Quase desde a sua fundação, em 1545, até à sua extinção consumada, em 1882, a diocese teve como paço episcopal o edifício mandado fazer pelo seu primeiro bispo, D. Frei Brás de Barros, no largo defronte das portas do castelo.
Após a extinção, o edifício passou para a Diocese de Coimbra, mas viria a ser nacionalizado pela República de 1910. É onde funciona atualmente a PSP de Leiria.
Apesar de a Restauração da Diocese ter ocorrido em janeiro de 1918, o primeiro bispo, D. José Alves Correia da Silva, só viria a ser nomeado quase dois anos e meio depois, tendo chegado a Leiria a 5 de agosto de 1920. Não havendo paço, ficou a residir num edifício pertencente à família Charters, no Largo Cândido dos Reis (em 1657, este largo chamava-se “Terreiro das Camarinhas”; em 1809, “Terreiro”; em 18.12.1877, “Largo de D. Maria Pia”; e desde 10.10.1910, “Largo Cândido dos Reis”, embora continue a ser conhecido por “Terreiro”[1]).
Segundo informação do cónego José de Oliveira Rosa[2], pelos anos de 1933-1934, D. José ainda aí habitava, porque, quando o cónego Augusto de Sousa Maia, que era secretário particular do Bispo e professor de História no Seminário, adoecia, os alunos eram chamados a ir ao Paço Episcopal, que ainda era naquele largo.
Também o cónego Francisco Vieira da Rosa recordava que, pelos anos de 1935-1936, quando fez uma operação a uma hérnia, parece-lhe que ainda era aí a residência do Bispo. Mas, quando foi colocado na paróquia de Minde, em dezembro de 1939, já D. José habitava na residência no que, em 18 de dezembro de 1877, se chamava Largo do Mindelo (popularmente, Largo do Moita; em 5 de julho de 1937, Largo do Dr. Oliveira Salazar; e, depois de 25 de abril de 1974, Largo das Forças Armadas[3]).
Este edifício foi doado por José da Silva Santos, com reserva de usufruto. No entanto, segundo o padre Henrique Fernandes da Fonseca, D. José comprou esse usufruto. O jornalista Manuel Matias Crespo escreveu: “A esse Prelado [D. José Alves Correia da Silva], ouvimos dizer que comprara tal edifício [no Largo do Mindelo], porque ele tinha largo recinto em frente, que serviria (como serviu, dezenas de anos) para as grandes aglomerações de católicos diocesanos durante a tradicional festividade do Corpo de Deus entre nós”[4].
No mesmo artigo, diz: “Num postal antigo, datado de 1889, com 100 anos, que apresentamos, vê-se que o jardim citadino (o 1.º em boa forma) estava no começo, apenas com os canteiros de terra quebrados e não se via nessa fotografia o edifício que veio a ser aproveitado na década de vinte [?], deste século, para residência do Prelado Diocesano, D. José Alves Correia da Silva”.
Deve dizer-se, porém, que a margem direita da gravura em causa, da autoria de J. R. Cristino, 1889, não parece abranger a fachada do edifício que, mais tarde, serviu de paço episcopal, pois apenas se vê uma pequena parte do edifício, que está à entrada da Rua da Vitória (que dá para o Largo Paio Guterres ou do Gato Preto) e depois para o Largo da Sé, que está longe do alinhamento daquela fachada[5].
Há um estudo que descreve a evolução histórica deste edifício e do seu recheio artístico, que infelizmente desapareceu, aquando da infeliz remodelação daquele espaço, com a limpeza geral do interior do Paço, cujo rés-do-chão esteve ocupado com uma loja de modas e o primeiro andar com uma repartição dos Correios. No rés-do-chão das traseiras do edifício existiram a loja e as oficinas da Gráfica de Leiria. Este espaço todo foi demolido e foi completamente esvaziado até um nível inferior do rés-do-chão do edifício já referido. Foi feita uma investigação arqueológica, em que apareceu um arco de uns moinhos ali existentes, possivelmente ocupada desde a Idade Média.
Paço novo
A actual residência episcopal situa-se na Rua Joaquim Ribeiro Carvalho. Segundo o padre António Lopes de Sousa, que acompanhou a obra, esta foi mandada edificar por D. Alberto Cosme do Amaral e começou no ano de 1977, no lugar onde existia uma moradia do professor António Fernandes, que a vendeu ao Bispo e se transferiu para um apartamento do bairro.
O projeto é do arquiteto alemão Karl Ruff. A inauguração solene foi no dia 13 de maio de 1978, mas o D. Alberto só se transferiu para lá em 16 de novembro desse ano e voltou a fazer-se inauguração “oficial” no ano seguinte. É o que conta “A Voz do Domingo”[6] nesta notícia (acrescentamos entre [ ] alguns esclarecimentos):
«Pela Cidade – Nova Casa Episcopal – Oferta de um grupo de católicos alemães [por influência do Padre Luís Kondor], que há um ano [1978] a entregaram simbolicamente ao Prelado da Diocese, foi, no domingo passado, 13 de Maio, benzida e inaugurada a nova casa episcopal, cuja primeira pedra havia sido lançada no mesmo dia do ano passado [queria dizer 13 de Maio de 1977]. Fica situada na encosta da Quinta da Bela Vista, sobranceira ao Seminário Diocesano. Ao acto inaugural presidiram os Cardeais [Avelar Brandão] Vilela e [Franjo] Seper, que haviam tomado parte na peregrinação ao Santuário de Fátima, o último dos quais lançou a bênção ritual sobre o edifício e suas dependências.
«Presentes à inauguração, além do sr. Bispo, diversos sacerdotes [entre os quais, os vigários, entre eles, o Padre Fernando Pereira Ferreira, Pe. António Lopes de Sousa, secretário do Sr. Bispo, Pe. Luís Kondor, e outros] e o sr. Presidente da Câmara Municipal e, claro, o grupo de católicos alemães que estiveram na origem da construção.
«Visitadas as dependências da casa, trocaram-se saudações entre os ofertantes e o Sr. Bispo, que agradeceu tão grande dádiva à Igreja diocesana.
«Num restaurante da Cova da Iria [Hotel de Santa Maria] seguiu-se uma refeição [jantar] que deu ocasião a novos brindes, um dos quais do sr. Presidente da Câmara de Leiria”.»
O bispo D. Alberto Cosme do Amaral viveu no Paço Episcopal novo até à aceitação do seu pedido de resignação pelo Papa João Paulo II, em 2003, mudando-se para o Santuário de Fátima e, depois, para a Casa Diocesana do Clero de Leiria-Fátima, até à sua morte, a 7 de Outubro de 2005.
No novo Paço de Leiria residiu o bispo D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, já desde o momento em que foi nomeado Bispo Coadjutor de Leiria-Fátima e, depois, até à própria resignação, em 2006, em que se transferiu também para o Santuário de Fátima.
No mesmo Paço de Leiria passou a residir o D. António Augusto dos Santos Marto, desde que entrou na Diocese de Leiria-Fátima, em 25 de junho de 2006.
P. Luciano Cristino
[1] Cf. João Cabral, Anais do Município de Leiria, vol. III, 2ª edição, 1993, p. 315 e 323
[2] Este e outros testemunhos citados de padres da Diocese foram recolhidos em 2002.
[3] Cf. João Cabral, ibidem, p. 316 e 324
[4] “O Mensageiro”, Leiria, 75 (3710) 16 Fev. 1989
[5]L. Cristino (2002-07-12) Patrim/PAÇOS EPISCOPAIS).
[6] “A Voz do Domingo”, 47 (2404) de 20 de Maio de 1979
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