31 – D. Manuel Correia de Bastos Pina, bispo de Coimbra e também de Leiria (1882-1913)

D. Manuel Correia de Bastos Pina foi bispo de Coimbra, conde de Arganil, conselheiro del-rei, comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e Par do Reino, entre outras distinções. Nasceu na freguesia da Carregosa (Oliveira de Azeméis), em 1830, tornando-se bispo de Coimbra em 1872, em cuja cátedra se manteve até à sua morte, no ano de 1913.

De espiritualidade profundamente mariana, fundou, na sua terra natal, o Santuário de Nossa Senhora de Lourdes, inaugurado em 1902.

A 30 de setembro de 1882, em Coimbra, D. Manuel de Bastos Pina assinava a Provisão pela qual desligava do Bispado de Coimbra algumas freguesias, que passavam para os Bispados de Viseu e da Guarda, e assumia a jurisdição de outras muitas paróquias, entre elas 25 da extinta diocese leiriense, que passavam para Coimbra, em virtude das Letras Apostólicas do Santo Padre Leão XIII, de 1881, e do decreto executorial assinado pelo Cardeal D. Américo, bispo do Porto, no ano seguinte, para além de outra legislação civil regulamentadora do processo de supressão dos bispados portugueses de Aveiro, Castelo Branco, Elvas, Leiria e Pinhel.

D. Manuel de Bastos Pina não escondia, na provisão e pastoral que dirigiu aos seus novos fiéis, em 1882, a «profunda magua» e desgosto pelo contexto epocal que o obrigava a aplicar, nesta matéria, as determinações da Igreja e do Estado português. Não o podia evitar. Na primeira provisão dirigida aos seus diocesanos, D. Manuel saudou e abençoou estes seus fiéis que então passavam a incorporar a Diocese de Coimbra, desculpando-se «se, em vez de jubilos e alegrias, vedes penas e receios n’estas nossas primeiras saudações; mas a verdade que vos devemos», escreveu, «não nos permite que n’este primeiro encontro do nosso coração com o vossos, vos occultemos os sentimentos da nossa alma ainda os mais intimos.»

O Bispo Conde mostrou-se muito elogioso, ainda e também, para com o clero leiriense nesta sua provisão: «Da Diocese de Leiria», escreveu, «cujo Clero foi sempre notado como modelo de disciplina, de religião e piedade pelo cuidado e esmero que tem havido em o educar e instruir no respectivo seminario, tanto em antigos tempos como n’estes ultimos; e cujos fieis, correspondendo ao zelo dos seus Pastores, estão constantemente dando provas da sua fé e piedade, dos seus sentimentos christãos e honestidade de costumes, e da sua obediencia ás decisões da Sancta Egreja e á voz dos seus Ministros.» (Provisão…, p. 13). Comprometia-se a tudo fazer para tornar menos incómodos ou onerosos os cumprimentos dos deveres religiosos por parte dos clérigos e dos fiéis das dioceses suprimidas, afirmando o seu desejo de residir «alguma parte do tempo nas cidades de Aveiro e de Leiria, além d’outras razões, para n’ellas pontificarmos, e por cujo motivo alli conservaremos sempre o pouco, pouquissimo que lá tem as respectivas Mitras, havemos de visitar-vos, se Deus nos dér vida e saude, ás vossas proprias parochias para vos conhecermos e abençoarmos». (Provisão, pp. 14-15).

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De acordo com o seu melhor biógrafo, Revdº Pe. A. Jesus Ramos (O Bispo de Coimbra D. Manuel Correia de Bastos Pina, Coimbra, Gráfica de Coimbra, 1995), que aqui seguimos, D. Manuel de Bastos Pina deslocou-se, em visita pastoral, a Leiria, entre 1 e 19 de novembro de 1882. Tenha-se presente que Leiria não conhecia uma visitação episcopal desde a morte do seu último bispo residencial, D. Joaquim Pereira Ferraz, falecido em 1873. Os leirienses católicos viviam momentos de compreensível e «profundíssimo desgosto» pela supressão da sua diocese. A vinda do prelado conimbricense à cidade do Lis, todavia, contribuiu para um geral levantamento do fervor religioso entre a população.

