A 5 de fevereiro de 1921, seis meses depois de entrar em Leiria como bispo, D. José Alves Correia da Silva nomeia como Procurador da Diocese o padre Manuel Pereira da Silva. E vários outros cargos viria a desempenhar este distinto sacerdote leiriense, nascido no lugar da Serra de Porto d’Urso, paróquia de Monte Real, a 30 de agosto de 1876.
Ordenado a 22 de janeiro de 1899, depois dos estudos preparatórios no Seminário de Leiria e teológicos em Coimbra, era “como um monge do séc. III ou do último quartel deste séc. XX, letrado, perspicaz, chistoso, prontíssimo nas suas respostas graciosas a que não havia nada a opor ou a acrescentar e capazes de desconcertar o mais finório que aparecesse”. Assim o descreve o padre José Carreira, na sua obra sobre o clero de Leiria.
A sua inteligência e capacidade pastoral levaram a que desempenhasse diversos cargos, como o referido de procurador, uma espécie de representante oficial do Bispo e da Diocese para os assuntos administrativos e relações com o Estado. Desempenhou esta função até dezembro de 1935, altura em que foi nomeado secretário da Câmara Eclesiástica, sucedendo ao cónego Manuel Góis, de quem falámos no artigo n.º 16.
A vida do padre Manuel Pereira da Silva ficou também intimamente ligada à imprensa, tendo sido o fundador do primeiro semanário católico de Leiria, o “Echos do Liz”, a 1 de janeiro de 1907, que manteve por dois anos.
Viria também a integrar a equipa redatorial que deu início a “O Mensageiro”, em 1914, com os padres José Ferreira de Lacerda e Júlio Pereira Roque, sendo colaborador assíduo da publicação durante muitos anos. Inclusivamente, foi ele quem assumiu a direção provisória do jornal entre maio e outubro de 1917, enquanto o padre Lacerda desempenhava funções de capelão militar na I Grande Guerra, na frente de batalha da Flandres.
Em outubro de 1922, com a fundação do jornal “A Voz da Fátima”, assume o cargo de administrador desta publicação. Virá também a ser nomeado administrador do “Boletim da Diocese de Leiria”, o órgão oficial criado pelo Bispo em janeiro de 1924 e que se editou até 1936. Por estes anos, passa também a colaborar regularmente com o semanário diocesano “A Voz do Domingo”, fundado em março de 1933.
O Santuário de Fátima é outra ligação indelével na vida do padre Manuel. Será ele o primeiro a presidir a uma Missa campal na Cova da Iria, a 13 de outubro de 1921. Aliás, era um dos poucos padres que estava entre a multidão nas aparições de 13 de setembro e 13 de outubro de 1917, como se pode ler na sua campa tumular, no Cemitério da Fátima. Foi viver para o Santuário em 1939, foi aí que festejou as suas bodas de ouro sacerdotais, em 1949, e foi aí que faleceu, vítima de congestão cerebral, a 15 de fevereiro de 1951.
Resta dizer que foi, ainda, por algum tempo, pároco de Monte Redondo e da Vieira de Leiria, bem como, por muitos anos, capelão do Souto da Carpalhosa.
Lendo este currículo, dificilmente se imagina que este sacerdote tinha um problema de gaguez que o limitava na expressão oral. Ainda assim, “dava gosto escutá-lo”, diz o padre José Carreira. E “A Voz do Domingo” de 25-02-1951, na notícia sobre a sua morte, lembra que era “conhecido de muita gente do país e do estrangeiro” e muito querido “pelo encanto do trato, pela alegria comunicativa e sã, pela sua conversa espirituosa, e enriquecida de anedotas que contava com inigualável graça”.
Luís Miguel Ferraz
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