Foi no dia 5 de agosto de 1920 que D. José Alves Correia da Silva entrou em Leiria. Na sua edição de 13 de agosto (com uma tiragem de 1600 exemplares), “O Mensageiro” titula: “Viva a Diocese de Leiria”.
E continua num artigo assinado pelos padres José Ferreira de Lacerda e Júlio Pereira Roque (Jupero): “é o grito que nos interrompe da alma, ante a apoteose que revestiu a solene Recepção feita ao nosso Prelado no dia memorável de cinco do corrente. Leiria, a cidade hospitaleira e fidalga dignificou-se recebendo com as maiores galas e o calor do seu entusiasmo o ilustre Antistite, numa empolgante manifestação de carinho que é difícil de traduzir em termos que exprimam toda a verdade. E nós que lutamos largos anos pela conquista desta regalia a qual constituiu o anhêlo ardente do nosso espírito obsidiado por este ideal, hoje consoladora realidade, sentimos, como ninguém, o orgulho da nossa vitória, a alegria pelo grande triunfo, a satisfação máxima a que pode aspirar a nossa alma sedenta de verdade e justiça”.
Nesse dia, de manhã cedo, um comboio partiu de Leiria com ilustres leirienses e com pequenas paragens em Monte Real e Monte Redondo, chegando a Alfarelos momentos antes da chegada do comboio que vinha de Lisboa com o novo Bispo de Leiria. Depois dos cumprimentos, seguiu-se um almoço em que participou. Saindo da Alfarelos pelas 12h50, o comboio chegou a Leiria pelas 14h14. “O Mensageiro” relata que foi “impossível descrever o entusiasmo que se apoderou dos milhares de pessoas que aguardavam a chegada do comboio. Os vivas são ininterruptos, a musica dos Marrazes faz ouvir o hino do Prelado (da autoria de José Zúquete), os foguetes estalejam, de todos os lugares donde se possa ver o novo Bispo se comprime a multidão. Carros, automóveis, camions, charretes, enfim todos os meios de locomoção são utilizados e é com grande dificuldade que se consegue por em marcha” de automóvel para a Igreja do Espírito Santo, onde à entrada é lida pelo Juiz da Irmandade do Santíssimo Sacramento uma saudação.
Saindo da Igreja do Espírito Santo, o Prelado tomou lugar no automóvel conduzido pelo Dr. Oriol Pena e é com dificuldade que, “por meio de manifestações e entusiastas e por entre prédios de onde das janelas pendem ricas colgaduras”, se deslocam para o largo da Sé. Na igreja da sacristia, o Prelado paramenta-se e organiza-se um cortejo religioso com a Irmandade do Santíssimo Sacramento, com crianças da catequese, clero e grande multidão, pegando nas varas do pálio, debaixo do qual seguia o novo Prelado, algumas individualidades mais importantes de Leiria, como o visconde de S. Sebastião, visconde da Barreira, Joaquim Xavier Oriol Pena, barão de Alvaiázere, José Rito, José Rino, João Curado, etc. À entrada na Sé, ouve-se o “Ecce Sacerdos”, “caindo continuamente flores sobre a multidão do teto da catedral. Cumprindo-se as formalidades do ritual é entoado à entrada o ‘Te-Deum’. A ornamentação da Sé era surpreendente pelas ricas colgaduras artisticamente dispostas, escudos dos concelhos da Diocese, flores e arbustos”. Rezadas as orações do ritual e lançada a bênção, o Prelado retirou-se para a cadeira episcopal, dando a seguir o anel a beijar durante mais de três horas, “ficando ainda milhares de pessoas sem realizar os seus desejos”.
O Bispo desloca-se pela Rua Direita para o Terreiro, sempre aclamado pela população, indo para o Paço Episcopal (na casa que foi, até recentemente, a Pousada da Juventude), de onde assomou a uma janela, agradecendo.
No dia seguinte, José Rito oferece, na sua Quinta do Amparo, um lauto banquete em homenagem do novo Bispo, servido pela Pastelaria Marques de Lisboa, onde participam algumas das personalidades que mais lutaram pela restauração da diocese.
Ricardo Charters d’Azevedo
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