Para além da paróquia de Nossa Senhora da Assunção, da Sé, o novo bispo dos leirienses, onde celebrou missa, pregou e crismou, D. Manuel de Bastos Pina deslocou-se, ainda, às igrejas paroquiais de S. Tiago, dos Marrazes (Arrabalde da Ponte), de Nossa Senhora do Desterro, dos Pousos, de S. Sebastião, de Regueira de Pontes, e de Nossa Senhora da Gaiola, das Cortes. Dessa sua jornada deixou uma crónica o Pe. António Ferreira Louro, publicada em Instituições Christãs (1/1, 1883). A receção do prelado, nestas paróquias, foi muito, muito entusiástica, tendo sido recebido festivamente pelas irmandades e pelos fiéis, que preenchiam completamente os templos. Na cidade de Leiria, visitou a cadeia, dando esmola aos presos, o mesmo tendo feito no hospital, visitando, também, particularmente, alguns enfermos pobres. Chegou a crismar, por dia, mais de um milhar de fiéis. Só em Regueira de Pontes, esse número atingiu os 1600 crismados.

O novo prelado voltaria a Leiria na Páscoa de 1883, entre 7 e 15 de abril, agindo, então, no sentido de resolver problemas de gestão da catedral e do seminário. Estes tinham passado para Coimbra, mas os seus rendimentos haviam sido adjudicados ao Patriarcado de Lisboa. A «enorme Sé de Leiria» estava «sem um real para prover à sua conservação e limpeza, e aos guizamentos necessários para o culto divino.» Era impraticável celebrar nela, com o decoro e solenidades próprias, as cerimónias litúrgicas, em especial as da Semana Santa e da Páscoa. Cumpriria ao governo da Nação a resolução de tão triste situação, o que parece ter-se conseguido pela Lei de 6 de março de 1884, que adjudicava à paróquia da Sé de Leiria os bens mobiliários da fábrica da extinta catedral; a 29 de maio seguinte, o governo determinava que os rendimentos do antigo seminário leiriense fossem adjudicados ao seminário de Coimbra, mas com a condição de serem avocados ao sustento dos seminaristas originários de Leiria que nele estivessem ou viessem a cursar.

No mês de novembro de 1884, D. Manuel de Bastos Pina visitou as paróquias de Nossa Senhora dos Milagres, dos Milagres, de Nossa Senhora da Piedade, de Monte Redondo, de S. Miguel, do Coimbrão, de Nossa Senhora da Luz, da Maceira, de S. Cristóvão, da Caranguejeira, de S. Miguel, das Colmeias, e de Nossa Senhora do Rosário, da Marinha Grande. Em dezembro de 1886, passaria uma semana na cidade de Leiria. Dois anos depois, também em dezembro, visitaria as paróquias de S. Salvador, do Souto, e de S. João Batista, de Monte Real. Anos depois, em janeiro de 1898, deslocar-se-ia a Leiria, a fim de participar na homenagem que a cidade então promoveu ao heroico Oficial Mouzinho de Albuquerque (Batalha, Quinta da Várzea, 11.11.1855 – Lisboa, 8.01.1902).

Nunca o Bispo Conde obstaculizou os movimentos populares e clericais leirienses para a restauração da diocese suprimida, os quais aumentaram de tom a partir de 1903. No ano seguinte, os leirienses pediriam ao rei D. Carlos a restauração da sua diocese, fazendo chegar ao governo, a 17 de março de 1904, uma significativa representação nesse sentido (Revista Catholica, 14 (1904) e jornal A Palavra, de 26.04.1904).

Saul António Gomes


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