Sr. D. José Alves Correia de Silva houve por bem nomeá-lo cónego honorário da Sé Catedral de Leiria, por Provisão de 25-VII-1951. Com as modificações que se deram no governo da diocese, após a morte daquele Prelado, nomeação e resignação do seu sucessor, D. João Pereira Venâncio, e tomada de posse de D. Alberto Cosme do Amaral, o Reverendo Cónego Carlos eximiu-se, devidamente autorizado, à presença e aos serviços de diocese, regressando à Bracara Augusta (…).»

Terminado o curso preparatório em Leiria, entrou em 1928 no noviciado da Companhia de Jesus, em Oya, Espanha, regressando, em 1931, para cursar Teologia e terminar os seus estudos sacerdotais. Foi ordenado sacerdote pelo sr. Bispo D. José Alves Correia da Silva em 06-04-1935. Para além das actividades indicadas, foi também capelão do Carmelo de S. José, em Fátima, e Coadjutor do Santuário de Fátima.

Secretário particular do Bispo D. João Pereira Venâncio e cónego honorário da Sé de Leiria, foi ainda professor do Seminário Diocesano e director espiritual do Seminário Menor que, no ano de 1951, começou a funcionar em Fátima. Em 4-10-1962, ficou a substituir o sr. Bispo D. João Pereira Venâncio, durante a sua ausência no Concílio Vaticano II, como pró-vigário geral, cargo em que foi confirmado por provisão de 5-10-1971. Foi ainda director diocesano da Obra Católica das Migrações e assistente religioso da Mocidade Portuguesa, onde realizou um notável trabalho de formação moral e religiosa da juventude. Finalmente, em Janeiro de 1973, retirou-se, a seu pedido, para a sua casa da Parada de Tibães, onde veio a falecer.

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Alma de artista, dedicava-se nas horas vagas à pintura e ao cultivo das letras, escrevendo algumas obras de referência, entre elas “Porque apareceu Nossa Senhora na Fátima? – História, Lendas, Tradições” (220 páginas), ed. da Gráfica de Leiria, em 1944. Foi também o autor do extenso capítulo “Nossa Senhora de Fátima Peregrina do Mundo”, inserto no 3.º volume da obra monumental “Fátima – Altar do Mundo”, intitulado “A Imagem Peregrina” (Porto, Ocidental Editora, 1955). A obra teve direcção literária do Dr. João Ameal (da Academia Portuguesa da História) e direcção artística de Luís Reis-Santos (historiador de Arte e Director do Museu Machado de Castro, de Coimbra). Escreveu ainda o livrinho “E do Céu o vieram buscar…”, que é a história da morte prematura de um jovem seu conhecido.

Era particularmente amigo do Cónego José Ferreira de Lacerda, que foi Reitor do Santuário dos Milagres, pároco daquela freguesia e fundador do jornal “O Mensageiro” (1914), de Leiria. Na sua posse deve ter estado um importante manuscrito que dá pelo título de “Lysea Victoriosa”, da autoria dum alegado “presbítero leiriense” José Joaquim de Figueiredo Saraiva, conforme se pode ver na cópia das notas que nos foi facultada. Trata-se de um documento manuscrito no qual foi anotado: «Copiei estas notas dum velho papel que me foi emprestado pelo Senhor Cónego Lacerda, Reitor dos Milagres. Leiria, 4 de Maio de 1966/ Pe. Carlos de Azevedo». Estas notas, que nos foram confiadas pelo Cónego Carlos de Azevedo, dizem respeito às invasões francesas (1808-1811) e já foram por nós publicadas em sua memória.

Pelo imenso rol de funções que exerceu, sempre de grande responsabilidade, e pela variedade dos seus interesses, designadamente culturais e artísticos, e muito particularmente pelos livros que escreveu, o Cónego Carlos de Azevedo prestou à Diocese de Leiria um serviço de grande relevância que merece um destaque e o nosso reconhecimento.

Elementos recolhidos por Carlos Fernandes

 


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