Após a restauração da Diocese, foi nomeado secretário da Câmara Eclesiástica o padre Manuel do Carmo Góis, funções em que prestou relevantes serviços ao longo de 17 anos.
Nascido na Eira Velha, paróquia das Colmeias, a 7 de dezembro de 1888, Manuel Góis foi aluno do último curso do ciclo preparatório no Seminário de Leiria, junto a Santo Agostinho. Dali transitou para o Seminário de Coimbra, tendo sido também o último aluno de Leiria a fazer ali a Teologia. Completou o curso aos 19 anos, antes da idade canónica mínima para ser admitido às Ordens, pelo que, dadas as suas invulgares qualidades, assumiu o encargo de acompanhar disciplinarmente os alunos mais novos e de os apoiar nos estudos.
Foi ordenado a 6 de agosto de 1911 e, no ano seguinte, o bispo de Coimbra nomeia-o pároco da Marinha Grande. Quando se dirigiu àquela paróquia, viajando de comboio, para tomar posse do cargo para que fora designado, foi surpreendido, ao chegar à estação, por alguns populares que o aguardavam para o dissuadir a ficar. Esclarecido sobre as suas intenções e sem oferecer qualquer resistência, limitou-se a aguardar a chegada do comboio que, vindo de Lisboa, o havia de reconduzir a Leiria.
Tendo chegado ao bispado de Coimbra a informação dos factos ocorridos, não tardou que o padre Góis fosse nomeado pároco da Barreira, onde foi bem acolhido e onde trabalhou ao longo de 23 anos. Ali se distinguiu pela promoção da vida de piedade dos fiéis, sobretudo através do movimento da Acção Católica, que muito apreciava. Segundo “A Voz do Domingo” (03-10-1971), “durante a sua paroquialidade, teve a alegria de ver subir ao altar vários sacerdotes da freguesia e muitas raparigas abraçaram a vida religiosa. Fazia gosto em tomar parte numa festa ou numa reunião de piedade, como por exemplo na Primeira Sexta-Feira. Em parte alguma, os fiéis tomavam parte activa no canto, como na Barreira. De pequeninos aprendiam a confessar-se bem e por isso o trabalho rendia no ministério do confessionário”. De sublinhar que, durantes os mesmos anos, acumulou funções de capelão em Santa Eufémia.
Além da pastoral paroquial, assumiu a função de secretário da Câmara Eclesiástica, logo após a restauração da Diocese, tendo sido também o primeiro vice-reitor do Seminário de Leiria, onde lecionava.
Em 1935, deixa as funções que exerce e toma posse como pároco de Monte Redondo, que serviu também com total dedicação, quase até à data da morte. Ao longo dos 36 anos em que serviu esta paróquia, de novo foram muitos os jovens que acompanhou no discernimento vocacional e encaminhou para o Seminário. Muitos foram também os padres que, após a ordenação, tiveram o privilégio de usufruir da sua vasta experiência pastoral, antes de assumirem plenas responsabilidades pastorais. “Não seria fácil topar com penitentes mais bem formados que em Monte Redondo e Barreira”, comenta o padre José Carreira, na sua obra sobre o clero de Leiria. Além deste reconhecido zelo pela vida de piedade, a ele se deve a construção da residência e salão paroquiais de Monte Redondo, bem como assinaláveis melhoramentos na igreja matriz.
A 5 de dezembro de 1958, D. João Pereira Venâncio, após a tomada de posse como Bispo Residencial de Leiria, agraciou o seu muito estimado pároco com o título de Cónego Honorário da Sé de Leiria. A 10 de abril de 1965, foi nomeado vigário da vara da vigararia de Monte Real.
Como os problemas de saúde e outros dissabores começaram a dificultar a sua ação, pediu exoneração e retirou-se para a casa de familiares, na Gândara dos Olivais, em março de 1971, vindo a falecer a 26 de setembro desse ano.
Segundo o artigo publicado sobre a sua morte, o jornal “A Voz do Domingo” refere que “teve-o como um dos seus grandes amigos e foi ele quem, com o nosso Director e com o Sr. Pe. Silva que Deus haja, pela primeira vez falou ao Senhor D. José na conveniência de se fundar um semanário católico na Diocese”.
Luís Miguel Ferraz
Fontes: Trindade, P. João Vieira, trabalho inédito de recolha biográfica do clero de Leiria;
Carreira, P. José, “O Clero da Diocese de Leiria e o seu Passado”, 1984.
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