Logo depois das primeiras aparições de Nossa Senhora na Cova da Iria, o sítio exato onde estava a pequena azinheira era ornamentado com flores e fitas…
Antes da última aparição, a 13 de outubro de 1917, foi edificado um arco rústico, descrito pelo padre José Ferreira de Lacerda, após visita à Cova da Iria, a 19 de outubro de 1917: “tosco arco coberto de murta e encimado por uma cruz, o resto do tronco e as flores murchas, que estavam sobre uma espécie de altar, formado de pedras”. Na noite de 22 para 23 do mesmo mês, tudo foi arrancado e levado para Santarém: “uma mesa sobre a qual alguns crentes haviam armado um modesto altar, onde foi encontrada a fotografia de uma imagem religiosa (Nossa Senhora), um arco que a encimava, feito de rama de murta, duas lanternas de folha, duas cruzes, sendo uma de madeira e outra de cana, envolta em papéis de seda”. A 8 de dezembro de 1917, havia no sítio da azinheira apenas um mastro e, junto dele, “um caixote onde se metiam as esmolas e que tinha umas velas pegadas em cima”.
A pedido de uma comissão de paroquianos, o pároco de Fátima, em carta de 8 de janeiro de 1918 ao cardeal-patriarca de Lisboa, propunha a construção de uma capela no local das aparições. José Pereira Novo, proprietário do lugar da Torre, Reguengo do Fetal, que visitara a 13 de fevereiro de 1919 o local, onde conversara com Maria Carreira, que tomava conta das esmolas, escreveu ao pároco, a 29 de março seguinte, apelando a que promovesse a construção da capela. De facto, o pároco, no ofício de 28 de abril de 1919, ao arcebispo de Mitilene, com que enviava o processo paroquial, informava que, naquele mesmo dia, “foi dado princípio a um pequeno oratório, no local”. Ficou concluído a 15 de junho do mesmo ano e nele foi entronizada a imagem de Nossa Senhora de Fátima, a 13 de junho de 1920. A primeira missa campal foi celebrada a 13 de outubro de 1921 (na foto).
Esta capelinha foi dinamitada na madrugada de 6 de março de 1922 e reconstruída entre 13 de novembro de 1922 e 13 de janeiro de 1923. Pela primeira vez se celebrou Missa dentro dela a 13 de janeiro de 1924. Além da Missa e Comunhão aos peregrinos, nos dias de maior afluência, os outros atos continuavam a celebrar-se na igreja paroquial de Fátima, cujo pároco era, para todos os efeitos, o responsável pelos atos religiosos na Cova da Iria.
A partir de Julho de 1926, iniciou-se a construção de uma via-sacra, ao longo da estrada que vai do Reguengo do Fetal à Cova da Iria, constituída por cruzeiros de pedra, oferecidos por pessoas particulares e por vários lugares e outras entidades. Foram inaugurados a 26 de junho de 1927, pelo Bispo de Leiria, numa caminhada que contou com a participação de muitas pessoas e alguns párocos, desde as 08h00 às 14h00, terminando com a Missa na Capelinha. D. José fez uma alocução junto de cada cruzeiro e, durante a Missa, rezou o terço com os peregrinos, exortando-os à penitência e à santificação das festas e peregrinações. Comungaram cerca de 400 pessoas. Foi este o primeiro ato oficial a que presidiu o Bispo de Leiria na Cova da Iria.
A 13 de julho de 1927, talvez motivado pelo que observou naquela primeira celebração a que presidiu e também “atendendo aos pedidos instantes que não só os devotos de toda a parte de Portugal como os trabalhadores que trabalham nas obras e a nova povoação da Cova da Iria têm feito”, o Bispo cria uma capelania permanente no Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima e autorizada a conservação permanente do Santíssimo Sacramento no local. Nomeia capelão o padre Manuel de Sousa, que passa a celebrar Missa diária “pelas necessidades espirituais e temporais recomendadas a este Santuário e pelos doentinhos”. Além disso, atende e confessa os fiéis que o procuram, promove a oração do diária do Terço, toma conta das esmolas e dos ex-votos dos peregrinos, assegura os meios para que nada falte no local e assume-se como “mestre de obras” junto dos operários e outros encarregados.
Estas funções da capelania passam a ser assumidas, a 29 de setembro de 1937, pelo padre Amílcar Martins Fontes, que fora ordenado presbítero, precisamente, na Cova da Iria em 1934. Foi ele que instalou ali serviços como energia elétrica, correio, telégrafo, telefone, abastecimento de água, etc.
Apesar de desde sempre ser usual chamar “reitor” ao capelão, a reitoria é criada apenas em 1941, mantendo-se o padre Amílcar na função. E então que o Santuário fica definitivamente isento da jurisdição da paróquia de Fátima.
P. Luciano Cristino
(adaptado de “Capelania”, in Enciclopédia de Fátima, 2.º ed., Principia, 2009)
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